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Galego e Português Brasileiro: história, variação e mudança | LaborHistórico | 2017

Dando continuidade ao trabalho iniciado no primeiro número de 2017, os artigos presentes neste dossiê da revista LaborHistórico (v. 3, n. 2, 2017) são resultado de um projeto de pesquisa amplo, desenvolvido em 2015 e 2016, por uma equipe brasileira (da Universidade Federal Fluminense, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade de São Paulo) e uma equipe galega (da Universidade de Santiago de Compostela), sobre história, variação e mudança do galego e do português brasileiro: projeto “Galego e Português Brasileiro: história, variação e mudança”, financiado pelo Ministerio de Educación e Ciencia do Goberno de España (PHBP14/00049) e pela CAPES/DGPU do Ministério de Educação do Brasil (040/2014), coordenado por Xoán Carlos Lagares (Brasil) e Henrique Monteagudo (Galicia, España). O início desse trabalho se situa em 2010, quando foram realizados, com apoio da CAPES, seminários internacionais, na UFF e na USC, para delimitar um projeto conjunto que estudasse comparativamente essas duas variedades linguísticas do grupo portugalego, termo que define, precisamente, os (sub)sistemas linguísticos que mantêm uma relação de filiação genética com as falas galegas medievais. Como consequência desses seminários internacionais se formou também um grupo de pesquisa no CNPq: “Grupo de Pesquisa Galego e Português (PE e PB)”, constituído por professores e estudantes da rede de universidades galegas e brasileiras que participam do projeto.

Essa pesquisa se justifica porque identificávamos na maioria das abordagens históricas da língua portuguesa, como produto de uma visão da língua devedora dos princípios do nacionalismo linguístico do século XIX, uma lacuna causada pelo apagamento do galego e que impedia observar os fatos linguísticos em sua continuidade diacrônica, sem os óculos ideológicos impostos pelos Estados nacionais. Integrar o galego junto com outras variedades do que se convenciona chamar de “língua portuguesa”, na descrição e explicação histórica de diversos elementos linguísticos (no campo da sintaxe, da morfologia, do léxico…), supõe ampliar o quadro de observação e pode permitir, como se comprova neste dossiê, descobrir novas formas de entender os fenômenos estudados. Nesse intuito, foram realizadas, a partir de 2015, embora com limitações orçamentárias sobrevindas quando o projeto já fora aprovado pela CAPES brasileira e pela DGPU espanhola, missões de trabalho e de estudo (de doutorado e pós-doutorado) em ambos os países, para desenvolver projetos concretos de comparação linguística. É importante sublinhar que não se trata de uma comparação propriamente entre “línguas”, mas entre traços linguísticos presentes nas variedades estudadas. Os estudos descritivos desses traços linguísticos são devedores e, ao mesmo tempo, estimulam uma reflexão teórica, do ponto de vista histórico e sociolinguístico, sobre a questão da unidade e da fragmentação no espaço da língua portuguesa. Estamos convictos de que esse tipo de pesquisa continua sendo necessária e pode resultar extremamente profícua para entender a realidade linguística tanto no Brasil como na Galiza.

Os artigos que compõem o dossiê intitulado com o mesmo nome do projeto bilateral – Galego e Português Brasileiro: história, variação, mudança – podem ser agrupados em três grandes blocos: a) sociolinguística e políticas linguísticas: Norma e autoridade linguística no galego e no português brasileiro, de Henrique Monteagudo (USC) e Xoán Carlos Lagares (UFF); Language Policies and Linguistic Culture in Galicia, de Anik Nandi (Queen’s University of Belfast, UK); e Considerações sobre os conceitos de língua e variedade: uma discussão com base no galego, de Melina Souza (UFF); b) sintaxe comparada: Dêixis de lugar e esquemas imagéticos em amostras de fala do português brasileiro e do galego contemporâneos, de Maria Jussara Abraçado de Almeida (UFF) e Rachel Maria Campos Menezes de Moraes (UFF); e As construções de foco no galego é o que eu estou tentando entender, de André Felipe Cunha Vieira (UFRJ); c) léxico: Convergência do léxico por contato entre o português brasileiro e o galego modernos, de Valéria Gil Condé (USP).

Além dessas contribuições, também integra este número da revista LaborHistórico a republicação de um texto clássico para o estudo das formas de tratamento, de autoria de Carlos Alberto Faraco, intitulado O tratamento você em português: uma abordagem histórica, publicado originalmente na revista Fragmenta, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná, em 1996. A justificativa para este trabalho de reedição e republicação – que apontam para a vitalidade e importância do texto – pode ser encontrada no artigo Por que reeditar (e reler) “O tratamento você em português: uma abordagem histórica”, de Christiane Maria Nunes de Souza, na seção Varia.

Esperamos que este dossiê seja apenas um dos muitos que virão sobre análises comparadas entre línguas e variedades românicas, com especial destaque ao papel e à posição do galego no processo de constituição histórica do português.


Organizadores

Xoán Carlos Lagares – UFF.

Leonardo Lennertz Marcotulio – UFRJ.


Referências desta apresentação

LAGARES, Xoán Carlos; MARCOTULIO, Leonardo Lennertz. Apresentação. LaborHistórico. Rio de Janeiro, v.3, n.2, p. 10-11, jul./ dez. 2017. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Itamar Freitas

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