Desafios no ensino de História
Nas últimas décadas as discussões sobre o ensino de História foram ampliadas, considerando, sobretudo a realidade educacional brasileira. Diversos aspectos do ensino- aprendizagem em História passaram a ser temas de estudo e publicados, tais como: história do ensino de História, livros didáticos e paradidáticos, produção do conhecimento, currículos, linguagens, novas tecnologias, saberes, diversidade, formação de professores, entre outros. Como se observa, há um conjunto de horizontes que emergiram, visando tornar o ensino de História mais participativo e interpretativo. Nesse percurso, há um profícuo e intenso debate sobre o papel do professor e da própria disciplina História, cujas abordagens filiadas às chamadas “Historiografia Tradicional”, por um lado, e da “Historiografia Renovada”, por outro, têm sido permanentemente objetos dos debates em diferentes fóruns, o que demonstra a necessidade de se avançar na discussão sobre a disciplina de História, bem como sobre os métodos a serem utilizados em sala de aula
Os cursos de Licenciatura em História têm buscado responder a essas questões e às perspectivas criadas em torno das mudanças esperadas no ensino e à necessidade de aproximar o ensino e a pesquisa em sala de aula, o que pode resultar no aprofundamento da profissionalização do professor/historiador. Tal esforço pode ser verificado a partir das disciplinas de práticas de ensino e de estágio supervisionado em História e dos projetos de pesquisas desenvolvidos nos cursos de graduação e nos de pós-graduação no país.
Além disso, um dos desafios que temos a frente é a inclusão de conteúdos de História da África e de História Indígena nas aulas de História da educação básica, conforme as Leis 11.645/ 08 e 10.639/03. Desafio que atinge as universidades, afinal, elas formam os professores. Neste caso, precisamos rever as matrizes curriculares, e muitas estão revendo, no sentido de tornar as disciplinas de História África e a História Indígena obrigatórias no ensino superior, isto para que os graduandos em História possam ter informações para ministrar esses conteúdos quando forem para a sala de aula1.
Outro aspecto a ser considerado relaciona-se à acelerada produção das informações resultantes das inovações tecnológicas. Diante desses “novos tempos”, como seria possível democratizar tais informações em sala de aula? Os alunos, em seu conjunto, dispõem de recursos materiais e formação intelectual desejáveis? Utilizar-se de novos recursos tecnológicos poderá condicionar um ensino de História “menos tedioso” para os alunos?
Ainda, a utilização de diferentes documentos em sala de aula, por exemplo, dá-nos a medida dos caminhos que podemos seguir, visando ao debate que não se prenda apenas aos livros didáticos. Nesse sentido, a utilização de instrumentos como recortes de jornais e/ou análise de cronistas poderão constituir-se em importantes elementos a serem explorados nas aulas. É cada vez mais frequente o uso de documentos em livros didáticos. Entre outras coisas, a leitura e a pesquisa dos documentos encontrados em livros didáticos permite que o aluno possa compreender alteridades e ampliar seu vocabulário, além de melhor interpretar imagens, tabelas, sons, dentre outros. Para que esteja habilitado a fazê-lo, deverá ser ensinado e dispor de conhecimentos específicos para a leitura e interpretação de tais linguagens.
Com a expectativa de abrir/ persistir num diálogo sobre estas e outras questões, cremos que a leitura deste número de Fronteiras poderá suscitar e aprofundar algumas reflexões sobre o ensino de História. Neste sentido, Luis Fernando Cerri analisa as características principais do currículo de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Já Flavia Heloisa Caimi discute a formação inicial do professor de História, chamando atenção para a necessidade de acentuar o compromisso da licenciatura em História com a formação de um profissional reflexivo, capaz de compreender tanto os seus processos cognitivos quanto os de seus alunos. Considerando também a formação de professores e o universo escolar, Maria Lima apresenta uma reflexão sobre a necessidade de se considerar tanto os saberes dos professores em serviço, quanto aqueles dos estudantes de graduação em uma perspectiva sócio-histórica.
Ao refletir sobre o ensino de História Indígena, Edson Machado de Brito analisa as possibilidades de inovação no diálogo do ensino de História com a cultura indígena nas escolas brasileiras (escolas indígenas e escolas não-índígenas). Por sua vez, Anderson Ribeiro Oliva apresenta os resultados obtidos pelo projeto de pesquisa “A África nos Bancos Escolares” (2007 e 2008), no Recôncavo Baiano, constatando a fusão dos cenários imagéticos construídos por jovens estudantes do Recôncavo com algumas referências associadas à África pelo imaginário social brasileiro. Ainda referente ao dossiê, destacamos a resenha apresentada por Renilson Rosa Ribeiro.
Assim, considerando o avanço das discussões sobre o ensino de História nas últimas décadas, propusemos este dossiê e esperamos contribuir nas reflexões sobre o ensino e incentivar novas pesquisas. Para, além disso, a revista conta com a sessão de artigos livres, constituída neste número por quatro excelentes textos que dialogam com a historiografia brasileira e internacional, com as discussões sobre a memória e analisam diferentes fontes documentais.
Nota
1. Nessa perspectiva, o curso de Licenciatura em História da UFGD, no ano de 2008, contratou dois professores para a área de ensino de História e desde 2007 conta com o Laboratório de Ensino de História. Além disso, no âmbito da universidade existe o Programa de Pesquisa em Ensino – Prolicen, dos quais desde a sua implantação já teve cinco planos de pesquisas desenvolvidos por alunos da Graduação em História, sob orientações dos professores Benicia Couto de Oliveira, Nauk Maria de Jesus, Eliazar João da Silva e Antonio Dari Ramos. As pesquisas abordaram o ensino de História e as novas tecnologias; os livros didáticos; ENEM, as representações dos indígenas entre alunos do ensino médio e a inserção de conteúdos de História da África nas escolas de educação básica da cidade de Dourados.
Nauk Maria de Jesus – Professora Adjunta do Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em História – UFGD.
Eliazar João da Silva – Professor Adjunto do Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em História-UFGD
Antonio D. Ramos – Professor Adjunto do Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em História-UFGD
JESUS, Nauk Maria de; RAMOS Antonio D.; SILVA, Eliazar João da. Apresentação. Fronteiras: Revista de História, Dourados-MS, v. 11, n. 20, jul/dez, 2009. Acessar publicação original [DR]
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