Formação colonial e decolonialismo: Polifonia de vozes no Caribe / Revista Brasileira do Caribe / 2018
Neste último número de 2018, a Revista Brasileira do Caribe (RBC) oferece aos leitores um dossiê temático intitulado “Formação colonial e decolonialismo: polifonia de vozes no Caribe” composto por um total de oito artigos e uma resenha.
O dossiê se abre com o artigo “Entre a espada e a cruz: Bartolomeu de Las Casas em defesa do modo pacífico de evangelização dos indígenas na América Espanhola” de Maria Izabel Barboza de Morais Oliveira que, pelo método denominado contextualismo linguístico do historiador Skinner, analisa a defesa da evangelização pacífica defendida pelo frade dominicano espanhol Bartolomeu de Las Casas. E para maior compreensão a autora o compara com o pensamento de seu contemporâneo o frade franciscano Motolinía.
Em seguida, Javier García Fernández, em “O prelúdio à conquista do Caribe e da América: a formação da Andaluzia moderna como paradigma do sistema mundo moderno colonial. Olhares descoloniais a partir do sul da Europa”, trabalha historicamente a conquista espanhola do Al Andalus e a formação da Andaluzia moderna. O autor defende que “a desapropriação das terras das populações andaluzas, as expulsões forçadas, a racialização dos mouros e a subordinação da Andaluzia às estruturas políticas de Castela seriam o prelúdio mais importante para o desenvolvimento do que viria a ser chamado de sistema mundo moderno colonial”.
O artigo “La praxis afroensayística de Manuel Zapata Olivella”, de Rodrigo Vasconcelos Machado, analisa a obra ensaística do colombiano Zapata Olivella com base nos postulados teóricos de Frantz Fanon e também os compara com outras produções ensaísticas iberoamericanas.
Os três artigos seguintes tratam do Haiti contemporâneo. O primeiro deles se intitula “Da queda do duvalierismo à transição inacabada: A crise haitiana dos anos 1980”, de Everaldo de Oliveira Andrade. Esse artigo trata da conjuntura geral de desestabilização econômica vivida pela América Latina na década de 1980 e, em particular, no Haiti. O autor questiona baseado em conceitos como “estado frágil” ou “estado falido” para caracterizar as instituições políticas do Haiti, confrontando-os “a hipóteses explicativas relacionadas aos processos de mobilização política popular que construíam novos caminhos e possibilidades de institucionalização da vida política nacional, mas também com as diferentes ações e interesses externos que agiram para preservar o regime pós-ditatorial e, portanto, impedir uma via alternativa e nacional de construção democrática”.
Já no segundo artigo intitulado “Relações históricas entre Brasil e o Caribe: o caso dos imigrantes haitianos”, de Katia Cilene do Couto, as relações históricas entre a Amazônia e o Caribe são discutidas, tendo como ponto de análise o fluxo imigratório dos haitianos para a região amazônica, iniciado em 2010 após a ocorrência de um terremoto que dizimou mais de duzentas mil pessoas. A autora analisa diversos aspectos das trajetórias migratórias que unem o Caribe e a grande Amazônia, que são pouco recorrentes na historiografia.
No último artigo sobre o Haiti intitulado “Mulheres haitianas no espaço público de 1930 a 1950: o olhar sobre as primeiras ações feministas da Liga feminina da ação social”, André Yves Pierre propõe estudar o núcleo de mulheres da classe alta e intelectual que organizou a Liga Feminina de Ação Social (LFAS) e o protagonismo das mulheres na luta para mudar as imagens estereotipadas sobre a mulher e refundar a base sociojurídica.
Em “Alzar la voz, perder el miedo: Universitarias entre la desigualdad y el acoso sexual” os autores María Leticia Briseño Maas e Iván Israel Juárez López tratam um tema pouco explorado que é o assédio sexual nos espaços universitários da América Latina e do Caribe. O artigo trata da violência de gênero naturalizada em nossas sociedades e no interior dos espaços universitários. Os autores utilizam um estudo realizado em uma universidade do sudeste mexicano para revelar que o assédio sexual se manifesta nos espaços universitários públicos, inseridos em contextos de violência, mas também de uma acentuada desigualdade social, na qual as mulheres, em condições de pobreza, ocupam o último elo de uma cadeia ampla de exclusões e injustiças.
O último artigo, de Allysson Fernandes Garcia, intitula-se “Pa’ que tú no sabe lo que es ser guapo. A procura do ‘homem novo’ no rap cubano”. O artigo em questão interpreta as narrativas ficcionais de masculinidade presentes na música rap na cultura musical cubana.
Segundo o autor, “essas narrativas possibilitam uma aproximação do imaginário da geração jovem que chegava à maioridade durante o “período especial”. Tais narrativas possibilitam identificar aproximações e distanciamentos dos valores morais, atributos e qualidades masculinas expressadas na música rap com aqueles anunciados e defendidos por Che Guevara ao cunhar a ideia de “homem novo”.
A resenha intitulada “O Caliban Afro e Indígena e o Pensamento Decolonial: o Caribe na “Antologia del Pensamiento Crítico Caribeño Contemporáneo (West Indies, Antillas Francesas y Antillas Holandesas)”, de Marcos Antônio da Silva, por fim, fecha o dossiê.
Agradecemos a todos aqueles que viabilizaram o lançamento deste novo número da Revista Brasileira do Caribe, especialmente, a Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Maranhão, a Editora e Gráfica da Universidade Federal do Maranhão e a todos os pareceristas que participaram com o seu trabalho e generosidade na avaliação dos artigos recebidos. Convidamos a todos os leitores a percorrer as páginas desta nova edição da Revista Brasileira do Caribe que nos apresenta diversos pontos de vista da produção historiográfica sobre o Caribe.
Isabel Ibarra Cabrera – Editora da Revista Brasileira do Caribe.
CABRERA, Isabel Ibarra. Formação colonial e decolonialismo: Polifonia de vozes no Caribe. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.19, n.37, p.4-6, jul./dez., 2018. Acessar publicação original. [IF].