Mosaico: história, cultura e poder
Uma nova revista, dentre tantas, o que pode trazer de novo? Uma entre outras, mas que se arrisca a tentar formar um conjunto novo. Ou, assumindo-se a pretensão, redesenhar o quadro de uma historiografia aberta. A revista do Programa de Mestrado em História da UCG que ser um espaço amplo para a execução de mosaicos historiográficos.
Talvez apenas demonstrá-los. Desde há muito que a história deixou de ser pensada no singular. Não que algum dia o tenha sido realmente, mas assim acreditávamos. Depois se denominou aquilo que chamávamos História, com H maiúsculo, de “história historicizante”. Uma redundância, óbvio: um excesso para demonstrar uma carência. Contra tal pobreza (de espírito?), foi invocado pelos próprios historiadores, ao menos pelos bons, o imperativo da interdisciplinaridade.
Mas por que ele ainda parece nos desafiar? Será que após mais de um século de historiografia científica, ainda nos fazemos surdos perante as demais ciências? Ou tal deficiência seria congênita aos saberes de Clio? Se a resposta a essas questões mereceria um exame aprofundado que não cabe aqui, fiquemos com o diagnóstico: uma História pluralista, como a vida, permanece como um embate do presente.
A revista Mosaico, portanto, possibilita um campo para essa luta. Reúne a perspectiva histórica às noções englobantes de cultura e poder. Três conceitos indelimitáveis, ilocalizáveis, que beiram o indefinível. Por outro lado, interrelacionados em sua essência. Sempre que separados, o resultado obtido será um enfoque profundamente deficiente. Um está complementando o outro, remetendo para o outro sem perder sua especificidade.
Daí a idéia de uma história mosaical. Se o saber histórico visa a apreensão do particular, do específico, ele só é construído quando os articula numa dimensão geral. Os historiadores, destarte, configuram quadros onde diversos vestígios devem ganhar sentido. A caracterização de uma época não é mais importante que a de qualquer evento. Não estão correlacionados? Não há como hierarquizar. Todos compõem o âmbito da narrativa histórica.
Mas dentro dessa relativa indeterminação, cada partícula deve surgir em sua cor própria conformando o todo. Na trama dos eventos narrados, sua exposição explicativa. Sim, porque a narrativa não deixa de lado a capacidade explicativa; contribui dinamizando o enredo conceitual.
Destarte, a história mosaical encampada por esta revista se dá ao luxo de não optar por escolhas indiscerníveis. Rompendo com a lógica da exclusão, compreende que a riqueza do conjunto só existe na contribuição ressaltada de cada elemento.
Este número inaugural insere os seis primeiros artigos, com diversas abordagens metodológicas, no Dossiê História Cultural em Perspectiva. O primeiro, de Sandra Pesavento, trata da renovação da história urbana, desafiando a reflexão sobre as relações entre espaço, memória e discurso histórico. Já o segundo, escrito por Sérgio Coutinho, discute os novos modos de perceber os espaços individuais, a subjetividade exposta pelos diários e a intimidade de uma espiritualidade inconformada.
Segue o artigo de Eduardo Quadros, tratando da cartografia como fonte histórica, em especial a que retrata o continente latinoamericano. Ainda aprofundando o debate sobre a identidade das Américas, Werner Mackenbach aborda as representações literárias do mundo insular caribenho.
Finalizando o dossiê os dois últimos textos, tratam do topos cultural em duas áreas correlacionadas: a antropologia e a sociologia. Izabel de Mattos discute os impasses e as vias de diálogo com a história, partindo das recentes tendências da teoria antropológica. A ciência da cultura weberiana é o tema apresentado por Rodrigo Godoi, mostrando como o pensador alemão permanece atual perante os desafios epistêmicos das Ciências Humanas.
Em seguida, os artigos de Judy Bieber, “O sertão Mineiro como espaço político” e de Maria Cristina Rosas “México e Brasil: Buenos enemigos o amigos mortales?” na seção artigos de temas livres e, por última, a resenha do livro “História e Sensibilidades”, por Cléria Botelho.
O Programa de Mestrado em História da Universidade Católica de Goiás alegra-se em proporcionar esse novo espaço de debate. Que a singela complexidade de tantos mosaicos, figurativos e / ou textuais, encante a todos.
A Comissão Editorial
Comissão Editorial. Editorial. Revista Mosaico. Goiânia, v.1, n.1, jan. / jun., 2008. Acessar publicação original [DR]
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