Educação Museal | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020
Em 2018 celebraram-se os sessenta anos da realização do Seminário Regional da Unesco sobre a função educativa dos museus, sediado no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, em setembro de 1958. O evento e o seu relatório [1] produzido por Georges Henry Rivière representam um marco internacional para a educação museal, que mereceu ser destacado em seu sexagésimo aniversário, especialmente por manter-se ainda atual.
Por sugestão da Rede de Educadores em Museus e Centros Culturais do Rio de Janeiro (REM-RJ), que comemorou seus quinze anos de fundação, esse tema pautou a realização de dois seminários em uma parceria que envolveu a REM-RJ, o Museu Histórico Nacional e o Museu da República. Sendo parte das atividades da 12a Primavera dos Museus, as celebrações começaram com o seminário A Função Educacional dos Museus 60 anos depois, realizado no Museu da República, no Museu Imperial, no Museu de Arte Moderna, no Museu das Remoções e no Museu Histórico Nacional, incluindo mesas redondas, conferências e visitas técnicas, entre os dias 18 e 21 de setembro de 2018.
Na sequência, encerrando as atividades da parceria, ocorreu entre os dias 9 e 11 de outubro de 2018, o Seminário Museu e Educação: 60 anos da Declaração do Rio de Janeiro.[2] Essa versão do Seminário Internacional do Museu Histórico Nacional, que celebra em outubro o aniversário do museu, contou com convidados internacionais e nacionais. Foram realizadas quatro conferências, duas mesas redondas, além de quatro painéis temáticos com a apresentação de 43 comunicações orais, e de uma mesa de relatos de experiências nos museus do Ibram.3 O evento contou ainda com uma exposição sobre a história da educação museal no Brasil, que reuniu acervo bibliográfico do Museu Histórico Nacional e de educadores colaboradores.
Este dossiê dos Anais do Museu Histórico Nacional é uma edição especial que contém artigos com os temas das apresentações dos conferencistas e palestrantes do seminário realizado no MHN. Na conferência de abertura, Mário Chagas, museólogo, poeta e professor, refletiu sobre o tema do seminário, e aqui seu artigo “O Seminário Regional da Unesco sobre a função educativa dos museus (1958): sessenta anos depois” abre o dossiê. Baseado na fala do autor, ele analisa o contexto e os bastidores do evento de 1958, sua composição, resultados e documentos históricos de referência.
Em seguida, na primeira mesa redonda, Andrea Costa, educadora museal da Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional e professora da Escola de Museologia da Unirio, abordou a contribuição do Museu Nacional para a constituição da história e da memória dos projetos e ações em educação museal no Brasil. No artigo “A educação museal no Brasil pré-seminário de 1958: a atuação precursora do Museu Nacional”, escrito em coautoria com a professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Guaracira Gouvêa, as autoras ressaltam a atuação intelectual e prática de educadores e demais profissionais de museus que atuaram no período anterior a 1958.
Na mesma mesa, Maria Esther Alvarez Valente, pesquisadora da Coordenação de Educação em Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e docente do curso de pós-graduação Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia (PPACTMAST), apresentou um panorama histórico do desenvolvimento da educação museal no Brasil. Seu artigo, “Panorama da história da educação museal no Brasil: uma reflexão”, aborda aspectos educativos que prevaleceram nos museus nos séculos XIX e XX, com especial atenção às décadas que antecederam o seminário de 1958 e destacando a relação museu-escola.
No mesmo debate, Milene Chiovatto, educadora coordenadora do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo e, naquele momento do evento, presidente do Comitê de Educação e Ação Cultural (CECA) do Conselho Internacional de Museus (ICOM), narra em “CECA- ICOM: suas raízes, historias, atividades e dilemas contemporâneos” os atos de criação do ICOM e do CECA que se deram no contexto do seminário de 1958. Sublinha influências e permanências nos dias atuais das discussões realizadas por essas organizações, evidenciando a importância dos desdobramentos do evento na constituição das instituições e suas práticas, e de todo o pensamento museal na segunda metade do século XX, e, ainda hoje, com destaque para as ideias de cultura, democracia cultural e educação que engendraram.
