Educação Digital na Contemporaneidade | Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais | 2015
Esta edição da Revista n.3, reúne alguns textos apresentados no 6º Seminário Nacional do EDaPECI – realizado na Universidade Federal de Alagoas, em Maceió, maio de 2015.Trata-se do Dossiê Educação Digital na Contemporaneidade.
É uma temática atual, a qual se faz presente nas pesquisas sobre educação, ensino e aprendizagem. No afã de utilizar e aplicar a farta e emergente tecnologia na atualidade, docentes se transmutam em pesquisadores, debruçam-se sobre suas práticas e desenvolvem na maioria das vezes estudos exploratórios. O espectro das pesquisas resultantes é amplo, abarcam contextos de EAD, cursos online, jogos digitas, vídeos, audiovisuais e redes sociais entre outros assuntos. Na maioria das vezes surgem despretensiosamente, como atividade do cotidiano, porque a tecnologia adentra os muros escolares, no interior das mochilas dos jovens e se instala nas atividades e conversas dentro e fora da sala de aula.
O fato é que descobrimos quase diariamente as novidades do mundo digital, pois elas invadem todas as áreas de nossas vidas, renovando e reinventando as nossas relações com o mundo físico e social. Adotamos o novo porque nos alimentamos dos elementos do meio ambiente na medida em que são significativos, ou seja, incorporamos na nossa estrutura cognitiva aquilo que nos interessa. Em outras palavras, sempre estamos aprendendo com as novidades tecnológicas e incorporando as novas formas de interagir com a informação.
O fato impactante é que na contemporaneidade estamos dinamicamente produzindo e experimentando as frenéticas mudanças nas formas de acessar, armazenar e difundir o conhecimento. Somos sujeitos ativos que cocriam formas múltiplas de relacionamento humano e de articular informações por meio de recursos diversos, dispositivos móveis avançados, que nos permitem desenvolver processos formativos integrados às mudanças da sociedade. Hoje falamos em educação híbrida, b-m-e-learning, ubiquidade, REA (recursos educacionais abertos), MOOC (Massive Online Open Course), enfim, movimentos que revelam a ascendência de uma Educação aberta.
Nos textos deste dossiê percebemos que não há um manual ou uma possível trajetória a ser seguida para introduzir o uso de alguma tecnologia na prática docente. Há mesmo um hibridismo que nos indica a exponencial diversidade das experiências com o mundo digital. Podemos somente esboçar algumas características referentes à mudança de papeis do sujeito contemporâneo.
Uma primeira constatação da virtualidade moderna é que os modelos de comunicação em massa foram desmontados ou substituídos por um formato pós-massivo no qual os contatos são diversificados e se proliferam tanto na horizontalidade como na verticalidade. A palavra que antes era da autoridade, está liberada para todos. Todos acessam e falam com todos. Liberados também estão os textos, as imagens, os vídeos. Os sujeitos são, ao mesmo tempo, produtores e consumidores destes materiais. Essas tendências apontam para a consolidação de uma qualidade inerente e necessária ao novo sujeito da pós-modernidade: a autonomia. É interessante notar que boa parte dos artigos deste dossiê fazem referência a essa autonomia. Apresentam-na como um estado desejável e passível de ser conquistado ao exercitarem-se com aparatos e dispositivos tecnológicos. Nesta lógica os diferentes recursos aqui apresentados ganham uma importância na medida em que prometem favorecer o afloramento da capacidade autônoma do ser aprendente.
Avaliação dos Planos de Tutoria no Contexto da EAD – UFAL é o artigo que discute o plano de tutoria para docência online, o papel do tutor nestes cursos e também aborda aspectos atinentes à avaliação e tutoria. Essencialmente nos remete aos fundamentos e práticas advindas da didática e tão caras (e raras?) nos tempos atuais – materializada nos planos e planejamentos, refletindo a importância de registros norteadores da prática pedagógica para o exercício da docência contemporânea. O plano de tutoria, neste sentido, assume-se como articulador de áreas, conhecimentos e materiais didáticos, e organizador de ações colaborativas. Há que se investir ainda mais para que os professores conteudistas incorporem este poderoso recurso em suas ações docentes.
