Entre a sala de aula, pesquisas e historiografias: trajetórias na construção dos profissionais de História | Das Amazônias | 2020

O caminho da Revista Discente DAS AMAZÔNIAS se iniciou em dezembro de 2018 por ideia e esforços de um grupo de cursistas da licenciatura e do bacharelado em História do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre, sob a tutela dos coordenadores de curso e do chefe de Centro, visando estimular a publicação da produção acadêmica em nossa área. O empenho desses pioneiros, a quem externamos nossa gratidão, nos lançou ao anseio e compromisso de contribuir com nosso periódico para a melhoria na construção de experiências formativas dos historiadores e professores de história.

Nesse sentido a ideia era propiciar aos trabalhos produzidos no decorrer da formação dos acadêmicos maior visibilidade em âmbito interno e externo a nossa Instituição. Para tanto, se adotou o modelo semestral, de livre acesso, com recebimento em fluxo contínuo de artigos e resenhas. De lá para cá já foram três números, tendo sido o primeiro multitemático e os dois últimos destinados a falar sobre o autoritarismo no Brasil.

Assim, em 2019 a Revista Discente DAS AMAZÔNIAS completou seu primeiro ano de existência com a publicação dos dois dossiês compostos por artigos sobre o autoritarismo brasileiro em suas diferentes vertentes, perpassando do Estado Novo ao Regime de 1964. Foram apresentados artigos discutindo a cultura tutelada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda de Vargas até as manifestações culturais de resistência dentro do período de 1964 a 1985 (sem perder de vista as lutas por direitos de mulheres, indígenas, comunidade LGBTQ+) e as mostras apologéticas ao Regime Militar em 2015.

A opção da dupla dose de abordagem temática foi motivada pelas pautas dos discentes dos cursos de História da Ufac, que buscavam ao analisar a História do Brasil compreender a guinada autoritária e polarizada da sociedade brasileira a partir do pleito eleitoral de 2018. Tais caminhos nos levaram a conclusão semelhante a Lília M. Schwarcz (2019) de que “História não é bula de remédio”, entretanto nos compele a rememorar o passado para pensar o presente e resistir.

Neste sentido, o primeiro semestre de 2020 marca o lançamento do presente número, com o título “Entre a sala de aula, pesquisas e historiografias: trajetórias na construção dos profissionais de História”, que é o quarto exemplar da Revista Discente DAS AMAZONIAS, nos causando alegrias com a consolidação da periodicidade de nosso trabalho editorial.

A primeira parte do volume se destinada a articulação entre o ensino e pesquisa, apresentada nas memórias em formato de artigo dos nossos cursistas no Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR). Esses escritos coletivos se constituíram a partir da disciplina de Pesquisa Histórica II, em que foi elaborado e aplicado instrumento de investigação sobre as vivências desses educadores.

A força desses textos adveio da riqueza de relatos das experiências interseccionais, enquanto discentes na UFAC e docentes em suas comunidades ao longo do trajeto no ensino superior. Isto porque, os licenciandos ingressaram em um curso destinado a formar professores já atuantes e ainda sem graduação, ou que quando a tivessem fosse em áreas distintas da qual estavam ensinando.

A licenciatura em História ministrada no PARFOR no campus Floresta da UFAC, situado em Cruzeiro do Sul, atendeu a professores que trabalham nas escolas rurais daquele município e das cidades de Mâncio Lima, Rodrigues Alves no Acre, acrescido de profissionais da educação de Ipixuna no Amazonas. Para isso, foi necessário que o curso funcionasse em caráter modular, durante os meses de janeiro, fevereiro, março e agosto entre os anos de 2017, 2018 e 2019, encerrando as ações no primeiro trimestre de 2020.

