Resenhas bibliográficas são gêneros textuais que possuem a função genérica de apresentar e atribuir valor ao conteúdo de um ou de vários livros.
Essas funções variam com a situação comunicativa demandada pelo texto. Se vocês as empregam exclusivamente como exercício de produção textual, elas ganham uma estrutura. Se vocês querem divulgar posição sobre a obra em um periódico científico, elas podem ganhar outra estrutura e outras unidades de informação.
O nome do autor é uma unidade de informação, a utilidade da obra e as teses defendidas pelo autor são outras unidades de informação. Todas elas podem ser apresentadas de modo argumentativo, narrativo ou descritivo.
Organizadas em um texto, as unidades de informação compõem uma “estrutura retórica”. A mais conhecida estrutura retórica do gênero resenha é a tríade: introdução, desenvolvimento e conclusão. Em alguns manuais de metodologia científica, essas expressões designam funções de: apresentação da obra e autor, resumo e crítica da obra e destinação da obra a leitores potenciais.
Essas tríades, com respectivas unidades de informação, servem à iniciação do aprendizado, mas são limitadas quando queremos escrever para um público especializado. Examinando padrões retóricos mantidos por membros de diferentes domínios acadêmicos, constatamos que o número de estruturas pode chegar a uma centena (dentro de um mesmo domínio, até).
Isso ocorre porque a natureza das unidades de informação e a sua quantidade são reduzidas, mas os modos de combiná-las variam bastante. O nome do autor, por exemplo, pode ser anunciado junto ao título ou anteceder o título. Pode, inclusive, nem aparecer no primeiro e no segundo parágrafo. A crítica, da mesma forma, pode aparecer já no início da resenha ou ser anunciada apenas no último parágrafo da resenha e assim por diante.
Os que escrevem resenhas de crítica literária obedecem e consolidam um padrão. Os que criticam obras da Medicina também obedecem e consolidam uma estrutura retórica. Esse padrão, contudo, somente ganha visibilidade após examinarmos centenas de resenhas de uma mesma área, produzidas ao longo de décadas.
É importante conhecer essas estruturas retóricas porque, em geral, nos comunicamos por meio de textos padronizados. Postar no Instagram, por exemplo, exige parágrafos curtos e número máximo de 10 slides por mensagem. Manifestar descontentamento com a ação genocida do atual Presidente da República no Twitter exige apenas uma frase e o uso de exclamações repetidas.
A coluna 1, do quadro 1, apresenta o padrão retórico de resenhas acadêmicas nas áreas de Teoria da Literatura e História. Observe a natureza das unidades de informação: “definição do tema/assunto”, “explicitação da abordagem utilizada”, “registro dos objetivos”, “delimitação dos leitores potenciais”, “identificação da autoria”, “avaliação inicial da obra” etc.
Já a coluna 2, do quadro 1, informa sobre um padrão retórico de resenhas acadêmicas na área de História. Observe a introdução de outras unidades de informação: “contextualização da obra na trajetória do domínio acadêmico”, “contextualização da obra no ato do lançamento”, “contextualização da obra na trajetória do autor” etc.
Observe, também, que os três movimentos da resenha de História estão renomeados como: “início”, “progressão” e “finalização”. Além disso, várias unidades de informação (“registro dos objetivos” e “explicitação da abordagem utilizada”, por exemplo) estão presentes nas estruturas retóricas da resenha de História e de Teoria Literária, mas foram situadas em partes diferentes.
Até aqui, vimos que as resenhas são construídas dentro de determinados padrões retóricos que possuem especificidades em cada domínio acadêmico.
Vimos, ainda, que esses padrões retóricos são constituídos por unidades de informação comuns e unidades de informação variáveis, também dependentes de cada domínio acadêmico.
Agora é o momento de vocês consolidarem essa informação, a partir da investigação direta. Proponho, então, que leiam resenhas sobre o tema/problema/categoria que orienta o livro selecionado para a leitura e crítica, identificando, em cada uma delas, as variadas unidades de informação, a exemplo do que sugere A. R. Machado (2020).
Referências
CARVALHO, Gisele. Resenhas acadêmicas. um guia rápido para escritores de primeira viagem. Disponível em<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4548899/mod_resource/content/1/slidex.tips_resenhas-academicas-um-guia-rapido-para-escritores-de-primeira-viagem-gisele-de-carvalho.pdf> Capturado em 4 jul. 2020. [Com adaptações estilísticas].
FREITAS, Itamar; OLIVEIRA, Maria Margarida de. Resenhando como historiadores. Aracaju: Criação, 2021 (No Prelo).
MACHADO, Anna RAchel; LOUSADA, Eliane; ABREU-TARDELLI, Lilia Santos. Resenha. São Paulo: Parábola, 2020.
Para citar este texto:
FREITAS, Itamar; OLIVEIRA, Maria Margarida Dias de. Estrutura retórica da resenha. In: Resenhando como historiadores. Aracaju: Criação, 2021. [No Prelo].
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