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História Ambiental / Expedições / 2016

Por muito tempo a História foi vista como uma disciplina que enfocava os grande eventos e as correlações sociais, políticas e econômicas, sobrepujando outras categorias de análise. No entanto, desde a segunda metade do século XX e inicio do século XIX, tal premissa vem sendo ampliada e outras relações passaram a ser vistas como fundamentais para a compreensão da própria disciplina da História, intensificando a análise das relações dos seres humanos com meio ambiente.

Historicamente as alterações no meio natural são recorrentes em diferentes partes do mundo e os pesquisadores acreditam que tais mudanças resultam da atividade de um catalisador: os seres humanos. Desta forma, a História Ambiental vem analisando essas ocorrências, pois tais questões são latentes e afetam diretamente o meio ambiente, assim como os demais seres que fazem parte dos ecossistemas nele existentes.

O presente Dossiê: História Ambiental, da Revista Eletrônica Expedições: Teoria da História e Historiografia, traz sete textos que analisam a temática ambiental dentro da história, numa perspectiva inter / transdisciplinar.

O artigo de abertura é A busca de outros sertões, do pesquisador André Heráclio do Rêgo, mostra a expansão portuguesa dos séculos XV e XVI, e a busca por sertões, que foram mapeados por cronistas e exploradores. O autor aponta que uma geografia imaginária estava presente nos mapas contemporâneos a época estudada, possibilitou o encurtamento das distâncias entre o Brasil e o Peru (o que reforçaria os indícios da presença de metais preciosos em território brasileiro), ou entre a costa e a contra costa da África (o que tornaria mais fácil cumprir um dos principais anelos dos portugueses naquele continente: a travessia entre as costas atlântica e índica). Essa geografia imaginária, em que se destacavam alguns tópicos como a busca do preste João e do Paraíso terreal, a existência de riquezas imensas escondidas no sertão, tanto do continente africano quanto do americano, estendeu-se até bem entrado o século XVIII. Segundo Rêgo, foi neste período que a mesma começou a ser substituída por uma geografia iluminista, mais próxima da realidade e baseada em pressupostos mais científicos.

Já a pesquisadora argentina, Marina Miraglia, aborda as definições ao longo da história, dos conceitos de paisagem, espaço, lugar (entendido como um lugar ou cenário em que essas relações se materializam, colocando a ênfase no substrato físico-biológico em que ocorrem). No artigo El Territorio como Unidad de Análise em la Historia Ambiental y la Geografía Histórica a autora mostra que nas últimas décadas o conceito de território como unidade de análise processual é entendido como um sistema complexo, resultado da continuidade histórica e geográfica, onde a sociedade e o ambiente interagem uns com os outros ações cotidianas.

O artigo Devastação e Conservação no Bioma Cerrado: Duas Dinâmicas de Fronteira, de José Luiz de Andrade Franco, Roseli Senna Ganem e Cristiane Barreto aponta as dinâmicas opostas de devastação e conservação da natureza no bioma Cerrado. Descrevendo o processo de ocupação do território e os impactos crescentes da atividade antrópica. Os autores chamam a atenção para a urgência de políticas púbicas específicas e integradas capazes de conter a degradação dos ecossistemas nativos do Cerrado e visando promover a conservação efetiva de parcelas representativas de toda a sua biodiversidade.

O quarto artigo é A Região do Lagamar: fronteiras abertas para o re / ordenamento territorial, escrito por Alexandre Dullius e Maclovia Correia da Silva onde os autores discutem o “re / ordenamento territorial chamada Adaptação às Mudanças Climáticas baseadas em Ecossistemas (Abe)” observando detalhadamente a Região do Lagamar, parte da Mata Atlântica brasileira. No artigo seguinte, Miguel Mundstock Xavier de Caravalho, Bruno Griebler Provin e Renan Paganini Valentini escreveram Uma Leitura da Modernização da Suinocultura: história, agropecuária e bem-estar animal – Paraná, Brasil (1960-1980), os autores analisam as transformações da suinocultura no estado do Paraná, Brasil, nas décadas fundamentais do processo de modernização agropecuária (décadas de 1960 e 1970).

No artigo, são abordados os antecedentes, motivos, implantação e as características da modernização da suinocultura através do uso de literatura interdisciplinar e de fontes primárias como artigos de jornais, revistas de divulgação do setor, publicações técnicas, uma entrevista e censos agropecuários. Como conclusão os autores afirmam que as transformações ligadas à modernização da suinocultura estão relacionadas ao sofrimento e às alterações na qualidade de vida desses animais, questões usualmente negligenciadas nas análises históricas.

Na sequência, Jó Klanovicz apresenta a trajetória do viveirista francês Georges Delbard, que trabalhou diretamente na construção do estado de Santa Catarina, como espaço privilegiado para a implantação de projetos de fruticultura de clima temperado a partir dos anos 1960. Ao fornecer conhecimento técnico e mudas de frutíferas para a região, Delbard também influenciou profissionais envolvidos no projeto com sua concepção de natureza e de modernização da agricultura, dando legitimidade ao processo de transformação ambiental que a fruticultura de clima temperado ocasionou. Como fonte o autor utilizou de documentos técnicos que representam aspectos da fruticultura na região, bem como analisou a autobiografia de Delbard como texto ambiental.

Por fim, Ricardo Gomes Luiz e Maclovia Corrêa da Silva lançam mão da teoria da fronteira de Frederick Turner e território de diferença de Arturo Escobar para desenvolverem o artigo Remanescentes de Floresta com Araucária na Região Centro-Sul do Estado do Paraná e os Sentido de Fronteira, onde os autores analisam a convivência entre a expansão territorial, política e a conservação da Floresta com Araucária com ênfase especial para a erva-mate. Desta forma enceramos o dossiê e esperamos que os leitores possam fazer proveito todos os textos aqui apresentados.

Samira Peruchi Moretto – Doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC. Professora do Curso de História da Universidade Federal da Fronteira do Sul –UFFS. E-mail: samirapm@gmail.com

Eduardo Henrique Barbosa de Vasconcelos – Doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS. Professor do Curso de História da Universidade Estadual de Goiás. E-mail: eduardo.vasconcelos@ueg.br


MORETTO, Samira Peruchi; VASCONCELOS, Eduardo Henrique Barbosa de. História Ambiental. Revista Expedições, Morrinhos, v.7, n.1, 2016. Acessar publicação original. [DR].

Acessar dossiê

[DR]
Itamar Freitas

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