Por meio de leituras e navegações por alguns conceitos piagetianos, o texto A Importância da competência para a cooperação na prática docente em Educação a Distância: aplicação de conceitos piagetianos, traz reflexões interessantes deste grande teórico para dialogar com temáticas não menos complexas que são a tutoria e a Educação a distância. Se o mote central do texto focaliza a ideia de cooperação, o artigo tensiona aspectos fundamentais trazidos por Piaget e muito necessários para as discussões atuais sobre EaD e as práticas docentes que versa sobre o campo das possibilidades, trazendo o sujeito das possibilidades e o sujeito das necessidades como ponto de discussão. Por fim, sinaliza o tutor como um docente potente para desenvolver uma filosofia educacional que integre a ideia de cooperação, torna-se imprescindível.
Formação docente inicial na modalidade educativa a distância: memórias de egressos dos cursos de Letras/Português traz as vozes dos 11 egressos (3% do total da turma) que concluíram o curso de graduação (Letras/Português) a distância na UFES-UAB, e que ecoam notas (positivas e negativas) sobre seu processo formativo. Negativas: gerenciamento da plataforma e sinal fraco de Internet, mediação pedagógica sofrível por parte dos tutores que não davam feedbacks aos estudantes, descumprimento de prazos na entrega de atividades, correções, raros (ou inexistentes) contatos dos estudantes com os professores, etc. Positivas: o curso a distância obriga o estudante a se concentrar mais no que é proposto, a formação de grupos de estudos nos polos.
O curso “Produção de audiovisual” e sua influência na prática docente, por meio da análise do referido curso junto aos seus participantes, aborda a pesquisa desenvolvida que implicou conhecer sua aplicabilidade no processo formativo dos cursistas. A pesquisa evidenciou êxito no desenvolvimento do curso, com aproveitamento intenso dos cursistas, mas, por outro lado, ratificou a persistência de resistências no interior das escolas tanto por parte de alguns professores, como por parte dos gestores. E, do mesmo modo, faltam investimentos em recursos que propiciem a utilização dos recursos audiovisuais nas ações educacionais.
Com tema instigante, o artigo ECA e Mídia: Diálogos Interdisciplinares chama a atenção para as problemáticas abordagens auferidas pela mídia em relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente e promove esta discussão por meio de uma pesquisa-ação junto a estudantes de três cursos: Direito, Pedagogia e Ciências Sociais. Conclui-se que “Urge compreender o ECA bem como o discurso eivado de preconceito” em que sejam promovidos debates em prol “da defesa da vida e a exigência de uma vida digna para todos”.
Por meio da questão “A mídia cinematográfica contribui pedagogicamente para compreender a realidade criticamente?” o texto intitulado Práticas Interdisciplinares em Mídia e Educação: o cinema desvelando fronteiras no espaço escolar propõe, tendo como referência o filme ‘1984’ (baseado no livro homônimo de George Orwell) a aproximação entre a mídia cinema e a educação e problematiza questões humanas, que na roupagem das alegorias ficcionais, tendem a descortinar o mundo real, com vistas a transformá-la.
A concepção de aprendizagem colaborativa mediada por tecnologias educacionais em rede e a aplicação de seus conceitos na disciplina informática e sociedade do curso de licenciatura em computação foi o mote do texto Aprendizagem colaborativa mediada pelo Moodle como apoio ao ensino de Licenciatura em Computação. O texto evidencia que a integração de tecnologias educacionais em rede, na forma de AVEA Moodle, pode oferecer resultado satisfatório para promover a aprendizagem colaborativa.
As TDIC e a linguagem visual: construindo novos leitores reflete sobre a linguagem visual, apresentando-a enquanto uma linguagem dotada de significado e que apresenta uma sintaxe própria. Traz como resultado as TDIC como potencializadoras das experiências e da participação dos envolvidos, promovendo a conexão entre o mundo digital e a aquisição de novos conhecimentos e bem como estimulando o surgimento de leitores cada vez mais participativos e críticos.
A relação entre o Programa Mais Educação e as TDIC nos espaços escolares é o mote do artigo Do círculo de cultura para as redes sociais virtuais: com quem você está teclando? O programa propõe a educação integral, que poderia utilizar as tecnologias digitais no desenvolvimento das suas atividades, porém, por falta de um acompanhamento pedagógico e uma compreensão das possibilidades formativas que a cultura digital oferece, as atividades estão sendo desenvolvidas de forma pontual e sem uma articulação significativa com o contexto cibercultural dos alunos.
