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História das Relações Internacionais | Historiae | 2020

Em tempos de uma pandemia em escala global, parece muito apropriado refletir sobre certos temas de uma forma mais ampla. Diante da escala da crise que enfrentamos, com os seus possíveis desdobramentos, se torna bastante claro que apenas soluções globais serão capazes de promover a reconstrução econômica e social tão necessária ao mundo pós-pandemia. Dessa forma, o olhar histórico sobre as relações internacionais pode oferecer insights bastante valiosos para que possamos perceber como as relações entre os países e os atores não-estatais moldaram soluções para os dilemas do seu tempo. Assim sendo, este dossiê pretende proporcionar este espaço de reflexão, através de artigos que trabalham com a análise internacional.

Se faz muito importante reafirmar a importância do estudo da História das Relações Internacionais no contexto do século 21. Quarenta anos atrás, a história política foi declarada ultrapassada e pouco relevante, especialmente no âmbito da academia europeia. Olhando com o distanciamento que apenas o tempo proporciona, a história política (diplomática) estava realmente fossilizada em comparação aos métodos mais dinâmicos de análise empregados pela história cultural / social. Assim sendo, essa crítica feita por outros setores da História, proporcionou uma reflexão importante sobre a renovação da História Política.

Diante do grande processo de renovação vivido pela história política e diplomática ao desde os anos 1980, ela se reapresenta como um campo de análise importante para a compreensão do passado e do presente. É esta renovação que pretendemos apresentar aqui neste dossiê. Temos aqui uma história política e diplomática que vai além das tradicionais narrativas, que se utiliza do aporte teórico proporcionado pelas ciências exatas e pelas ciências da natureza. Esta “nova história política”, tal como definida por François Dosse em 1988, absorveu as devidas críticas recebidas por outros setores das humanidades e se tornou novamente uma área indispensável dentro da historiografia.

As relações do Brasil com os países do Prata sempre são um tema de grande importância. O artigo de Helder da Silveira (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS), intitulado “Geopolítica e Disputa pela Supremacia na América do Sul: a Visão Militar Brasileira Acerca da Intervenção Diplomática do País na Guerra do Chaco (1932-1935), analisa a estratégia brasileira para a região. Helder nos proporciona um olhar muito pertinente sobre um tema clássico da política internacional brasileira, analisando as alternativas de projeção de poder do Brasil em um contexto internacional bastante complexo.

As novas possibilidades de abordagem da História das Relações Internacionais também se aplicam a um novo olhar sobre a diplomacia brasileira durante a República Velha. Este movimento fica bastante claro no artigo de Francisco das Neves Alves (Universidade Federal do Rio Grande – FURG), intitulado “A Ruptura Diplomática Brasil – Portugal e uma Tentativa de Reaproximação por Meio da Imprensa Literária: Oscar Leal e a Madrugada.” neste trabalho, o autor realizou uma análise diplomática por meio de fontes diversas, que oferecem uma perspectiva muito mais ampla do que os tradicionais acervos diplomáticos podem proporcionar.

A conexão entre históriae petróleo como um elemento de economia internacional jáé algo consolidado, especialmente na historiografia anglo-saxônica. Bruno Biasetto (York University, Canadá), com seu artigo intitulado “The oil industry in Brazil and Argentina: historiography and research possibilities in Latin American international relations / economic history” tenta promover um rescaldo historiográfico do tema na academia anglo-americana. Em um contexto em que atualmente se debate constantemente o sentido das estatais de petróleo na economia global, Bruno reavalia os clássicos deste tema. Esta análise aponta caminhos para futuros pesquisadores interessados em combinar Relações Internacionais e Economia.

Os organizadores desse dossiê acreditam que ele deve proporcionar espaços para estudos sobre temas recentes, com forte presença de um arcabouço teórico pertencente as Relações Internacionais. Além disso, existe atualmente uma maior aceitação daquilo que se convencionou chamar de uma “história do tempo presente”, quebrando com a antiga noção de que os acontecimentos podem ser analisados apenas após trinta anos ou mais. Nesse sentido, o artigo de Boris Zabolotsky (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS) intitulado “Do ‘Outro’ Lado do Ocidente: a Crise Ucraniana e a ‘Ameaça Russa’ nos Discursos da OTAN” traz uma análise importante sobre as questões estratégicas da Europa Oriental. Este artigo combina de forma muito precisa o arcabouço teórico da História e das Relações Internacionais, apresentando uma análise que diverge da convencional narrativa ocidental sobre a diplomacia russa contemporânea.

Em seu artigo intitulado “A II Guerra Mundial chega à América do Sul: a “Batalha do Rio da Prata” e as relações diplomáticas entre Brasil e o Uruguai (1939-1945)”, Rafael Nascimento (Universidade de Brasília – UnB) traz um novo olhar sobre as relações Brasil- Uruguai, tendo como pano de fundo o afundamento do encouraçado alemão Graf Spee em águas uruguaias no ano de 1941.O artigo traz consigo uma robustez documental analítica impressionante, e colabora para o entendimento do papel das relações Brasil- Uruguai.

Por fim, este dossiê apresenta sete artigos que refletem este espírito de renovação e experimentação. O artigo de Bruna Gorgen (PUCRS), intitulado “As Motivações da Política Externa Brasileira para a Negociação do Tratado de Cooperação Amazônica” apresenta um enlace muito interessante entre história ambiental e história diplomática. Dessa forma, o cruzamento entre a questão ambiental e diplomática oferece uma das possibilidades mais fascinantes em termos de análise histórica. E, levando em conta a importância que a diplomacia brasileira dos anos 1970 possui, esse encontro entre diplomacia, meio ambiente e regime civil-militar torna este artigo algo único em seu gênero no Brasil.

Bruno Biasetto – Professor Doutor (York University)

Fernando Comiran – Professor Doutor (FURG)

Organizadores


BIASETTO, Bruno; COMIRAN, Fernando. Apresentação. Historiae, Rio Grande- RS, v. 11, n. 2, 2020. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Itamar Freitas

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