“Sono sempre stato colpito dalla singolare ripresa, a ben poca distanza, del gran tema della ‘utilità’ della storia da parte di due grandi e diverse personalità quali quelle di De Sanctis e di Nietzsche”.
É assim que Fulvio Tessitore conduz a publicação de suas páginas sobre Francesco De Sanctis: la scienza e la vita (il Mulino, 2019, pp. 107), nas quais, de acordo com as intenções programáticas da série que a acolhe, estão reunidos a preleção inaugural realizada por ele para o ano acadêmico de 2017-2018 do Istituto Italiano per gli Studi Storici e alguns de seus desenvolvimentos nos cursos do mesmo ano, seguidos ao fim, oportunamente, de um apêndice que reproduz o ensaio sobre de De Sanctis de 1972 e o comentário que Croce lhe dedicou na “Crítica” de 1924.
Definidas pelo autor como um “‘acaso’ historiográfico” que obedece a uma “sugestão excêntrica” de “origem distante”, essas páginas, divididas, reúnem dois escritos, La scienza e la vita (1872) e Seconda Inattuale (1874), que, apesar de obras de personalidade da qual Tessitore não deixa de dizer as diferenças, enfrentam “o grande problema da história”, em sua complexa e controversa relação com a vida, tópico que é não apenas familiar, mas “íntimo” do autor dessas páginas, se não extensas, precisas, profundas e “volumosas” em mais de uma maneira. E é assim porque, embora esteja radicada no século XIX, a densa reflexão tessitoriana, através de um jogo de espelhos que se refere a inumeráveis reflexões, alcança o presente, talvez não explicitamente, mas meio que “naturalmente”.
No primeiro dos dois escritos, que dá o título ao volume, Francesco De Sanctis: la scienza e la vita, Tessitore analisa minuciosamente a exposição de 1972 e a define, desde o início, como a “verdadeira e profunda teoria, quase a síntese, da filosofia de De Sanctis”. Uma filosofia, deve-se no entanto esclarecer, “histórica”. Porque ela, baseando-se no nexo ciência-vida que, se se observar, é outra formulação do nexo ideal-real, encontra na tradição historicista de Vico e Cuoco a sua própria tradição. Assim, as páginas de De Sanctis pretendem, por assim subentenderem, ilustrar os elementos constitutivos não da lógica do conceito, mas da “lógica da história” que aqui, longe de se referir à dialética hegeliana pacificada, calmante e tranquilizadora, reconhecendo a particularidade insondável, exige uma dialética sem síntese, própria, para o autor, do “hegelianismo crítico”. Desse modo, então, Tessitore traça, na “abundante” filosofia de De Sanctis, a dissolução de toda ontologia metafísica absolutizante e a afirmação do princípio “positivo” do limite: fundador e regulador, para ele, da nova ciência da história. O que é, a bem ver, como também caracteriza os escritos de De Sanctis e Nietzsche, embora com as distinções necessárias.
Aqui, a Seconda Inattuale atua como um contraponto, longe de ser distônico, à “extraordinária” preleção de De Sanctis. E é assim porque, se é verdade que a história nas páginas nietzschianas é uma pedra que oprime o homem, é certo que não se pode deixar de levar em conta – como já foi feito –, que a crítica do “grande filósofo” dirige-se ao hegelianismo e ao positivismo, motivos, como também desejava o “grande historiador”, do enfraquecimento da vida. Portanto, não se deve “lutar contra a história”, mas contra a “hipertrofia da história” e, em nome da wirchliche Historie, “esquecer”. Ou limitar a ciência histórica que cresce às custas da vida.
Ainda há muito a ser dito sobre essas páginas que, talvez não seja uma tolice definir, um hino ao “novo espírito” e um aviso auspicioso ao presente. Qual é o punctum em que, se quem aqui escreve não se engana demais, a voz do autor e de seus interlocutores se fundem e se confundem. Ontem como hoje, de fato, “devemos dizer a verdade”: a ciência cresce às custas da vida. Portanto, embora invocada e realizada, a primeira não pode renovar ou revigorar a segunda. No entanto, pode contribuir para isso, se for o caso, e aqui o caminho indicado por De Sanctis e seguido por Tessitore parte daquele de Nietzsche, “pensamento concreto da vida”. Ou “ciência viva” que, no sinal do limite – não impedimento ou obstáculo, mas medida e característica do humano – é capaz de moldar a vontade, regenerando a “coragem moral”, a “sinceridade” e, portanto, o “homem livre”.
Finalmente, então, contra a “apatia”, o “tédio” e o “vazio” que agarram a vida tragada por um “mal desconhecido”, Tessitore, com base em De Sanctis, traça na “ciência viva”, própria de um historicismo crítico que tem suas raízes na tradição de Vico e que fez do limite kantianamente compreendido sua característica distintiva, o instrumento capaz de restaurar o ímpeto a um “novo espírito”.
Resenhista
Maria della Volpe – Pós-doutoranda em Filosofia Università di Napoli Federico II.
Referências desta resenha
TESSITORE, Fulvio. Francesco de Sanctis: la scienza e la vita. Bologna: Il Mulino, 2019, 107 pág. Resenha de: DELLA VOLPE, Maria. A propósito de um livro recente de Fulvio Tessitore sobre Francesco de Sanctis. Revista de Teoria da História v. 22, n. 02, Dezembro de 2019.
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