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Guerra e Nacionalização / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2005

Fruto do evento Muitas faces de uma guerra: 60 anos de final da Segunda Guerra e o processo de Nacionalização no Sul do Brasil, ocorrido em maio de 2005 em parceria entre a Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, a Fronteiras – Revista Catarinense de História, em seu número 13, apresenta o Dossiê Guerra e Nacionalização, divulgando, assim, os textos das mesas e das conferências.

Com a proposta de refletir sobre a Era Vargas, a Nacionalização e as tensões da Segunda Guerra Mundial, foi oportuno promover um evento no momento em que se marcavam 60 anos de final do conflito, provocando o debate e revendo interpretações e, mais ainda, denunciando intolerâncias.

O Sul do Brasil foi enfocado, sem desconsiderar outras regiões, porque efetivamente, as normalizações e medidas repressivas para com os descendentes de ítalo-germânicos (também outras etnias, menos representativas no sul) provocaram um torvelinho de denúncias, de medo, de silêncios, de prisões, de torturas, de interdições, ao mesmo tempo em que se exacerbava uma onda de nacionalismo e a construção de imagens maniqueístas, culminando com repressões e violências.

Refletir sobre a guerra e sobre a nacionalização forçada implica lançar olhares que alcançam políticas governamentais, identificações, religiosidades, relações étnicas e de gênero, educação e escolarizaçâo, entremeadas às transgressões, resistências, burlas, denúncias, ganhos e perdas, onde as relações de poder do Estado, da polícia política ou dos civis, aparecem nas entrelinhas do período de conflito. Um tempo outro, onde a realidade vivida na cotidianidade compõe o pano de fundo de muitas histórias e memórias.

Efetivamente, no torvelinho entontecedor vivido nesse outro tempo, permeado de práticas antidemocráticas, urge reavivar outras histórias para além daquela que o Estado Novo cuidou, deliberadamente, de construir como unívoca, convergida para a eliminação das diferenças regionais na tentativa de dar uma forma peculiar ao passado, de festejá-lo, de apaziguá-lo, silenciando experiências e vozes. Esse tipo de história foi contado para o domínio, e, como bem afirma Marc Ferro, “controlar o passado ajuda a dominar o presente e a legitimar tanto as dominações quanto as rebeldias1. Possibilitar a publicação destes textos permite refletir sobre práticas cotidianas versus políticas governamentais, levadas a efeito no período da Segunda Guerra, bem como dizer algo sobre a sociedade onde vivemos hoje. Eric Hobasbawm nos dá essa lição; “É tarefa do historiadores tentar remover essas vendas, ou pelo menos levanta-las um pouco ou de vez em quando – e na medida que o fazem, podem dizer à sociedade contemporânea algumas coisas das quais ela poderia se beneficiar, ainda que hesite em aprende-Ias”.2 Essa é uma possível aposta contra as intolerâncias de ontem e de hoje.

Os textos apresentados, em número de sete, analisam a nacionalização e a guerra de diversos ângulos e olhares, permitindo reflexões sobre as intolerâncias, a violência, o preconceito étnico, a língua, a literatura, as relações do Estado com o clero, com a escolarização e a repressão, interpretados a partir das fontes que escaparam à destruição daquele tempo de arbítrio. Eles ampliam, assim, o leque de possibilidades da análise histórica, cujas narrativas deixam entrever cenas do cotidiano, os imaginários sociais construídos e as conseqüentes representações de mundo deixadas em registros por homens e mulheres que viveram naqueles anos. Os textos apresentados são uma contribuição dos professores e professoras Maria Luiz Tucci Carneiro (USP), René Gertz ( PUCRS), Walquiria Renk (PUCPR), Priscila Perazzo (USP), Marlene de Faveri (UDESC), Cinthya Campos ( UFSC), Lúcio Kreutz (UNISINOS) Neide Fiori (UNISUL), pelo que agradecemos.

Muitas faces de uma guerra: 60 anos de final da Segunda Guerra e o processo de Nacionalização no Sul do Brasil foi gestado e realizado por uma comissão organizadora que reuniu professores / as e alunos / as das duas instituições envolvidas (UDESC e UFSC), e realizado nas dependências da Faculdade de Educação / Faed / UDESC.

Pesquisadores do tema, oriundos de instituições catarinenses e de outros estados, participaram de cinco Simpósios Temáticos, onde apresentaram seus trabalhos e estabeleram diálogos e debates, o que favoreceu a publicação dos anais completos, disponíveis no sítio «www.simposioudesc.cjb.net» O evento contou com o apoio da Associação Nacional de História, Núcleo de Santa Catarina – Anpuh / SC, da Fiepe, do Programa de Pós-Graduação em Educação e Cultura da Udesc, do Programa de Pós-Graduação em História da Ufsc e do apoio inestimável do Centro de Ciências a Educação / Faed / UDESC, por meio do Núcleo de Estudos Históricos e da Direção Assistente de Pesquisa e Extensão / Dape.

Notas

1. FERRO, Marc. A manipulação da História no ensino e nos meios de comunicação. 2.ed. são Paulo. Ibrasa, Instituto Brasileiro de Difusão Cultural Ltda 1999. P.11

2. HOBASBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, p. 48.

Marlene de Fáveri – Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)


FÁVERI, Marlene de. Editorial. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.13, 2005. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Itamar Freitas

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