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Estudos da linguagem na educação – PAVIANI (C)

PAVIANI, Neires Maria Soldatelli. Estudos da linguagem na educação. Caxias do Sul: Educs, 2012. Resenha de: KAODOINSKI, Fabiana. Conjectura, Caxias do Sul, v. 18, n. 3,,p. 200-204, set/dez, 2013.

Neires Maria Soldatelli Paviani, nascida em 1946, em Flores da Cunha – RS, possui vasta experiência na área da educação, visto que iniciou a docência, no Ensino Fundamental e no Médio, em 1969. Em 1977 passou a ser professora no Ensino Superior, obtendo, nesse percurso, variadas experiências a respeito da inter-relação entre linguagem e educação.

Atualmente, atua no curso de Letras e no Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado), da UCS, sendo pesquisadora vinculada à linha de pesquisa Educação, Linguagem e Tecnologias desse Mestrado. Paviani possui Doutorado em Educação pela UFSCar-SP, Mestrado em Linguística pela UFRGS e Licenciatura em Letras: Português/Francês pela UCS. Publicou os livros: O pronome ético: uma característica dialetal (2004); Linguagens e práticas culturais (2006); Linguagem e educação (2008); Linguagem e suas implicações metodológicas (2008); e, em coautoria, Língua, cultura e valores (2003); Dicionário de italianismos (2006); Práticas de linguagem: gêneros discursivos e interação (2009); Gêneros de texto: subsídios para o ensino em diferentes disciplinas (2012).

Entre as publicações da autora, destaca-se, também, Estudos da linguagem na educação (2012), objeto de análise do presente texto. Trata-se de um livro útil e bem-redigido que, ao longo de suas 128 páginas, apresenta um panorama histórico dos conceitos e autores de referência nos estudos da língua e da linguagem, relatos pessoais e reflexões a respeito da prática docente e ainda subsídios teóricos sobre a interação entre linguagem e educação em uma perspectiva interdisciplinar, já que, para a autora, a linguagem, como prática social, perpassa o aprendizado de todo e qualquer conhecimento, porque “ela constitui o mundo e o mundo é constituído por ela”. (PAVIANI, 2012, p. 41).

A obra é organizada em seis capítulos. O primeiro, intitulado “Estudos da linguagem e da língua na educação”, discorre sobre as principais disciplinas cujo objeto de estudo são a língua e a linguagem, abordando problemas e conceitos relacionados à educação. Além disso, Paviani destaca autores que, ao longo da história, contribuíram para os estudos da linguagem.

Sendo assim, primeiramente, é mencionada a influência dos gregos – em especial, de Platão e Aristóteles – na elaboração das primeiras definições e distinções no campo da lógica e da linguagem. Em seguida, são elencados teóricos e produções da Idade Média e do Renascimento, como a primeira gramática da língua portuguesa. São descritas, também, contribuições de Humboldt e dos neogramáticos, bem como a noção de língua como atividade e não só como produto. Nesse percurso, a autora apresenta a revolução instaurada pelos postulados de Saussure sobre o sistema da língua, os quais fizeram com que os estudos da linguagem passassem a ter um caráter científico. Ainda destaca Chomsky, com sua teoria sobre a produção de novas sentenças a partir de conhecimentos finitos.

A partir de então, há uma discussão a respeito do caráter interdisciplinar da língua e da linguagem e sobre as diferentes concepções de linguagem, tais como: representação do pensamento, como ação, instrumento, ou ainda, um modo de “ser humano”. Para elucidar esse aspecto, há um quadro teórico com os conceitos fundamentais, os autores e as pesquisas das disciplinas que utilizam a linguagem para fundamentar seus estudos. Entre elas estão: a Filosofia da Linguagem, a Linguística, a Sociolinguística, a Psicolinguística, a Semântica, a Semiótica, a Pragmática, a Análise do Discurso, a Antropologia, a Teoria da Informação e da Comunicação, a Neurolinguística e a Psicanálise.

O segundo capítulo, com o título “Conceitos e problemas da linguagem”, enfatiza a importância dos estudos da linguagem na educação, abordando conceitos e problemas relacionados a esse contexto, como: o uso da linguagem nos círculos sociais da criança, como a família e a escola; a diferenciação entre os processos de alfabetização e de letramento; o modo como a linguagem comum e a científica expressam a experiência humana e o mundo; a linguagem como ação, em que o professor precisa reconhecer que “seu dizer é um fazer”; as linguagens corporal, social e moral como forma de interação em sala de aula; a importância do estudo da literatura para a educação; a conversação e o diálogo nos processos de ensino e aprendizagem; os objetivos expressivos e comunicativos alcançados pela linguagem quanto aos seus níveis e funções, em que se destacam: a teoria da comunicação de Jackobson, a distinção de Popper entre funções da linguagem (inferiores e superiores) e os estudos de Bachman a partir dos postulados de Halliday sobre as quatro macrofunções da linguagem: ideacional, manipulativa, heurística e imaginativa.

