O presente Dossiê, Ensino de História, “A História na Sala de Aula”, foi concebido tendo em vista a crescente necessidade de ampliar as discussões sobre a História em sua relação com o ensino, em especial, com as pesquisas articuladas aos saberes docentes na sala de aula. Pensamos no dinamismo da História e do seu ensino à medida que consideramos professores e alunos como sujeitos do conhecimento histórico. Conforme Silva e Fonseca (2007 p.63-64): “É nas relações entre professores, alunos, saberes, materiais, fontes e suportes que os currículos são, de fato, reconstruídos”.
Há que reconhecer que, com a institucionalização da Histórica no século XIX, a disciplina foi-se revestindo de um caráter científico, restrito apenas ao ensino superior. Porém, sabe-se que o conhecimento das regras e princípios que norteiam a escrita da história auxilia na capacidade de leitura da realidade, repleta de discursos de diferentes origens. Assim, professores, alunos e a sociedade em geral podem ser “habilitados” a ler esses diferentes discursos, como afirmam Marieta de Moraes Ferreira e Renato Franco (2016, p.10): “A abundância de informação acessáveis através de várias mídias (internet, televisão, vídeos, periódicos), que se apresentam de maneira rápida e fragmentada, exige uma capacidade de diferenciação, avaliação e de perspectiva temporal que só a História pode oferecer”.
Sem dúvida, a História é um conhecimento válido e pode ganhar dinamismo à medida que professores e alunos repensem temas, objetos e metodologias. Os pesquisadores têm sido sensíveis frente às inquietações sobre o ensino de História na contemporaneidade. É com alegria que compartilhamos alguns desses importantes estudos na expectativa de fomentar uma fecunda reflexão acerca dessas questões, não apenas das dificuldades enfrentadas pelos professores de História no cotidiano escolar, mas, principalmente, das potencialidades da História e do ensino de História no início do século XXI.
Iniciando o percurso dos olhares sobre o ensino da História, Samuel da Silva Alves e Cleusa Maria Gomes Graebin refletem acerca das possibilidades de utilização de fontes oriundas de arquivos particulares no ensino de História, com ênfase nas estratégias de mobilização eleitoral utilizadas durante o período de 1945-1964, no Rio Grande do Sul. Foram utilizadas fontes oriundas do arquivo particular de um político local, que se encontra custodiado no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Após refletirem sobre arquivos particulares, história política, apresentaram as características do corpus documental e elaboraram uma sequência didática a ser trabalhada com alunos do terceiro ano do Ensino Médio.
Robson Dantas dedica-se ao estudo dos relatos de experiências com professores da educação básica, visando a transformar a aula em um espaço de iniciação à pesquisa, pelo uso do jornal em sala de aula. Após discorrer sobre fontes e uso das fontes como estratégia de diálogo com as experiências sociais dos alunos, o autor propõe a utilização dos jornais para perceber como se constrói o discurso da imprensa. Ao final, compreendeu-se que professores e alunos, pela leitura crítica da realidade em que vivem, podem, em conjunto, selecionar fontes, reuni-las em temas e problematizá-las.
Maristane de Sousa Rosa Sauimbo e Danielly Morais Rocha tratam do tear dos penteados africanos, pelo viés cultural, para o ensino-aprendizagem de História da África Antiga em sala de aula. Os olhares atentos das pesquisadoras são direcionados à comparação das técnicas de manipulação dos cabelos entre sociedades dinásticas do Nilo e a sociedade pastoril do povo Afar na moderna Etiópia, considerando os cabelos um reflexo dos aspectos materiais da cultura africana presentes não apenas no passado remoto do continente.
Tiese Teixeira Jr analisa as narrativas de alunos do ensino médio acerca do ensino de História, em contextos de leitura e de escrita. Defende que o uso da linguagem na forma falada ou escrita pode ser uma estratégia facilitadora do processo de ensino e aprendizagem, numa perspectiva de construção de significados na relação com o saber histórico, além disso, ressalta sua importância como instrumento de fortalecimento das identidades e da cidadania no cotidiano escolar. A análise se concentra num corpus retirado de narrativas escritas feitas pelos alunos do primeiro ano do ensino médio, da escola Estadual Anunciada Chaves, do município de Goianésia do Pará, estado do Pará.
Maria Clara Sales Carneiro Sampaio, Valéria Moreira Coelho de Melo e Erinaldo Cavalcanti refletem acerca da formação docente referente aos conteúdos de ensino de História das Américas e História Indígena em diálogo com a Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Eles analisam as experiências vividas na Faculdade de História (FAHIST) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), na cidade de Marabá, na Amazônia Oriental.
Eliane Leite Barbosa Bringel e Vasni de Almeida tratam das possibilidades das narrativas fílmicas como recurso didático-pedagógico nas aulas de História. Os filmes escolhido foram a “A História das Coisas”, de Annie Leonard (2007), e “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin (1936). Os autores evidenciaram a riqueza do uso dos filmes em sala de aula ao contribuir para a (des)construção do conhecimento histórico.
Pedro Luiz do Nascimento Neto analisa a formação do samba e a sua incorporação na tradição cultural brasileira. Ele aponta ainda como esse importante símbolo da cultura brasileira pode ser utilizado no contexto da sala de aula. Já Marcelo Marcos de Araújo e Braz Batista Vas abordam o ensino e a aprendizagem em História na perspectiva da didática da História, de Jörn Rüsen. Para eles, o ensino da história, segundo o conceito da didática da história, sempre em diálogo com o lugar socialmente ocupado pelos alunos, pode tornar o conhecimento histórico significativo para eles.
Neste dossiê foram incluídos três artigos com temáticas livres. Lorena de Barros Teixeira Sousa e Cristiane Roque de Almeida tratam da permanência da violência contra a mulher na contramão do avanço no plano legal. Focadas na legislação que marcaram os direitos das mulheres, elas revelam que, apesar dos direitos conquistados, a mesma legislação que os garantiu, utiliza-os como instrumentos que formalizam a diferença dos sexos.
Ignácio Telesca procura compreender o Paraguai, em meados do século XIX, período anterior à Guerra. Trata-se da sociedade paraguaia e da conformação do Estado, em especial, da relação do Estado com os povos indígenas. A fonte utilizada é o decreto de supressão dos Pueblos de Indios em 1848.
Edna Sousa Cruz abordou a internacionalização do ensino básico tendo como referência o Programa de Desenvolvimento para Professores de Inglês-PDPI. Com base na metodologia da História Oral, foram feitas coleta e análise interpretativa da narrativa dos entrevistados.
Enfim, esperamos levantar inquietações e questionamentos que estimulem novas experiências e reflexões sobre a História e seu ensino.
Marieta de Moraes Ferreira – UFRJ-PPGHIS e FGV.
Vera Lúcia Caixeta – UFT.
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