História da solidão e dos solitários | Georges Minois

A partir da segunda década do século XXI, o “problema” da solidão se manifestou como uma pauta política em diferentes países. A historiadora cultural Fay Bond Alberti (2019), no recente A Biography of Loneliness, afirmou que, para a Inglaterra ter estabelecido um Ministério da Solidão em 2018, é porque esse sentimento, de fato, está cada vez mais associado a malefícios sociais como depressão, abandono e suicídios, um mal “epidêmico”. No Reino Unido e Japão – esse último, lar dos hikikomoris e do kodokushi, respectivamente jovens adultos isolados e a morte solitária de idosos –, a maioria dos questionados em uma pesquisa da Kaiser Family Foundation (2018) consideraram-na mesmo um problema de saúde pública. O próprio trabalho de um historiador exige, voluntariamente, uma incursão reflexiva quando se debruça em livros e documentos, em seus momentos de leitura e escrita. É – pode-se concluir – um ofício cujos períodos de solidão são inerentes e essenciais, sem o qual nada se realiza.

Nos domínios da história cultural e das mentalidades, o historiador francês Georges Minois, ele próprio animado por uma “paixão pela vida solitária”, como relata na introdução, tornou esse sentimento e comportamento seu principal objeto de estudo na obra História da solidão e dos solitários, publicada originalmente em 2013 pela editora francesa Fayard e traduzida para o Brasil em 2019, pela Unesp. A primeira tradução brasileira de uma obra do autor ocorreu em 2003, com História do riso e do escárnio e, desde 2011, seus demais livros dedicados à história das mentalidades, muitos dos quais escritos no final dos anos 1990, estão sendo disponibilizados ao público brasileiro pela mesma editora, como História do ateísmo, traduzido em 2014, e História do suicídio, já em 2018.

Nascido em 1946 e natural da Normandia, Georges Minois foi aluno da Escola Normal Superior de Paris, instituição que também acolheu, ao longo do século XX, Marc Bloch, Jacques Le Goff e Paul Veyne, entre outros nomes. No entanto, diferente da maioria dos historiadores também consagrados no campo das mentalidades ocidentais, como Jean Delumeau (1923-2020) e Michel Vovelle (1933-2018), Minois não vinculou-se à docência especializada de uma universidade: foi professor de História no colégio Ernest Renan, em Saint-Brieuc, França, até se aposentar em 2007. A instituição é dedicada a alunos do ensino médio; poder-se-ia deduzir, desse modo, que tal posição proveu ao autor a liberdade necessária – e os momentos de solidão, idem – para movimentar-se de forma autônoma em diferentes leituras e temas de interesse concernentes à história, situação que se projeta em sua produção autoral diversa e seus objetos de pesquisa.

Sua crescente coletânea bibliográfica, iniciada em fins da década de 1980 e ativa até o presente, já conta com quase 50 obras, abrangendo biografias de personagens e de dinastias históricas, temas ligados à história da Igreja Católica e do pensamento religioso, e alguns já citados tópicos das mentalidades, em livros que imergem o leitor no campo histórico dos comportamentos e dos sentimentos no Ocidente. Em História da solidão dos solitários, sua principal tese centra-se em demonstrar o sentimento de solidão como um constructo histórico e social intrinsecamente relacionado aos sistemas culturais, políticos e econômicos de diferentes momentos do mundo ocidental.

Desde as décadas de 1960 e 1970, o estudo dos comportamentos, das mentalidades e dos imaginários perante uma variedade de temas outrora “desconhecidos ou raríssimos”, no dizer de Philippe Ariès (1990), despontou na historiografia, influência direta da escola dos Annales. Georges Minois apresenta-se como um escritor contemporâneo que revigora substancialmente essa abordagem historiográfica em uma prosa acessível; mais do que a história da solidão enquanto uma “representação mental” somente, o autor engaja- -se em uma narrativa própria e fluída, que extrai das fontes informações que comparam, discutem e articulam as relações entre as práticas sociais, os indivíduos e os discursos promovidos sobre a solidão, ao longo de 2.500 anos de história. Para abarcar uma delimitação temporal tão extensa em quase 500 páginas – exemplo de recorte longo que também caracteriza a abordagem das mentalidades –, os 11 capítulos componentes da obra foram cronológica e tematicamente distribuídos, iniciando nos mitos gregos e finalizando no papel das redes sociais no presente.