O terceiro capítulo, “Os gêneros textuais no Ensino Fundamental”, apresenta o apoio teórico, o método e os resultados da pesquisa “Leitura e Escrita em Sala de Aula com Base na Teoria dos Gêneros de Textos” (Genera 2). Essa pesquisa foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Desporto de Caxias do Sul, entre 2006 e 2009, os quais visavam à qualificação dos professores quanto a questões de recepção e produção de diferentes gêneros de texto dentro da abordagem sociointeracionista e interdisciplinar. Assim, ao aprimorar a prática docente, os pesquisadores tinham como expectativa que os alunos envolvidos na pesquisa – que cursavam a 5ª série do Ensino Fundamental – pudessem apresentar melhor desempenho, já que avaliações externas detectaram que tinham dificuldades em relação à leitura e à escrita.

No quarto capítulo, “Educação e linguagem corporal”, a autora, em forma de ensaio, inter-relaciona corpo, linguagem e sociedade, teorizando sobre o “corpo como linguagem” e a “linguagem do corpo”, sendo que considera tais definições, “ao mesmo tempo sujeitos e objetos da educação”.(PAVIANI, 2012, p. 81).

O quinto capítulo, “Escrever e ler como formas de educação”, apresenta um relato pessoal de uma experiência docente realizada, há mais de trinta anos, pela autora, em que, contrariando as determinações da época, desenvolveu uma metodologia de ensino de língua portuguesa centrada nas práticas de leitura e de produção textual, incentivando, também, que os alunos realizassem a representação teatral de textos estudados. A proposta apresentou estratégias para que os estudantes de quinta-série pudessem interagir, de forma eficaz, com os textos, sendo que a professora foi mediadora do processo. Cabe destacar, ainda, a riqueza dos depoimentos registrados, tanto os da autora quanto os dos alunos daquela turma, o que comprova que a prática docente mostrou-se significativa.

No último capítulo, “A função da linguagem e os textos literários”, há uma reflexão sobre a seleção de textos e métodos utilizados pelo professor para despertar no aluno o gosto pela leitura e interpretação de textos literários.

Sendo assim, a partir da análise e comparação de diferentes gêneros, como o poema, o ensaio e o conto, a autora chama a atenção para a importância da observação da função, das peculiaridades, das características, da organização discursiva e dos objetivos da linguagem literária. Estando ciente disso, o professor pode, com mais segurança, orientar o aluno a perceber o que muda em relação a diferentes estilos e criações literárias.

Sendo assim, a leitura da obra sugere que os estudos sobre linguagem não se esgotam. Dessa forma, pesquisá-la é sempre um desafio em função das múltiplas possibilidades de análise e da inter-relação com outras disciplinas, como: a filosofia, a sociologia, a psicologia. Para a autora, tal investigação mostra-se também relevante para questões que envolvem o conhecimento, a educação, a cultura, a comunicação, a política, entre outros, pois todos os campos são perpassados pela linguagem, que permite o processo de interação, sendo, portanto, inseparável de qualquer atividade humana.

Nesse sentido, Paviani (2012, p. 41) afirma que “a linguagem verbal é mais que um meio de comunicação, o ser humano é a própria linguagem”.

Além disso, a autora ressalta que há um redirecionamento nas pesquisas filosóficas e linguísticas a partir do momento em que, com base nos estudos de Austin, a linguagem é entendida como ação, ou seja, concebida como prática social. Esses postulados trouxeram contribuições à educação, no sentido de descrever, analisar e interpretar os fenômenos que a cercam.

Em vista disso, Paviani defende que o professor tem de saber que “seu dizer – em atos como propor, convidar, ordenar – é um fazer” que implica outras ações, realizadas pelos alunos. Portanto, é preciso que ele “se cerque de certos cuidados no uso de enunciados na fala e fique atento sobre efeitos que a linguagem pode suscitar nos processos educativos”. (PAVIANI, 2012, p. 50).

Outra tese defendida na obra, evidenciada nos resultados das pesquisas, é que estratégias de ensino numa perspectiva interdisciplinar e sociointeracionista podem apontar caminhos para os professores, de todas as áreas, auxiliarem os alunos a desenvolverem habilidades e competências de escrita e de leitura, tornando-as atividades significativas e prazerosas.

Nesse sentido, fica claro que o aprimoramento dessas duas formas básicas de linguagem é um meio de educar os alunos para a cidadania e a sensibilidade: “É construindo linguagem, é constituindo-se na e pela linguagem que o homem se educa para a vida”. (PAVIANI, 2012, p. 100).

Diante do exposto, a obra Estudos da linguagem na educação, escrita com coerência, coesão e clareza, mostrou-se de grande valia pelas reflexões propostas, por discutir problemas, elencar disciplinas e abordar conceitos relacionados à linguagem, bem como por apresentar postulados de teóricos que se destacaram nessa área do saber. Sendo assim, mostra-se como uma importante referência, recomendada para educadores, estudantes de graduação e de pós-graduação, linguistas e todos os que se interessam pelo tema.

Fabiana Kaodoinski –  Graduada em Letras. Especialista em Leitura e Produção Textual. Mestranda no PPGEdu da UCS. Caxias do Sul, RS. E-mail: fabikafabi@gmail.com

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Itamar Freitas

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