Ensino de História e Saberes Históricos / Sæculum / 2006

Entregamos ao leitor o segundo número do ano de 2006, honrando nosso compromisso de organização de dois Dossiês: o primeiro, sobre História e Região, e este, sobre Ensino de História e Saberes Históricos. Dessa forma, as publicações da Sæculum neste ano contemplaram reflexões acerca das duas linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Paraíba cuja área de concentração é História e Cultura Histórica.

Este Dossiê apresenta nove artigos que não têm a pretensão de esgotar os temas e análises sobre Ensino de História e Saberes Históricos, mas pautar futuras pesquisas e permitir novos olhares sobre o campo de pesquisa. Rosa Godoy Silveira problematiza o ensino de História, apontando como nele se elidem o estudo e o debate sobre os conflitos presentes nas sociedades, na medida em que o conhecimento histórico é ministrado como um dado e não como uma construção; Geraldina Maria da Silva e Marlene de Oliveira discutem a prática pedagógica da história e da geografia, a violência simbólica produzida por essa prática e a urgência de repensá-la como construção de cidadania plena; Francisco Chaves Bezerra discute a criação, estadualização e federalização do Ensino Superior na Paraíba e recupera o debate historiográfico no Brasil e na Paraíba referente ao tema, refletindo sobre o projeto de educação de nível superior que foi pensado e executado em todo país a partir da década de 1930; Rosana Ulhôa Botelho descreve uma pesquisa associada à prática pedagógica em que alunos de História, dentre outros cursos de uma instituição de ensino superior de Brasília, participaram como “fonte da pesquisa” e, ao mesmo tempo, como analistas do material produzido sobre a questão da adoção de “cotas” para estudantes afro-descendentes em universidades brasileiras; Vilma de Lurdes Barbosa se propõe a refletir especificamente sobre aspectos relativos ao ensino de história e de história local, na perspectiva de enfocar a sua aplicabilidade e significado para professores e alunos; Helenice Aparecida Bastos Rocha apresenta resultados de pesquisa sobre o ensino de história na escola em que se investiga a relação entre a linguagem e o conteúdo específico, ou conhecimento histórico escolar, problematizada a partir de uma abordagem discursiva e de inspiração etnográfica; Andreza Oliveira Andrade discute como o ensino de história, por meio das verdades e representações veiculadas pelo currículo escolar e pelos livros didáticos, contribui para a construção e reafirmação cotidianas das hierarquias sócio-culturais de gênero; Marcos Antônio Caixeta Rassi e Selva Guimarães Fonseca analisam os impactos da formação inicial de professores de história nas práticas desenvolvidas no ensino fundamental e médio, o modo como os saberes iniciais foram sendo apreendidos e como, ao longo das experiências docentes, foram articulando-se às práticas e metamorfoseando-se. Finalmente, Emerson Dionísio G. de Oliveira reflete acerca do ensino da história a partir dos conceitos de “leitura” redefinidos pelas novas mídias, em particular sobre os trânsitos de informações e os “lugares” de saber.

Além do Dossiê Ensino de História e Saberes Históricos este número apresenta artigos de Serioja R. C. Mariano, que analisa os motins militares na década de 1820 na Paraíba, inserindo-os em um quadro mais amplo de construção do Estado Nacional, sem deixar de apontar as especificidades locais; de Pierre Normando Gomes da Silva e Marcello Bulhões Martins, onde os autores analisam a obra A Educação Nacional (1890), de José Veríssimo, com o intuito de vistoriar o cotidiano social e as proposições pedagógicas de acepção de educação e de corpo que marcaram a formação do sentimento nacional e a cultura pedagógica que daí surgiram; Lourenço Conceição Gomes, por sua vez, traz uma interessante discussão comparativa entre as fortalezas de Natal, no Rio Grande do Norte, e da Ribeira Grande, em Cabo Verde, analisando o sentido simbólico de cada uma delas para a conquista e controle da colônia; Tatyana de Amaral Maia mostra, com base na correspondência pessoal, o entrelaçamento das vidas de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Darcy Ribeiro. Concluindo ainda temos a resenha assinada por Regina Célia Gonçalves, que esmiúça o livro Operários de uma vinha estéril, de Charlotte Castelnau-L’Estoile, obra que analisa competentemente a atuação da Companhia de Jesus no Brasil Colonial.

Diversos temas, diversos objetos, enfoques também diversos. Sæculum marca sua posição editorial de dar voz e espaço aos pesquisadores do campo da História, esperando que os textos aqui publicados suscitem profícuos debates. À leitura, então…


Equipe Editorial. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.15, 2006. Acessar publicação original [DR]

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