Nesta trajetória, voltada exclusivamente à história ocidental, Minois fez questão de demonstrar, em cada capítulo, a multiplicidade de olhares sobre a solidão e os solitários, dentro de repartições históricas cronologicamente dispostas. Perpassando da Grécia e Roma Antiga à Idade Média, Renascimento, Modernidade e mundo contemporâneo, com um agregado rico de fontes compostas por tratados, biografias, iconografias, romances, filosofias e diários íntimos – os solitários foram prolíficos na escrita, como o próprio autor assente –, os capítulos apresentam profundidade ao tratar da solidão em temáticas e espaços diversos, dentro de um mesmo período histórico. Longe de ser adepto de grandes generalizações, a narrativa e o método da obra mostram-se capazes de interpretar e compreender a simultaneidade de ângulos múltiplos sob os quais se viveu e se falou sobre a solidão, promovendo uma elucidação que associa os imaginários com as práticas individuais e coletivas (!) desse comportamento.

O ato de se isolar por vontade própria foi em geral visto com desconfianças ao longo da história, quando não intencionalmente relegado à categoria de punição. As fontes analisadas pelo autor que atestam a maleficência da solidão e do isolamento no mundo antigo vão dos escritos de Platão às obras de Sêneca, relevando também debates entre epicuristas e estoicos, a solidão nos mitos gregos, entre outros aspectos do mundo social e intelectual da Antiguidade. Na civilização greco-romana, desenvolvida ao redor de populosas cidades, festivais cívicos e religiosos, espetáculos e cultos públicos – atividades que determinam a sociabilidade como norma, portanto –, a solidão foi assimilada ao exílio de criminosos, aos cidadãos expulsos e carentes de direitos participativos da vida na polis grega e nos senados e mercados romanos.

É certo que a homogeneidade de visões sobre um comportamento que suscitou tantos debates como o ato de sentir-se solitário ou isolar-se voluntariamente nunca existiu. Dentre os romanos mais abastados, o otium, por exemplo, foi uma forma de retiro individual e privilegiado em casas campestres longe da urbanidade, muito bem considerado e incentivado, segundo lê-se nas cartas de Plínio. No entanto, foi através da sútil ascensão do Cristianismo nos territórios do Império Romano que se sedimentou uma das primeiras concepções positivas do ato de isolar-se, paradoxalmente associando-o à dor, ao sacrifício e à devoção religiosa.

Uma constante na obra de Georges Minois é o fato de o autor não desvencilhar as práticas e os imaginários sobre a solidão das estruturas sociais às quais se remetem historicamente. Assim, ao analisar o comportamento dos anacoretas cristãos que se isolavam nos desertos egípcios e da região síria durante os primeiros séculos do Cristianismo – tema de um capítulo próprio –, o autor interpreta o fenômeno como uma espécie de reação social às demandas impingidas por um Império Romano cada vez mais onipresente e decadente. O crescente autoritarismo da administração romana frente à uma população marginal e subjugada fez com os que desertos, local ambíguo nos relatos bíblicos, fossem ressignificados e virassem sinônimo de liberdade tanto para monges cristãos como para foragidos da justiça. Tendo como principal fonte a obra compilada nos séculos V e VI, as Vidas dos padres do deserto (cuja retomada no final da Idade Média produziu as inúmeras pinturas representando as tentações dos santos), Minois compreende que as vidas míticas e psicologicamente instáveis dos anacoretas foram, por meio de relatos hagiográficos posteriores, transformadas em façanhas espirituais contra as tentações do mal, a partir do martírio pessoal que visava imitar Cristo.

As convenções da solidão no seio da sociedade medieval, que são múltiplas e, na maioria das vezes, igualmente reprovadas pela Igreja Católica, são analisadas em concomitância à uma miríade de fontes e autores do período que se puseram a escrever sobre essa prática. Além disso, o autor faz sua sofisticada análise em espaços sociais variados: a solidão cenobítica e eremítica no interior dos monastérios, a solidão das mulheres jovens e viúvas e, também, a associação desse comportamento à acídia, um dos pecados capitais. Entre Bernardo de Claraval e Pedro Abelardo, autores rivais do século XII, havia em comum a hostilidade de ambos para com a solidão extrema; preferível era o retiro religioso de forma comunitária, como pregava São Bernardo em seus sermões. Santo Agostinho e São Bento de Núrsia também escreveram que, frente às tentações pecaminosas que a solidão poderia gerar, a vida comunitária nos monastérios teria primazia, vindo a modelar o monasticismo no Ocidente, a partir dos séculos VI e VII.

