O presente número da revista Esboços é composto por artigos dos alunos da pós-graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina e pelo dossiê: História Ambiental. O conceito de Environmental History é uma produção dos Estados Unidos na década de 1970, quando um grupo de historiadores, entre outros cientistas, instigados pelos problemas ambientais contemporâneos, procurou produzir uma história em que o ambiente configurasse uma presença e um agente na história. Estudiosos do tema podem argumentar que o movimento francês dos Annales possui uma tradição já antiga de estudos que buscam entender a inter-relação do homem com a natureza ou ainda que mesmo no Brasil há autores que consideram o ambiente como presença e agente na história, a exemplo de Nordeste de Gilberto Freyre. Mas é inegável que as ciências sociais demoram em responder aos problemas ambientais por que passamos. Nos últimos 20 ou 30 anos, sociólogos e antropólogos voltaram os instrumentos de suas matrizes disciplinares para buscar compreender e contribuir nas soluções para os problemas sócio-ambientais atuais. A história talvez seja a disciplina mais em descompasso nesse caminho.
Se a cada geração cumpre escrever “sua história”, posto que parte dos problemas gerados pela sua época para fazer perguntas ao passado, é evidente o quanto nós historiadores estivemos surdos à problemática ambiental. Somos portadores de uma tradição antropocentrista que se faz necessário superar para instrumentar nosso olhar sobre o passado, diante do qual o ser humano não é tudo. Naturalmente, esse novo olhar pode nos auxiliar a traçar um novo futuro.
Neste dossiê, não pensamos História Ambiental como um modelo, um rótulo pronto, mas sim como um vaso a ser preenchido. Não apenas porque devemos considerar as especificidades sócio-ambientais do Brasil ou as idiossincrasias da tradição historiográfica brasileira, ao invés de importar modelos, mas porque a própria história é composta de diferentes paradigmas. Por isso reunimos análises com diferentes eixos teórico-metodológicos, nos instigantes estudos de Enrique Leff, José Maurício Mangueira Viana e Rosa Cristina Monteiro, Paulo Henrique Martinez, Gustavo Cimadevilla, também presentes nos trabalhos empíricos de Donald Worster (tradução) e Melissa Nicolini (tradução). Nem todos são historiadores. O que dá unidade ao conjunto é, talvez, uma concordância: a disciplina história deve dar respostas aos problemas ambientais contemporâneos e isso modifica a forma de olharmos as sociedades, mesmo antigas e remotas. Este fato chama a atenção para outro desafio que a história ambiental traz ao historiador: a interdisciplinaridade e/ou transdisciplinaridade. Afinal, as questões ambientais invariavelmente nos levam para as fronteiras das disciplinas, entre o social, o simbólico e o natural e apontam insuficiência das abordagens disciplinares.
Desta forma, dar uma resposta à questão ambiental leva os historiadores a repensar sua própria matriz disciplinar. Para ir além da dicotomia homem versus natureza e da fragmentação disciplinar.
Esperamos que o conjunto de investigações aqui reunido contribua para ampliar tal debate no Brasil. Deste modo a Revista Esboços estará cumprindo a sua intenção em delinear novas histórias. Como afirma E. P. Thompson, apesar de não ser inverídico, o conhecimento histórico é, pela sua natureza, seletivo, incompleto e provisório.
Ana Brancher
Ely Bergo de Carvalho
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