Na segunda mesa redonda, Fernanda Castro, educadora do Museu Histórico Nacional e gestora da Rede de Educadores em Museus do Brasil, expôs um panorama das políticas públicas de educação museal no Brasil. No artigo “História das políticas públicas de educação museal no Brasil” ilumina a participação da sociedade civil organizada na formação dos campos político, profissional e prático da educação museal, pontuando que a prática e atuação dos educadores museais historicamente orientou a constituição de políticas públicas para a área, e que as sugestões do evento de 1958 refletem-se ainda nas políticas contemporâneas. Toma por base uma análise comparativa entre o relatório daquele seminário regional e a Política Nacional de Educação Museal (PNEM), definida em 2017 pelo IBRAM.
Por fim, Francisco Régis Lopes Ramos, docente da área de História, na Universidade Federal do Ceará, traz-nos um artigo referente à conferência de encerramento do Seminário do MHN. Em “A história sem vergonha do tempo: uma leitura da Política Nacional de Educação Museal (PNEM)”, brindando-nos com uma mescla de literatura, história e memória da trajetória de educação museal no Brasil até a constituição da PNEM. Num exercício de interdisciplinaridade, o artigo nos leva a experimentar etimologias, pesquisas, instituições e lembranças afetivas da conformação de uma prática educativa que tem tanto dos profissionais, quanto dos próprios seres viventes das experiências educativas em museus.
Portanto, trazemos ao volume 52 dos Anais do Museu Histórico Nacional uma degustação memorial do que foi o Seminário Museu e Educação: 60 anos da Declaração do Rio de Janeiro. Esperamos que os textos aqui apresentados contribuam para a consolidação do campo da educação museal, sua história e trajetória política, estabelecendo pontes entre o passado e o presente. Acreditamos que este dossiê colabore para a difusão do conhecimento específico produzido e que sirva para a constante reflexão sobre a prática educativa museal, apoiando sua profissionalização e o fortalecimento de um campo científico próprio pautado na prática, na teoria e na ação política.
Notas
1. A primeira versão completa do relatório de Georges Henry Rivière foi traduzida em português no livro publicado pelo Museu da República, fruto do seminário realizado em setembro nessa parceria: CHAGAS, M. e MACRI, M. (orgs.). A função educacional dos museus: 60 anos do Seminário Regional da Unesco. Disponível no link: http://museudarepublica.museus.gov.br/wpcontent/uploads/2019/05/Livro_seminario_WEB.pdf.
2. O nome do seminário do MHN merece uma nota. Em meio às pesquisas que deram base à organização do seminário, surgiu uma dúvida quanto à nomeação de um texto intitulado “Declaração do Rio de Janeiro”, publicado em coletânea sobre a legislação de museus, organizada pela Câmara dos Deputados: Legislação sobre museus (recurso eletrônico). Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012, disponível em: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/14599/legislacao_museus.pdf?sequence=5. O texto em questão é um extrato do relatório do evento de 1958, de George Henry Rivière, traduzido por M. Pierina Camargo e por Maria Cristina Bruno. Esta última contatada por nós, afirmou que não deu esse título à tradução, apenas traduziu o trecho selecionado, remetendo-o ao solicitante, o Instituto Brasileiro de Museus. Acreditamos que o editor da publicação criou um título para o trecho traduzido, sem fazer a necessária menção de que o relatório de Georges Henry Rivière não apresentava esse título.
3. Os resumos expandidos dos trabalhos apresentados nos painéis temáticos e na mesa de relatos de experiências integram o Caderno de Resumos do Seminário Museu e Educação de 2018, disponível na biblioteca virtual do Museu Histórico Nacional, na base Docpro.
Organizador
Fernanda Santana Rabello de Castro – Doutora em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação pela UFF, professora do PROFHISTÓRIA/UNIRIO, educadora museal no Museu Histórico Nacional/IBRAM e integrante do Comitê Gestor da Rede de Educadores em Museus do Brasil. E-mail: fernanda.castro@museus.gov.br
Referências desta apresentação
CASTRO Fernanda Santana Rabello de. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.52, p.6-10, 2020. Acessar publicação original [DR]