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Dourados: memórias e representações de 1964 | Suzana Arakaki

No livro, originário de sua dissertação de mestrado, a autora trata das conjunturas que levaram ao regime militar em 1964 e as reviravoltas políticas que foram geradas pela euforia do movimento no antigo sul do estado de Mato Grosso, especialmente a cidade de Dourados e a região da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), lugares grandemente influenciados pela ação do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). O contexto por ela analisado tem como recorte temporal a década de 1960, desde os primeiros momentos do governo de Jânio Quadros, concentrando especialmente na posse e governo de João Goulart (o Jango), destacando suas indefinições político-partidárias, até o golpe derradeiro com o Golpe e a tomada do poder pelo militares.

Para a elaboração do seu texto a autora vai fazer uso de notícias veiculadas no jornal douradense “O Progresso”, deixando clara a postura de direita assumida pelo mesmo e o apoio dado à derrubada do Governo Goulart, tendo como figura de destaque na propagando da pseudo-revolução o proprietário do jornal e deputado Weimar Gonçalves Torres. Em seguida ela não deixa de salientar a decepção que acometeu o mesmo deputado, assim como tantas outras pessoas da região com os resultados das ações dos militares. Para se utilizar dos jornais como fonte de sua pesquisa a autora elabora um pequeno histórico dos periódicos locais.

Além do jornal, ela faz uso ainda de depoimentos de ex-colonos da CAND (Colônia Agrícola Nacional de Dourados), debatendo com suas experiências de vida no ambiente pré-regime ditatorial, em meio à massiva propaganda “anti-comunizante” que era difundida por seus defensores. Perpassando, por fim, pela opressão promovida por militares e partidários da direita (sobretudo membros da UDN e do PSD) às pessoas consideradas suspeitas de subversão na região do município de Dourados e do sul do estado de Mato Grosso. Levando em conta que a Colônia “que antes era considerada ícone do projeto colonizador varguista, por ocasião de 64 se transformou em alvo, tornando-se foco de sanções políticas militares” (p. 37).

A autora cita o caso dos CCCs (Comitês de Caça aos Comunistas), que se formaram logo que fora anunciada a tomada do poder pelos militares, e que tinham como alvo as pessoas suspeitas de cooptar com as idéias brizolistas1 e possíveis participantes dos Grupos de Onze, fossem elas políticos (sobretudo petebistas), professores ou pessoas comuns. Ela cita alguns casos, como a cassação do mandato de vereadores e a perseguição perpetrada contra alguns professores do antigo CPD (Centro Pedagógico de Dourados). Em geral, todas as pessoas que se simpatizassem com o PTB, com ideais comunistas e/ou com idéias reformistas estavam passíveis de prisão, interrogatórios e repressão, mesmo sem provas, como os casos citados de pessoas que eram delatadas e acusadas de serem “comunistas” simplesmente por questões pessoais, sem que ao menos se compreendessem ao certo o que era Comunismo, ou que tipo de Comunismo se estava falando, ou até mesmo as idéias reais que moviam os partidos de esquerda no Brasil. No caso dos professores do CPD que foram demitidos, como Antonio Luiz Lachi e Wilson Biazotto, eram acusados de serem “incapazes profissionalmente”.

Em seu texto a autora mostra, dentre outras coisas, que as ações dos militares não eram percebidas pela maior parte da população, que via uma sociedade ordeira e sem movimentações políticas e/ou opressivas. As exceções, no caso, eram as prisões de alguns colonos da CAND e moradores de outros lugares da região, acusados de fazer parte dos Grupos de Onze. Sobre este último caso, conforme um dos depoimentos de colonos se dava, em alguns casos, simplesmente por essa pessoa possuir um rádio e ouvir os programas comandados por Leonel Brizola, líder da ala radical do PTB e considerado uma liderança entre os partidos de esquerda no Brasil.

Um ponto importante de seu trabalho é ter saído da esfera de análise desse evento histórico geralmente concentrado nos grandes centros brasileiros, onde teve maior propaganda e destaque. Ela parte de uma análise dos acontecimentos políticos em âmbito regional, discutindo o que estava acontecendo na cidade de Dourados e na região da chamada Grande Dourados, no sul do antigo Mato Grosso, relacionando esses espaços com a conjuntura histórica brasileira, do período anterior e durante a ditadura militar. Entendendo ainda que essa mesma conjuntura por ela analisada se inseria no contexto que resultou do pós Segunda Guerra Mundial, com a bipolarização do globo entre capitalistas (EUA) e comunistas (URSS) e os investimentos feitos pelos norte-americanos nas ditaduras da América Latina (p. 40).

Nota

1 Idéias estas defendidas pela facção das esquerdas brasileiras, que tinham como líder, durante o governo de João Goulart, Leonel Brizola, cujo foco principal de luta eram as chamadas Reformas de Base (sobretudo a reforma agrária).


Resenhista

José Antonio Fernandes – Graduando em História – UFGD.


Referências desta Resenha

ARAKAKI, Suzana. Dourados: memórias e representações de 1964. Dourados/MS: Editora UEMS, 2008. Resenha de: FERNANDES, José Antonio. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 3, n. 6, jul./dez. 2009. Ace

Itamar Freitas

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