Gênero e Infância / Tempos históricos / 2012

Em 1999 a Revista Brasileira de História em seu volume 19, número 37, trazia a público o dossiê “Infância e Adolescência”, passados oito anos, em 2007, a referida Revista apresentava o dossiê “História e Gênero”. Lendo tais dossiês, inicialmente, perguntamos: o que eles têm em comum? Pistas à resposta nos são dadas por Joana Maria Pedro e Rachel Soihet3 “ao historicizarem e analisarem a trajetória do campo historiográfico da história das mulheres e das relações de gênero”. Em seu artigo, as autoras evidenciam a pertinência de pesquisas que contribuíram para a legitimação desse espaço historiográfico que por muitos / as na acadêmica, ainda, é entendido como periférico e de caráter secundário em relação a outros campos de estudos, considerados por eles / as mais importantes à História.

Se a história da criança se fez à sombra da dos adultos4 , e se podemos arriscar que o que ela tem em comum com a história das mulheres e das relações de gênero é o lugar periférico em que muitos da academia insistem em mantê-la, não nos equivocamos ao dizer que o que também as une é o despertar do crescente e importante interesse de muitos pesquisadores e pesquisadoras que, através de suas várias pesquisas, múltiplas abordagens e diferentes metodologias, consolidaram os campos da história das mulheres e das relações de gênero e o campo da história da infância. Nos curtos espaços de tempo, entre a organização dos dois Dossiês e entre os dias atuais (1999-2007-2012), muitas pesquisas foram realizadas e publicações feitas acerca das relações de gênero e da história da infância, sendo que o dossiê Gênero e Infância da Tempos Históricos, tem por objetivo contribuir na difusão e divulgação das pesquisas e produções historiográficas nestes campos da História que a nós são tão caros.

Assim, a historiadora portuguesa Helena da Silva, no artigo intitulado “Relações de gênero na enfermagem em Portugal (1886-1955)” 5 , apresenta uma instigante reflexão sobre o processo de feminização da profissão da enfermagem em Portugal a partir dos anos de 1930. Segundo a autora, esta mudança esteve associada à introdução dos modelos britânico e norte-americano onde os profissionais da saúde eram do sexo feminino. Todavia, nas associações e nos sindicatos dos profissionais da enfermagem os homens permaneceram dominando o cenário.

As historiadoras brasileiras Joana Maria Pedro e Gleidiane de Souza Ferreira, no artigo denominado “São Honestas? Defloramentos em Fortaleza nas primeiras décadas do século XX”, através da análise de processos penais, discutem como se dava a construção da representação social da “mulher honesta” no início do século XX na cidade de Fortaleza, especialmente no âmbito dos grupos sociais mais pobres daquela sociedade. O discurso da moral, segundo as autoras, prevalecia sobre os demais.

A historiadora argentina Cecília Rustoyburu, no artigo “Infancia y maternidad en los discursos de la pediatría psicosomática (Buenos Aires, a mediados del siglo XX)”, descreve como paulatinamente o discurso da Pediatria adquiriu uma grande importância na sociedade argentina do início do século XX. A autora foca sua análise na obra do médico Florêncio Escardó que divulgava estes novos saberes científicos através dos meios de comunicação.

A historiadora Olga Brites e historiador Eduardo Silveira Netto Nunes, ambos brasileiros, analisaram como o campo da publicidade em relação à infância foi sendo forjado no Brasil. Os autores no artigo “Infâncias e propagandas em revistas: anos 1920 – 1950” apresentam um panorama das principais características das peças publicitárias publicadas em diferentes periódicos entre 1920 e 1950.

O historiador brasileiro Daniel Alves Boeira, por sua vez, no artigo “O patronato agrícola de Anitápolis (SC): o núcleo colonial, os “menores” e a comunidade (1918- 1930)”, analisa as práticas escolares e laborais vigentes na principal instituição de acolhimento de crianças e jovens pobres e / ou indisciplinados do início do período republicano, o Patronato Agrícola.

A historiadora brasileira Ana Paula Pruner de Siqueira no artigo intitulado “As relações familiares estabelecidas no cativeiro e no pós-abolição em Palmas- PR”, descreve, a partir de registros paroquiais e processos de tutela, as trajetórias familiares de escravos e seus descendentes que habitavam na região de palmas (PR), no século XIX.

As historiadoras brasileiras Anelise Rodrigues Machado de Araujo e Elisangela da Silva Machieski, esboçam uma reflexão sobre a obra “História de Abandono: Infância e Justiça no Brasil (década de 1930)”. Além das discussões relativas a narrativa histórica, as autoras argumentam sobre a importância das reflexões presentes no livro para a compreensão da questão da infância na sociedade brasileira atual.

E Por fim, o historiador Lucas André Berno Kölln ao se debruçar sobre a obra “O Romance Histórico”, do filósofo húngaro György Lukács, reflete acerca do objetivo do autor, qual seja, a relação entre a Literatura e a História, trazendo um importante e sempre atual debate acerca das potencialidades e limitações que se apresentam entre a Literatura e a História, bem como a íntima ligação entre estes dois campos de produção do conhecimento.

Notas

3. SOIHET, Rachel, PEDRO, Joana Maria. A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de História, Florianópolis, vol. 27, n. 54, 2007.

4. PRIORE, Mary del. História da criança no Brasil. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 1996, p. 7.

Ivonete Pereira1 – Professora da Graduação e do Programa de Pós-Graduação do Curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

Silvia Maria Fávero Arend2 – Professora do curso de História Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).


AREND, Silvia Maria Fávero; PEREIRA, Ivonete. Introdução. Tempos Históricos, Paraná, v.16, n.1, 2012. Acessar publicação original [DR]

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