Uma pesquisa exploratória é apresentada no artigo Jogos digitais e aprendizagem: uma discussão sobre as possibilidades do trabalho pedagógico com crianças na Educação Infantil. O texto oferece uma reflexão a respeito da relação entre os jogos digitais e o uso crescente dos mesmos pelo público infantil de uma escola pública. Nos comentários amparados por um referencial teórico, é apresentada uma tipologia de jogos educativos digitais, tais como jogos de ação, jogos de aventura, jogos de lógica, jogos de estratégia e jogos de memória. A observação da atividade de jogar pelas crianças foi a estratégia metodológica para refletir sobre as diferentes experiências de aprendizagem envolvidas em cada situação. A constatação de que os jogos podem ser utilizados pelo professor com intencionalidade pedagógica surge na conclusão. O papel do professor como mediador também é reconhecido nestas circunstâncias para tirar o melhor proveito do potencial educativo dos jogos.
O uso das redes digitais como interface para potencializar a sociabilidade e a prática da educação bilíngue de surdos é o tema do texto As redes sociais digitais e a educação bilíngue: a emergência das “bolhas” e “espumas” surdas. O texto apresenta o conceito de bolhas sociais identitárias como uma versão da identidade digital do indivíduo. Traz também o conceito de espuma que decorre do encontro das bolhas identitárias. A leitura do artigo é vital para a compreensão da proposta de uma pedagogia surda, que vai privilegiar a cultura visual, diferente da pedagogia visual ouvinte que é acompanhada também pelo uso da audição e fala. Em seguida, uma pesquisa é apresentada com o objetivo de identificar experiências de professores com alunos surdos nas redes sociais digitais. Emergem nos comentários a importância do uso de uma metodologia visual que favoreça a constituição de um espaço surdo facilitador de trocas culturais e linguísticas.
O texto O uso do tablet na Educação Infantil: uma experiência no Colégio Pedro II apresenta o trabalho desenvolvido com crianças de três, quatro e cinco anos de idade de turmas de educação infantil as quais são estimuladas ludicamente pela informática educativa cuja proposta visa desenvolver a autonomia e a criatividade. A informática neste caso não se apresenta como um componente curricular, mas é integrada aos outros componentes tais como Movimento, Artes Visuais, Linguagem etc. Nesta perspectiva, dois projetos foram desenvolvidos: Projeto Identidade e o Projeto Animais. O Projeto Identidade envolveu as crianças com a produção e edição de imagens, vídeos utilizando tablets. Com o auxilio de um aplicativo para a criação de cenários, puderam exercitar o processo de autoria. Um passeio ao jardim Zoológico motivou o Projeto Animais, o qual gerou diversas atividades lúdicas com o uso de um aplicativo em formato de livro. A importância do professor, em seu papel mediador é enfatizado na finalização do texto.
Neste texto a discussão principal aborda o uso das TDIC nos procedimentos didáticos para o ensino de línguas. Sob o título A inclusão das TDIC nas aulas de espanhol do Curso de Línguas para a Comunidade: novas possibilidades e desafios, um relato é desenvolvido sobre os resultados da inclusão de tecnologias nas aulas de espanhol e traz elementos para compreender como os alunos podem interagir crítica e conscientemente com a informação na era digital. A temática discutida inicia-se avaliando a extensão do uso do livro didático impresso. Segue refletindo sobre: as transformações nos nossos modos de absorver informações, no âmbito virtual, principalmente nas redes sociais; os conceitos de letramento, multiletramento e hipertexto. Conclui apresentando o CLIC ou programa adotado pelo Departamento de Letras Estrangeiras da UFS para a inclusão das tecnologias nas aulas de castelhano.
Duas experiências de ensino do jornalismo digital e audiovisual no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas são apresentadas no texto Jornalismo e Tecnologia: como ensinar o jornalismo digital e audiovisual. Em sua essência tratam-se de práticas acadêmicas desenvolvidas na Agência de Notícias Ciência Alagoas e o no Grupo de Pesquisa Comulti, com vistas à formação do jornalista na divulgação científica na internet. O texto oferece um retrato do contexto pobre na região para justificar a necessidade de uma formação prática permeada de consciência política. Ao final de um relato detalhado das práticas em laboratório de televisão, emergem comentários sobre importância do papel do jornalista que articula uma linguagem mais próxima do cidadão e do interesse coletivo.