O gradual advento da modernidade pelo humanismo, a Renascença e a Reforma Protestante permitiriam ao autor um panorama contextual com as principais estruturas através das quais a solidão foi, lentamente, sendo promovida, em fins da Idade Média. A secularização da sociedade e as contestações ao papado, juntamente com fatores como guerras e revoltas civis, foram conjunturas históricas que incrustaram novos valores e visões sobre os solitários, especificamente entre os primeiros humanistas. Na obra Da vida solitária, escrita em 1346 por Francesco Petrarca, há, segundo o autor, a gênese de um pensamento que além de ter promovido a solidão individual, tornou-a desejável; surge, assim, a “solidão do sábio”, aquele que se isola para estudar, refletir e produzir, em seus gabinetes e durante caminhadas por paisagens rurais.

A expansão do comércio e as artes humanistas certamente privilegiaram a visão do indivíduo “dono de si mesmo”, não mais um marginalizado do corpo social – como o era na Idade Média –, mas um intelectual. A própria Reforma Protestante, que rompeu com a ideia de uma Igreja onipresente, favoreceu de forma eloquente o sentimento de solidão. As novas estruturas políticas – as centralizações monárquicas –, culturais – reformas religiosas e a crescente alfabetização da população – e econômicas – crescimento urbano e comércio marítimo – que geraram o individualismo são apontadas, pelo autor, como causas motrizes que ocasionaram a positivação da imagem do “homem só”, dono de seu próprio destino e de vida ativa, no despontar do período moderno.

Analisando a formalidade cerimoniosa da sociedade cortês nos séculos XVII e XVIII, à primeira vista pareceria ser um cenário histórico antagônico ao ato de isolar-se. De fato, o dever dos cortesãos dava-se na sociabilidade dos salões, no contato com outros aristocratas. Época de Luís XIV e do esplendor, a solidão e os solitários, curiosamente, não deixaram de fascinar. Após a análise da sociedade de corte, Minois enreda por caminhos outros que demonstram a característica dualidade da solidão, já vista em outros períodos históricos: os espaços na qual ela foi promovida e desfrutada, dentro de uma sociedade que parece, outra vez, abominá-la. Junto com outras fontes, é nas Memórias do duque de Saint-Simon e nos escritos do cardeal de Richelieu que o autor demonstra as principais críticas aos retiros voluntários de cortesãos sob jurisdição real que abandonavam seus cargos, e, por outro lado, é nos versos do poeta castelhano Luis de Góngora, ou na biografia de personagens como Maria de Gournay e Gabrielle Suchon, que o mesmo encontra visões positivas da solidão, ora associada à vida na natureza, ora à liberdade promovida pelo celibato, principalmente entre as mulheres, no entardecer do século XVII.

Com o iluminismo, a sociabilidade dava-se nas academias e nos clubes intelectuais, o solitário sendo comparado mesmo a um parasita, como retratado na Enciclopédia por Jaucourt. No capítulo consagrado ao século das luzes, novamente o autor não se limita a trazer informações advindas somente dos círculos intelectuais e seus imaginários (a despeito de tratar nomes como o efusivo Voltaire e Rousseau, esse último possivelmente um dos poucos dentre o mainstream iluminista a defender a solidão individual e reflexiva, à moda dos antigos humanistas), mas horizontaliza socialmente seu escopo de estudo, enriquecendo cada vez mais sua obra. Suscita no capítulo, por exemplo, discussões sobre o sentimento de solidão entre os idosos e as viúvas, a simultânea ascensão de asilos e hospícios durante o século XVIII – período em que os discursos médicos começam a tratar a solidão como causa de malefícios físicos e mentais –, as condições da sociabilidade e do isolamento feminino em diferentes extratos sociais, bem como as relações entre as práticas de leitura, as pinturas que retratam indivíduos leitores (na maioria das vezes, moças jovens e sozinhas portando livros), e o lento processo de promoção da vida privada, destacado pelo surgimento dos diários íntimos.