O formato em módulos diferiu dos moldes tradicionais aplicados no dito curso “regular” organizado em oito semestre letivos 2930 horas e, com jornadas diárias de quatro a seis horas aulas, em funcionamento no campus Sede da UFAC. Modulação representou a integralização de disciplinas de sessenta a cento e trinta e cinco horas-aulas em encontros de seis a treze dias e meio seguidos, com total diário de dez horas-aulas. Caracterizando a obrigação de jornada integral a fim de cumprir a carga horária e o inteiro teor do Projeto Pedagógico Curricular.1

Completar este percurso para o público de licenciatura em História do PARFOR não foi apenas um desafio pela quantidade de conteúdos e aulas de um dia, ou pela concentração das disciplinas em períodos subsequentes. Importante é dizer que a maior parte dos cursistas se enquadram na categoria dos contratos provisórios, levando a finalização ou suspensão dos seus vínculos empregatícios durante as temporadas de estudo passadas no Campus Floresta. Igualmente relevante é considerar que os alunos e alunas do PARFOR não receberam nenhum tipo de bolsa.

Demonstrando a nosso ver a perseverança e o compromisso desses cursistas com a educação. Isso posto, se por um lado em alguns de seus textos não há rígido rigor com a estrutura de artigos, compreendemos a extrema importância desses registros como prova de resiliência dos educadores face aos desmontes promovidos pelo governo brasileiro.

Desmantelamento e dissabores externados na banalização da vida ante o descaso do governo federal a respeito do combate a pandemia da Covid-19. Descontentamento acrescido das manifestações públicas favoráveis as práticas antidemocráticas, pelo recente veto presidencial ao reconhecimento da profissão de historiador e quase extinção das iniciações científicas na Área de Humanas.

De tal modo, a Revista Discente DAS AMAZÔNIAS chega ao quarto exemplar em meio ao agravamento das crises sanitária, econômica, e política, refletindo no nosso comprometimento social dos trabalhos publicados em nossas páginas. E de tal modo, buscando fortalecendo a trilha dos diálogos sobre educação temos reflexões tocantes aos chamados institutos normais superiores e das relações étnico-raciais com o “blackface”.

Numa segunda etapa dessa edição coloca-se em evidência a escrita da história na dicotomia entre memória e identidade, acompanhada da análise da obra de Manoelito de Ornellas. Ainda nessa etapa da revista encontramos textos a respeito da violência em diferentes nuances, indo das agressões contra mulheres, aos conflitos fundiários no Seringal Nova Empresa e a mobilidade dos cabanos. Fechando a edição, mantendo nossa tradição fílmicas, se expõe a resenha do premiado Parasita do diretor Bong Joon Ho, trazendo incomoda analogia com o Brasil em tempos de Covid-19.

Os produtos dessa edição DAS AMAZÔNIAS perpassam âmbitos mais amplos que os periódicos acadêmicos, agora também estamos dialogando com outras roupagens para o debate histórico empregando as redes sociais como canais de comunicação para as chamadas a publicação, dicas de filmes e livros. E nesse contexto começamos a realizar as atividades do projeto Live em Ação, trazendo a apresentação de falas dos pesquisadores convidados que debatem e interagem com os seguidores carinhosamente chamados de “amazônicos”. As nossas empreitadas em favor da História continuarão no ciberespaço e em publicações futuras, porque, apesar dos caminhos tortuosos: resistimos!


Apresentadora

Nedy Bianca Medeiros de Albuquerque

Nota

1 Professores e PPC são os mesmos dos cursistas da licenciatura em caráter “regular” do campus Sede. E não obstante a atual exigência sobre o quantitativo de carga horária dos cursos de licenciatura ser de 3000 horas, vale lembrar que o PPC em uso quando da abertura da turma do PARFOR continha o quantitativo menor e então válido de 2930. O referido PPC foi aprovado em 2014 e entrou em funcionamento a partir de 2015.


Referências desse dossiê

ALBUQUERQUE, Nedy Bianca Medeiros de. Editorial. Das Amazônias. Rio Branco, v.3, n.1, Jan./jul. 2020. Acessar publicação original [DR]

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