História dos Estados Unidos / Tempo Amazônico / 2016
O dossiê presente nesta edição da Revista Tempo Amazônico traz como tema central a história dos EUA, área de investigação que até bem pouco tempo não despertava maior interesse por parte dos pesquisadores brasileiros. As relevantes investidas pioneiras de Gerson Moura, Celso Furtado e, mais recentemente, de Antonio Pedro Tota buscavam abordar as questões estadunidenses através da discussão sobre política externa e imperialismo, permanecendo praticamente isoladas no conjunto de referências sobre o tema. 1 O interesse pelo estudo de questões internas, particulares à sociedade norte-americana era ainda esparso e dificultado em virtude da escassez de publicações traduzidas no Brasil. Um balanço e um apanhado geral sobre os trabalhos, teses e dissertações produzidos sobre história dos EUA no Brasil pode ser encontrado no capítulo de Cecília Azevedo, escrito para o livro “História das Américas: novas perspectivas”.2
O dossiê a seguir é resultado justamente do esforço coletivo de alguns jovens pesquisadores em estreitar essa lacuna na historiografia brasileira. O trabalho em conjunto com profissionais mais experientes, dentre as quais as professoras Cecília Azevedo e Mary Anne Junqueira, permitiu a formação nos últimos 10 anos de um grupo de pesquisadores voltado para o estudo da história dos EUA, dedicando-se a investigar os mais diversos campos e espaços da sociedade norte-americana sob enfoques e escopos teóricos igualmente variados.
O adensamento das pesquisas levou a um processo gradativo de articulação intelectual e acadêmica, possibilitando a organização de simpósios temáticos na ANPUH-Nacional, posteriormente em algumas seções regionais. 3 Afora os encontros nos simpósios da ANPUH, foi criado ainda um outro espaço para debates e trocas, o ENEUA – Encontro nacional de história dos EUA. Esse espaço permitiu não apenas um diálogo constante entre os pesquisadores de história dos EUA, mas também difundir entre colegas, estudantes de graduação e pós-graduação as novas produções em torno do tema, contribuindo para estimular potenciais interesses pela área. O ENEUA começou pequeno, uma investida despretenciosa, experimental. Em sua primeira edição, realizada no Rio de Janeiro em 2013, contamos com mais de 60 inscritos, superando as expectativas dos organizadores. De lá pra cá, o ENEUA cresceu, passou de um evento “artesanal”, como gostamos carinhosamente de chamar, para algo maior e mais consolidado, agregando novos professores e estudantes, vindos de diferentes universidades do Brasil. Os textos que integram esse dossiê são apenas uma amostra do que vêm sendo realizado por alguns desses novos pesquisadores de história dos EUA.
O texto de abertura, “The Americas: Making Historiographical Connections”, com tradução para o português 4, do renomado historiador norte-americano Thomas Bender, professor emérito da Universidade de Nova Iorque, lança luzes sobre as principais correntes e abordagens historiográficas sobre a história dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Cecília Azevedo, em “Forrest Gump”: Uma Poesia Conservadora”, analisa o filme “Forrest Gump” considerando sua produção no contexto dos acalorados embates políticos da primeira metade dos anos 1990 nos EUA. A autora recupera as apropriações do filme por lideranças do Partido Republicano e pela mídia conservadora, apontando como o filme contribuiu para uma releitura dos movimentos políticos das décadas de 60 e 70 e da representação da identidade americana em sua relação com os elementos raça, gênero e sexualidade. Em “O Liberalismo Democrata nas falas de Barack Obama: Os Ideais Fundadores dos Estados Unidos (2004 – 2010)”, Bárbara Mitchell analisa os discursos do ex-presidente norte-americano Barack Obama, entre os anos de 2004 e 2010, enfocando a influência de elementos liberais democratas para a construção de suas falas, ao incorporar alguns dos ideias dos Pais Fundadores dos Estados Unidos. Carlos Vinicius Silva dos Santos, no artigo “O Movimento Estudantil Americano no Cinema: “Zabriskie Point” (1970)”, examina a representação do movimento estudantil nos Estados Unidos do final da década de 1960 através do filme Zabriskie Point, período marcado por fortes contestações políticas e questionamento sociais. Tendo como objeto outra importante obra fílmica sobre os anos 1960, Mississipi em Chamas, Michael Gomes da Rocha analisa a representação da cidadania e das questões raciais daquele período à luz da ascensão da agenda neoconservadora nos Estados Unidos nos anos 1980. Em “We are the Aint’s no more!”: o papel do esporte na construção de uma narrativa redentora para a tragédia do furacão Katrina em Nova Orleans”, Tais Brito, apresenta como estudo de caso as diferentes interpretações estabelecidas pela imprensa sobre a relação entre a tragédia causada pelo furacão Katrina, na cidade de Nova Orleans, e a maior conquista do time de futebol americano da cidade, o New Orleans Saints, examinando o papel do esporte dentro das configurações sociais, econômicas e culturais norte-americanas.
Sendo assim, esperamos que os instigantes trabalhos publicados no presente dossiê possam estimular novas pesquisas sobre a História dos Estados Unidos que, para o bem ou para o mal, se entrelaça, direta e / ou indiretamente, à História de diferentes povos e culturas na contemporaneidade.
Boa leitura!
Alexandre G. da Cruz Alves Junior (UNIFAP)
Tatiana Poggi (UFF)
ALVES JUNIOR, Alexandre G. da Cruz; POGGI, Tatiana. Apresentação. Tempo Amazônico, Macapá, v.3, n.2, 2016. Acessar publicação original [DR]