Esses últimos aspectos citados, em específicos, são elementos que evidenciam a gradativa concretização do mundo burguês e individualista na Europa. A história da solidão está, assim, intimamente ligada à história dos costumes e dos valores historicamente assentados. Não admira, desse modo, o autor reconhecer no longo século XIX o “século do homem só”, ladeado por duas frontes ideológicas que deram o principal contorno ao imaginário da solidão destes cem anos: o liberalismo individualista – mundo burguês do self made man – e o romantismo. Por um lado, as prédicas da liberdade individual e econômica, inerentes ao capitalismo, exaltaram a imagem do “solitário vencedor”, que elimina os rivais concorrentes. Por outro, a solidão é afamada como intrínseca ao pensamento dos românticos, ganhando ares de um comportamento político e psicológico: para se ser diferente, é preciso ser contestatário, logo, um solitário, no seio da sociedade industrial. Honoré de Balzac chegou a afirmar que, sem solidão, não há histórias de amor, e a espiritualidade irreligiosa com que Schopenhauer e Nietzsche trataram a solidão foi, segundo o autor, uma verdadeira reação em nome do indivíduo, diante da ameaça do coletivo na era das massas em ascensão no fim do século.

Era das massas, do consumismo e da tecnologia, a assídua análise crítica de Georges Minois sobre a experiência da solidão nos séculos XX e XXI exige uma atenção redobrada. Chega-se ao ponto em que, em um livro dedicado à história das mentalidades, o leitor da obra em pauta começa a se familiarizar com a sociedade e os costumes que são descritos, escrutinados e esmiuçados em detalhes, percebendo referências ora do mundo a seu redor, ora de seu próprio comportamento. O autor não perde a sutil ironia de sua narrativa, e aproxima-se brevemente ao sociólogo Zygmunt Bauman, ao analisar a sociedade contemporânea. Tal é o grande mérito dos últimos dois capítulos que encerram esse notável e competente estudo.

Para se ter, novamente, uma breve ideia da amplitude de visões e espaços nos quais o autor se arrisca para falar sobre a solidão e os solitários, fazendo jus à densidade e competência da obra, seu escopo analítico vai das pregações anti-individualistas de Benito Mussolini a poemas de Fernando Pessoa, poeta português que necessitava da vida solitária. Autores psicanalistas foram e são, por sua vez, férteis ao escrever obras tratando a solidão sob sentidos maléficos e benéficos. A literatura de Camus, Kafka, o ultraliberalismo de Milton Friedman e Ayn Rand, a filosofia existencialista entre Heidegger e Sartre, mesmo a obsessão de diretores como Ingmar Bergman com a solidão em muitos de seus filmes: tudo torna-se fonte histórica, retratos de uma época, elementos que fornecem leituras múltiplas sobre o exercício da vida solitária ao longo do tempo. Já tendo demonstrado, em outros capítulos, a horizontalidade com que aborda seu tema, mesmo discussões sobre as concepções médicas da dupla solidão-depressão são suscitadas pelo autor, em sincronia à ascensão do medicamento Prozac nos anos 1980.

Sociedade do consumo e dos “direitos sem deveres”, a solidão no século XX (e, também, no XXI) protagonizou, é certo, debates ainda indeterminados. Gilles Lipovetsky, filósofo francês, dá ao autor algumas constatações introdutórias e provocantes sobre o paradoxo entre a crescente liberalização de costumes e o gradativo aumento do sentimento de vazio no indivíduo, ou sobre o igualitarismo de direitos e a subsequente solidão individual. Para alguns leitores, poderá haver discordâncias em relação a certas considerações pessoais de Minois, principalmente pelo fato de ele estar escrevendo sobre a cena atual da sociedade, o que provoca uma profusão de opiniões dependendo das diretrizes ideológicas e morais do leitor. O autor não se confunde, contudo, com um moralista, e é inegável reconhecer a versatilidade do mesmo ao tecer suas conclusões de historiador em diálogo com filósofos, sociólogos e psicanalistas renomados (Freud e a questão do ego têm uma subseção própria detalhada), engendrando uma leitura histórica e sociologicamente embasada dos movimentos coletivistas e individualistas que despontaram na segunda metade do século XX, pouco antes do surgimento e difusão da Internet.

