Este volume 30 número 2, de História (São Paulo), publicado no segundo semestre de 2011, traz o dossiê sobre “a história da leitura e do livro”, artigos sobre temas variados e resenhas. Periódico sob a responsabilidade dos Cursos e da Pós-graduação em História, da Unesp, de Assis e de Franca, apresenta o conjunto de 18 textos e duas resenhas, de profissionais de várias unidades federativas do país – SC, MG, BA, CE, SE, MT, SP – e de Portugal, que debatem assuntos agrupados em torno do tema específico do dossiê ou aqueles de escolhas e de interesse pessoal do pesquisador.
Assim, a primeira parte da revista, apresenta o “Dossiê” que discute aspectos singulares da história da leitura e do livro, com foco em questões mais abrangentes relativas à leitura e sua utilização para produzir significados. Os intercâmbios intelectuais, com trocas de documentos, livros, opiniões e afetos, em diferenciados campos do conhecimento — entre filósofos, músicos e historiadores —, estimularam a produção desses protagonistas, além de propiciar a colaboração mútua entre uma rede de outros intelectuais, como fizeram Nietzsche e Wagner, cujo intercâmbio foi recuperado a partir das relações pessoais e afetivas em efusiva correspondência e, ainda, no deslindamento dos significados da leitura para Nietzsche e seus usos; Capistrano de Abreu e o português João Lúcio de Azevedo, dois “homens de letras” que participaram ativamente do campo intelectual, respectivamente, no Brasil e em Portugal, valendo-se da troca de correspondências. Completam essas reflexões, alguns textos que discutem os significados dos manuais didáticos como elementos destacados da cultura escolar, nas áreas de História e Direito. Para os autores, os manuais em tela podem ser lidos como representação de todo um modo de conceber e praticar o ensino e contribuíram para conformar a leitura e os impressos como ícones da cultura escolar. Essas discussões ampliam-se para questões relativas ao mercado editorial em Portugal e no Brasil, sua inversão e os desdobramentos daí decorrentes.
Ainda nesse dossiê, é possível destacar os textos de intelectuais, homens e mulheres, que usaram a imprensa para publicação de seus escritos, como Nísia Floresta, escritora que, em 1831, no jornal Espelho das Brasileiras, de Pernambuco, aborda a condição feminina e por isso é considerada precursora do feminismo no Brasil; Machado de Assis que publicou Contos fluminenses, sua primeira coletânea de contos, no Jornal das Famílias. Contar histórias e organizálas em livros ou em outros suportes como os jornais, tornou-se um caminho viável de discussão das principais questões para a formação da literatura nacional, da mesma forma que os jornais que se constituíram em meios de fomentação de ideias sobre a emancipação e a conquista de direitos às mulheres e de proselitismo sobre a questão republicana. O texto que encerra esse dossiê é exemplar, nesse sentido. O Mequetrefe que iniciou sua circulação no Rio de Janeiro em 1875 e manteve suas atividades até janeiro de 1893, discutiu, em sua trajetória, temas políticos, entre os quais a questão republicana com base em irreverentes ilustrações e em textos de opinião.
A sessão “Artigos” prossegue em seu empenho para disponibilizar ao leitor textos, com assuntos variados, que abordam aspectos teóricos do campo religioso do período do medievo, o significado histórico assumido por conflitos políticos e relações sociais decisivos para a constituição da Igreja romana e da Cristandade e, as contradições inerentes aos sentimentos religiosos dessa época, submetidos aos objetivos das políticas nacionais e mercantis da Era Moderna.
Além dos textos assinalados, a imigração, em espacialidades distintas, foi discutida, buscando recuperar as estratégias de cada país para transformar esse movimento em conquista de mercados, criação e fomento de colônias, incorporação e tutela das remessas dos emigrados. Mas, também do lado do país receptor de imigrantes, eles foram considerados elementos de modernização e desenvolvimento econômico.
Ainda no âmbito da modernização do país, pode-se acompanhar o debate sobre a agricultura moderna em São Paulo, suas técnicas e possibilidades de diversificação da agricultura, adubação química e natural, cultura intensiva do solo, mão de obra, povoamento e colonização, instalação de núcleos coloniais dentro dos moldes da moderna agricultura então desejada, instrução agrícola por meio de campos de experiências e demonstração, ensino agrícola para diferentes graus, a mecanização da lavoura, em contraposição às práticas agrícolas rotineiras.
Outro aspecto que se pode realçar é o debate sobre a demografia histórica no Brasil para o período 1970-1995 visando evidenciar a ampla abrangência, em termos sociais, econômicos e geográficos, dos estudos efetuados por pesquisadores da área em questão. O último texto dessa sessão discute a construção do conceito de cultura popular na produção do conhecimento histórico, cuja tendência é de se questionar as delimitações essencialistas que separam cultura popular e erudita (ou de elite) em compartimentos estanques.
Finalmente, duas resenhas encerram esse número. A primeira delas aborda pesquisa realizada sobre Brasília, recuperando o longo período no qual a capital brasileira foi projetada, desde a Nova Lisboa, que seria a sede do novo Reino Unido de uma corte no exílio, até Brasília de Juscelino Kubitschek, que surge do traço da arquitetura modernista diretamente para o planalto central. A segunda resenha aborda a cidade Luso-Brasileira na Literatura de Viagem (1783-1845), com entusiasta reflexão sobre este gênero, suas possibilidades e limites, tomando-se por base o livro analisado.
Assim, caro leitor, os textos são diversificados e, certamente, propiciarão leituras instigantes e desafiadoras em direção a novas reflexões. Isso é o que os editores ensejam a todos os interessados nos assuntos aqui discutidos.
Assis, 22 de novembro de 2011
Zélia Lopes da SILVA – UNESP- Campus de Assis / SP-Brasil
Marcia Pereira da SILVA – UNESP- Campus de Franca / SP-Brasil
Editores
SILVA, Márcia Pereira da; SILVA, Zélia Lopes da. Apresentação. História (São Paulo), Franca, v.30, n.2, 2011. Acessar publicação original [DR]
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