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Ditadura Militar no Brasil / Revista Historiar / 2013

Eis mais uma edição da Revista Historiar do Curso de História da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Ao abrir-se para este exemplar a ideia não é somente divulgar alguns textos e debates a respeito da tortura, violências no período da ditadura brasileira.

Trata-se de uma tentativa de ampliação do debate teórico com diferentes estudiosos sobre esta temática. São elaborações de professores que vem desenvolvendo pesquisas, estudos que se complementam a partir de uma prática social vivenciada nos últimos tempos. Sim, é o registro de formulações de jovens pesquisadores que se debruçam sobre a história e memória de um momento absolutamente arbitrário de nossa caminhada rumo a conquista da democracia. Assim, estes artigos são explicitados por autores que afirmam suas concepções, divulgam suas abordagens e compromisso social.

Esta Revista contém cinco artigos. Começa com a reflexão de Edvanir Maia da Silveira (UVA) com abordagem da nova história política e mostra um caminho viável para análise sobre a história de Sobral, discutindo as ambiguidades que marcaram a relação do Executivo e do Legislativo sobralense com a ditadura militar.

A autora analisa o poder político sobralense até a instalação da ditadura militar que fora implementada com a benção oficial da Igreja Católica em Sobral. Porém a ditadura não ocorre de forma tranquila devido aos conflitos entre os próprios aliados do regime. Na disputa por privilégio junto ao governo militar, os grupos políticos usavam os mesmos instrumentos praticados nas disputas entre a direita e a esquerda: delação, cassação, abuso de poder, ameaça e prestígio pessoal, além de manter-se a política de união na cúpula e divisão nas bases, praticadas pelos governos estaduais e seguidas pelas lideranças sobralenses.

Segue o artigo de Valéria aparecida Alves (UECE) que analisa as correspondências trocadas por Torquato Neto e Hélio Oiticica no período de 1971 e 1972. As correspondências devem ser entendidas dentro do contexto político – momento pós-AI – 5, com a ampliação da censura, prisões, exílio e autoexílio daqueles que se opunham à ditadura militar. Nos textos há referências sobre diversas figuras do cenário cultural brasileiro que estavam no exterior – alguns por vontade própria outros obrigados, como Caetano Veloso e Gilberto Gil exilados em Londres. Através das cartas, com foco na discussão sobre a produção cultural brasileira, a reflexão sobre o panorama cultural, destaca as dificuldades impostas pela ampliação das medidas repressivas adotadas no período de autoritarismo. A situação política no Brasil, marcada pela repressão e violência, tornava-se cada vez mais difícil para aqueles que se opunham ao governo militar, após a edição do AI-5 em 13 de dezembro de 1968, que impedia qualquer manifestação de oposição.

Também contribui para uma ampliação das análises o artigo de João Teófilo (PUCSP) que desenvolve uma reflexão em torno da atuação da imprensa na construção de um debate público sobre a ditadura militar. Considera ainda as memórias constituídas neste processo de conflituosos debates atuais dentro de uma conjuntura marcada pela instauração de Comissões da verdade pelo Brasil e as discussões dos cinquenta anos de golpe militar. O tema é pertinente e há um interesse crescente em ressiginificar este passado, fazer sua representação histórica, constituir memórias, pois é um passado vivo, não morto, que ainda inquieta, suscita dúvidas e acirra os debates em sua volta, nas universidades, no cinema, nas instituições, na mídia, nas redes sociais da Internet e na imprensa.

Na perspectiva de vários ângulos de abordagens, a pesquisadora Elba Mota da UFRJ – UNIRIO, apresenta uma discussão sobre a Igreja Assembleia de Deus, as formas de utilização e constituição de memórias ao longo da sua história, elencando como duas vertentes principais, a política e a imprensa ao longo do período do governo dos militares no Brasil. Considera ainda a postura anticomunista e de aproximação ao regime militar que caracterizou a maioria das Igrejas evangélicas no Brasil daquele período, bem como os setores conservadores da Igreja Católica. A reflexão situa-se na segunda metade do século XX, especificamente as décadas de 1960 a 1990, período de transição de uma ditadura civil-militar para uma democracia no Brasil observando o comportamento e a condução política pelos pentecostais na época da ditadura e depois do seu fim.

Temos ainda a valorosa escrita de Rabelo Filho (UFF) que esclarece de forma primorosa as posições assumidas pelas classes políticas cearenses frente às conspirações que culminaram com a deposição de João Goulart e o processo de instauração da ditadura. Demonstra ainda em seu estudo as diversas posturas políticas, contradições, interesses, demonstrando o acesso às ambivalências dos comportamentos, às zonas cinzentas, às muitas outras histórias e memórias de um passado presente.

Do momento da solicitação do artigo à sua publicação há muitas dificuldades, uma trajetória com euforias, não cumprimento de prazos, enfim, a organização desta Revista busca envolver os professores para que seja uma ferramenta dinâmica utilizada no cotidiano profissional dentro e fora da universidade com textos plurais e abrangentes.

Agradecemos a todos (as), boa leitura e debate!

Telma Bessa Sales – Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.


SALES, Telma Bessa. Apresentação. Revista Historiar. Sobral, v. 5, n. 9, 2013. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Itamar Freitas

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