Com ela e com o advento do segundo milênio, ocorre a patologização da solidão. Em um mundo em que a felicidade individual é associada à liberdade, à independência e à extroversão do sucesso pessoal (exprimido na maioria das vezes através de mídias como o Facebook, citadas por Minois como plataformas responsáveis por promover a exibição do privado, daquilo que, no século XIX, restringia-se ao diário íntimo), as pressões sociais são, hoje, formidáveis em produzir a solidão negativa advinda do fracasso – amoroso, sexual, financeiro ou familiar –, principalmente em jovens que adentram o mercado de trabalho. A exuberância das redes sociais, a desintegração dos casamentos (atestada pelo número de divórcios), mesmo os aplicativos de encontros efêmeros, são elementos que denotam, ao autor, os aspectos de fragmentação da sociedade envolta pela cena (pós)moderna, e contribui para a áurea negativa que à solidão se sobrepôs. Curiosamente, o próprio ato rotineiro de usar o celular para “espantar a solidão” é questionado na obra, ao buscar fazer de ausências, supostas presenças.

Além do diálogo com obras sociológicas, como The Culture of Narcissism, do estudioso americano Christopher Lasch, e intercâmbios breves com autores do porte de Guy Debord e Ortega y Gasset, é também em dados estatísticos e censos patrocinados pelos governos, principalmente o francês, que o autor arquiteta suas argumentações sobre a atual situação da solidão. Indiscriminadamente, ela aflige de jovens a idosos em estatísticas significativas. Esse sentimento tem se tornado um fardo social. Associada a doenças e suicídios, em 2011, a luta contra a solidão tornou-se uma “causa nacional” na França. Porém, como uma prática tão expressiva na história, responsável por uma miríade de obras literárias e artísticas de indivíduos que a exerceram de forma inspiradora ou dolorosa (a solidão deu molde à grande parte das sinfonias de Beethoven, solitário por sua surdez, por exemplo), o autor conclui seu audacioso livro afirmando que devemos buscar preservá-la de forma responsável, frente a uma sociedade que busca apartá-la, sabendo que apreciar a solidão e sentir-se solitário são atitudes divergentes.

Ao realizar uma história da solidão e dos solitários no Ocidente, Georges Minois corporificou simultaneamente a historicidade de diversos costumes, comportamentos e discursos que foram construídos durante esse longo processo histórico. Ainda, o mérito da obra reside em apresentar e descrever não somente as “solidões” na história, mas, também, suas antagonistas: as variadas formas de sociabilidade e a natureza das relações sociais em diferentes períodos do passado e presente. Tarefa hercúlea e criteriosa, realizada com sensibilidade e maestria pelo historiador francês, História da solidão e dos solitários é uma obra decisiva para entender a variedade de olhares filosóficos, religiosos, populares, intelectuais, negativos ou laudatórios, que deram concretude às diferentes perspectivas ocidentais de se ver a solidão, um objeto humano, das mentalidades, dos imaginários e, consequentemente, um objeto de história.

Referências

ALBERTI, Fay Bound. A Biography of Loneliness: the history of an emotion. Oxford: Oxford University Press, 2019.

ARIÈS, Philippe. A história das mentalidades. In: LE GOFF, Jacques (org.). A História nova. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1990. p. 153-176.

KAISER FAMILY FOUNDATION. Loneliness and Social Isolation in the United States, the United Kingdom, and Japan: An International Survey. San Francisco, CA, 2018. E-book. Disponível em: http://files.kff.org/attachment/Report-Loneliness-and-Social-Isolation-in-the-United-States-the-United-Kingdom-and-Japan-An-International-Survey. Acesso em: 23 mar. 2020.

MINOIS, Georges. História da solidão e dos solitários. Tradução de Maria das Graças de Souza. São Paulo: Editora Unesp, 2019.


Resenhista

Igor de Mattia Buogo – Graduando em História pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).


Referências desta Resenha

MINOIS, Georges. História da solidão e dos solitários. Trad. Maria das Graças de Souza. São Paulo: Editora Unesp, 2019. Resenha de: BUOGO, Igor de Mattia. Solidão, objeto de história. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 13, n. 2, jul./dez. 2020. Acessar publicação original [DR]

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