Em seu mais recente livro, Barry Eichengreen, historiador econômico reconhecido por todos, nos transporta aos eventos da crise financeira de 2008 e aos desdobramentos que a mesma teve para suas nações protagonistas. Estudioso da Grande Depressão de 1930, o autor parte em busca das lições que deveriam ter sido aprendidas com essa para evitar aquela que ele chama de Grande Recessão.
Para Eichengreen, as lições de 1930 ajudaram a que não se tivesse uma nova Grande Depressão mas os efeitos das medidas tomadas pelas autoridades no sentido de evitar tal catástrofe ainda não estão claras para todos. Assim, ao evitar uma nova depressão da magnitude dos anos 1930, os pensadores da economia mundial se abstiveram de realmente analisar todas as dimensões do ocorrido em 2008.
Não se trata de países mal geridos, governos imprudentes ou gastadores. Para Eichengreen, há mais a ser visto, estudado e pensado do que um caso isolado deste ou daquele país. Para que isso seja feito, não basta pensar que está-se no final da crise e, portanto, ela foi sanada. É impensável que não se faça uma crítica profunda aos motivos que levaram à sua erupção, em primeiro lugar.
A obra se estrutura em quatro partes, sendo que na primeira se descreve o contexto geral prévio à crise. Na segunda parte, Eichengreen busca os pontos em comum aos dois eventos. Assim, as bolhas especulativas que foram seus pontos de partida, e a avidez dos mercados financeiros por lucros crescentes em ambientes de risco também crescente são descritos e analisados em profundidade. As medidas tomadas pelas instituições e autoridades são esmiuçadas e analisadas de modo crítico. Adicionalmente aos atores do mundo das finanças, os atores políticos da Grande Recessão também são chamados a cena e responsabilizados pelas ações tomadas dos dois lados do Atlântico.
Por fim, as partes três e quatro se debruçam sobre as respostas dadas à crise em ambos os eventos. Para o autor, as lições aprendidas no primeiro impediram um desastre maior no segundo mas, ainda assim, não são suficientes para impedir uma nova crise.
Assim, passa-se a indagar os motivos reais de tais crises não serem enfrentadas de forma mais permanente, o que na sua opinião passa pela necessidade de maior regulamentação do sistema financeiro internacional como um todo. Regulamentação que deve ter a atuação dos Estados Nacionais e não apenas de seus Bancos Centrais.
Crítico da atuação do FED (Federal Reserve System) e do BCE (Banco Central Europeu), nos eventos pós 2008, Eichengreen, no entanto, não cita a responsabilidade de instituições como o BIS (Bank for International Settlements) ou mesmo seu Comitê responsável pelo Systema Financeiro Global (Committee on the Global Financial System), ou o mais conhecido Comitê de Supervisão Bancária (Basel Committee on Banking Supervision) que elaborou os Acordos da Basiléia sobre a regulamentação do sistema. No entanto, as referências ao funcionamento e modus operandi do Shadow Banking System aguçam o interesse na leitura da obra.
Assim, Hall of Mirrors se prova uma obra de História Econômica recente extremamente útil e completa sobre os eventos que se iniciaram em 2008; os quais, creio, ainda estão longe de serem totalmente desvendados.
Resenhista
Maria de Fátima Silva do Carmo Previdelli – Doutora em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Referências desta Resenha
EICHENGREEN, Barry. Hall of Mirrors: The Great Depression, the Great Recession, and the uses – and misuses – of History. New York: Oxford University Press, 2015. Resenha de: PREVIDELLI, Maria de Fátima Silva do Carmo. Revista de Economia política e História Econômica. São Paulo, ano 12, n. 38, p. 174-175, junho, 2017. Acessar publicação original [DR]
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