Não se pode mais aventar impunemente sobre a invisibilidade da população negra no universo acadêmico brasileiro. Nos últimos anos, principalmente como produto dos Programas de Pós-Graduação em História dispersos pelo país, inúmeras pesquisas têm sido realizadas para desvanecer este miasma que encobria a população afrodescendente.
Entretanto, sobre a africanidade desta população, sobre o fenômeno diaspórico transatlântico, desde as experiências étnico-culturais do continente de origem até as multiformes reinvenções étnicas no Novo Mundo, muito existe para ser investigado e escrito.
O Dossiê Escravidão e Experiências Atlânticas foi pensado para ser apenas um, porém a abundância de trabalhos recebidos e a generosidade da editora desta revista nos permitiu uma continuação.
Roquinaldo Ferreira é professor do departamento de história da Universidade de Virginia (EUA), onde leciona história da África. Seu artigo trata do processo de abolição do tráfico atlântico de escravos em Angola, na primeira metade do século XIX.
Rodrigo Weimer é doutorando na Universidade Federal Fluminense, orientando da professora Hebe Mattos. Em sua dissertação defendida junto ao PPGH-Unisinos, Rodrigo investiu em uma pesquisa no pós-abolição, analisando as práticas de nominação da população negra.1 Seu artigo persiste no pós-abolição e analisa, através da história oral, como os descendentes de escravos de uma área rural do litoral norte do RS, vivenciaram a experiência de deslocamento para o meio urbano, em um contexto histórico de expansão dos direitos trabalhistas nas cidades, no período varguista.
O historiador Jonis Freire é professor do PPGH da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO / Niterói) e defendeu doutorado na Universidade Estadual de Campinas, orientado pelo professor Dr. Robert Slenes, com a tese intitulada: “Escravidão e família escrava na Zona da Mata mineira oitocentista”. O seu artigo, neste dossiê, discute as possibilidades de manutenção da família escrava em três grandes propriedades escravistas da Vila de Santo Antonio do Paraibuna, considerando o tenso momento de falecimento dos senhores.
Duas notas de pesquisa encerram o dossiê. A primeira delas, de autoria dos historiadores Paulo Staudt Moreira e Natália Pinto, aborda o tema da saúde escrava, analisando os registros paroquiais de óbitos das duas cidades mais importantes da província do Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XIX – Porto Alegre e Pelotas.
Yuko Miki é professora do Departamento de História da Washington University in St. Louis e sua pesquisa intitula-se Insurgent Geographies: Blacks, Indians and the Colonization of Nineteenth-Century Brazil. Sua Nota de Pesquisa versa sobre uma região pouco explorada, a fronteira das províncias da Bahia e do Espírito Santo, onde o tráfico atlântico provocou um encontro íntimo entre povos africanos (registrados nos documentos como Angolas, Nagôs, Jejes, Moçambiques, Haussas e Guinés) e a população indígena.
Desejamos a todos uma boa leitura na expectativa de que este dossiê suscite debates e fomente novas perspectivas de pesquisa.
Nota
1. WEIMER, R. de A. 2008. Os nomes da liberdade: ex-escravos na serra gaúcha no pós-abolição. São Leopoldo, Oikos.
Paulo Roberto Staudt Moreira
Flávio Gomes
MOREIRA, Paulo Roberto Staudt; GOMES, Flávio. Apresentação. História Unisinos, São Leopoldo, v.15, n.1., janeiro / abril, 2011. Acessar publicação original [DR]
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