O texto A utilização do software Windows Movie Maker como recurso facilitador na construção de animações e na formação inicial de professores relata experiências de construção de animações pelos alunos de Pedagogia da Univesidade Federal de Sergipe. O software utilizado é o Movie Maker e a técnica desenvolvida é Stop Motion. No decorrer da narrativa há uma boa explicação sobre o uso do software e da técnica cinematográfica. Os participantes foram indagados sobre o uso da técnica e revelaram sentimentos de entusiasmo e dificuldade com a edição de vídeo. Relatos complementares enfatizaram os aspectos interessantes do software, endossados nas considerações finais.
Esta coletânea de textos aponta a necessidade de ampliar cada vez mais o debate e as pesquisas sobre e com a Educação Digital na contemporaneidade. Ratifica as lacunas e tensões que ainda persistem em nossa sociedade e nos espaços formativos humanos formais e não formais -, especialmente no que tange a cibercultura -, mas indica o que tem sido feito, produzido nos micro espaços de ensino e de aprendizagem por docentes, discentes e profissionais que, imersos nos contextos hodiernos, assumem as potências de mudanças como devires de um mundo transformado e transformador.
Desejamos excelente leitura e todos/as e que esta obra seja mote de muitas partilhas e mudanças. Abraços
Organizadores
Adriana Rocha Bruno – Doutora e Mestre em Educação: Curriculo pela PUCSP e licenciada em Pedagogia, é professora Adjunta do Depto. de Educação, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), professora dos Programas de PósGraduação em Educação e em Gestão e Avaliação da Educação Pública – ambos da UFJF. É líder do Grupo de Pesquisa Aprendizagem em Rede – GRUPAR, é pesquisadora da FAPEMIG e membro de duas redes internacionais de pesquisa: REGIET (Red Internacional de Grupos de Investigación en Educación y Tecnología, UPM), COLEARN (Collaborative Open Learning, The Open University). Faz atualmente seu Pós doutoramentodo na Universidade de Lisboa – Instituto de Educação, com financiamento da CAPES. Foi Coordenadora de Inovação Acadêmica e Pedagógica no Ensino Superior (CIAPES) junto à PROGRAD-UFJF no período de 2011 a 2014. Experiente na área de Educação, pesquisa, principalmente, a partir dos seguintes temas: Formação de professores, Docência no Ensino Superior, Educação online e cibercultura, Didática, Aprendizagem de adultos, Neurociência e neuropsicologia, Linguagem emocional e Educação, mídias e tecnologias. Site: https://sites.google.com/site/arbruno / http://gruparufjf.wix.com/pomardocencias
Ana Maria D Grado Hessel – Doutora e mestre em Educação: Currículo pela PUC-SP e graduada em Pedagogia pela PUC-SP, com especialização em Informática pela UFPA. É Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da PUC/SP e atua como coordenadora e docente na graduação Tecnologia e Midias Digitais; como pesquisadora e professora credenciada do Programa de Estudos Pós-Graduados em Tecnologias da Inteligência e Design Digital – TIDD/PUCSP, vinculada à linha de pesquisa Aprendizagem e Semiótica Cognitiva. Foi Vice-Coordenadora Executiva do PEC da PUC/SP, na coordenação da equipe de formadores on-line. O interesse em pesquisa é formação on-line, educação a distância, gestão escolar e tecnologia, aprendizagem em ambientes virtuais (AVA), interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e pensamento complexo. É pesquisadora do EdViRt da PUCSP, da REGIET (Red Internacional de Grupos de Investigaciones en Educación y Tecnología, UPM), da COLEARN (Collaborative Open Learning – Comunidade de Pesquisa sobre Aprendizagem Colaborativa e Tecnologias, Open University). Membro do GEPI, ECOTRANSD e GEPEC.
Referências desta apresentação
BRUNO, Adriana Rocha; HESSEL, Ana Maria D Grado. Apresentação. Revista EDaPECI – Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais. São Cristóvão, v. 15, n. 3, p. 421-428, set./dez. 2015. Acessar publicação original [DR]