Diplomacia Patrimonial: o patrimônio como mediador das relações internacionais | Faces de Clio | 2021
A Revista Faces de Clio, periódico discente vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), publica a sua 14ª edição com o dossiê temático “Diplomacia Patrimonial: o patrimônio cultural como mediador das relações internacionais”. O presente número reúne quinze trabalhos e uma entrevista: seis artigos vinculados ao dossiê, sete artigos livres e duas resenhas. A presente publicação possui diversos trabalhos pertencentes ao eixo Patrimônio e Relações Internacionais e que dialogam a partir da vinculação do patrimônio cultural, memória, poder e diplomacia.
Agradecemos a toda equipe da revista Faces de Clio que se compromete a cada edição para entregar o melhor produto para os leitores e autores que confiam suas pesquisas ao nosso periódico. Mesmo neste momento difícil de cortes de recursos na educação e na ciência, seguimos resistindo e publicamos esta edição, o quarto dossiê durante a pandemia do COVID-19. Estendemos nosso agradecimento aos pareceristas que nos auxiliam na avaliação dos artigos para publicação.
Abrindo o dossiê apresentamos o artigo escrito por João Victor Polaro Soares, “Diplomacia para dentro do Museu: O Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA) como palco de Diplomacia Cultural”, que busca refletir sobre a relação dos museus e as relações internacionais, através da análise das exposições realizadas no MUFPA com auxílio de instituições ou representações diplomáticas, no período de 1987 a 2015. Em seguida os autores Geison Siqueira Tavares da Cruz e Cândida Zigoni de Oliveira Landeiro fazem uma revisão bibliográfica sobre a importância de tratar a escravidão nas relações diplomáticas brasileiras. Assim, eles dissertam sobre a relação entre patrimônio cultural, diplomacia e cidade a partir do estudo da região do Cais do Valongo no Rio de Janeiro/RJ. No terceiro artigo do dossiê, “Entre a territorialidade e o Patrimônio Comum: trocas de documentos entre o Brasil e Portugal (1863-1867)”, o pesquisador Frederico Antonio Ferreira investiga o envio de documentos entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, entre 1863 e 1867, como artifício utilizado pelo Império frente as questões de fronteira com seus vizinhos. Dessa forma, Ferreira trabalha com os conceitos de território, nacionalidade e posse e a relação entre memória e patrimônio.
Adiante, o historiador José Luiz Xavier Filho trata sobre a ressignificação da contribuição dos negros e negras na construção do português brasileiro nas escolas através do projeto pedagógico “Dicionário Afro-brasileiro”, que foi desenvolvido nas aulas de História, com turmas de 6º ao 9º do Ensino Fundamental dos Anos Finais, em uma escola de rede pública. A autora Lara Cardoso traz sua contribuição com o artigo “A memória além de sua materialização”, onde esta dialoga sobre a relação da população e dos órgãos públicos em relação a preservação do patrimônio cultural, da memória e da tradição, enfatizando a ideia do patrimônio histórico-cultural enquanto soft power e portanto, um objeto de discussão das relações internacionais. Concluindo a sessão do dossiê, o trabalho “O conceito de patrimônio nos discursos de Getúlio Vargas: uma estratégia ambivalente” escrito pelo pesquisador Filipe Queiroz de Campos, apresenta uma análise dos discursos políticos de Getúlio Vargas, buscando investigar as estratégias políticas do então presidente ao incentivar a preservação do patrimônio histórico.
Na sessão de artigos livres, iniciamos com o trabalho “Insurreição Praieira na cidade de Areia-PB: cooperação dos comandantes da guarda nacional e elites locais”, no qual a autora Lidiana Emidio Justo da Costa traz uma reflexão sobre a atuação da elite pernambucana na Insurreição Praieira, principalmente da Guarda Nacional, que após dois anos desta revolta passou por uma reformulação. Logo após, o pesquisador Sérgio Willian de Castro Oliveira Filho nos contempla com um texto que se refere ao papel dos capelães que desempenharam funções eclesiásticas a serviço da Marinha Imperial na Guerra da Tríplice Aliança, buscando ponderar o papel da religião nas guerras.
O autor Jorge Cruz apresenta sua pesquisa sobre o Instituto Nacional do Pão realizando uma análise sobre este organismo de coordenação econômica e fiscalização da indústria da panificação, criado nos anos iniciais do Estado Novo português, centralizando o seu estudo na investigação sobre o funcionamento e articulação deste órgão na esfera corporativa e política. O artigo “Graças a Deus somos reacionários”: o movimento municipalista brasileiro e as conspirações golpistas pré-1964”, desenvolvido por Yuri Carvalho, discute no que concerne a atuação do movimento municipalista em diversas campanhas político-ideológicas em meados do século XX, principalmente nas ações que desencadearam no golpe civil-militar de 1964. Seguimos com o trabalho realizado por Pedro Sousa da Silva a respeito da formação e as principais ações da Associação de Empreiteiros de Obras Públicas, entre 1954 e 1960, evidenciando a relação desta com empresas, setores de diversas administrações municipais e com o Governo Federal.
O penúltimo trabalho da parte de artigos livres é intitulado “Análise quantitativa dos cemitérios dos Paivas, dos Prates e Municipal Papa João XXIII em Santo Augusto, Rio Grande do Sul (sécs. XIX-XX)”, em que Ana Gabriela Ribeiro de Souza Padilha e Jaisson Teixeira Lino pesquisam a cerca da construção dos cemitérios dos Paivas, dos Prates e Municipal Papa João XXIII, localizados em Santo Augusto, no Rio Grande do Sul, tal como os pontos que os distinguem e como a partir desta análise investigar os sujeitos que integravam a sociedade de Santo Augusto naquele momento. Encerrando os artigos desta edição da revista Faces de Clio, o texto “Na flanerie pela cidade os cheiros nos consomem: memórias olfativas em torno da cidade de Picos-PI nas décadas de 1980 e 1990” de Nayara Gonçalves de Sousa apresenta um estudo a partir das temáticas cidades e história, memória, sensibilidades urbanas e história oral, sobre a afetividade com os cheiros guardados na lembrança dos habitantes de Picos- PI neste período de transformação da cidade.
Esta publicação contém duas resenhas. A primeira foi desenvolvida pelo professor Dr. Leandro Pereira Gonçalves sobre a obra de Ducan Simpson “A Igreja Católica e o Estado Novo salazarista”, seguida pelo trabalho realizado por Ewerton Reubens Coelho-Costa do livro “Cultural Diplomacy and the Heritage of Empire: Negotiating Post-Colonial Returns” de Cynthia Scott.
Por fim, a edição traz a entrevista realizada pelas editoras com o Professor Dr. Rodrigo Christofoletti, um dos percursores sobre a temática Patrimônio e Relações Internacionais, e que contribuiu com grandes publicações na área, como: “Bens Culturais e Relações Internacionais: o patrimônio como espelho do soft power”; “World Heritage Patinas: action, alerts and risks”; The Latin American Studies Book Series; dentre outros diversos trabalhos de grande relevância para o tema em questão.
Desejamos a todas e todos uma boa leitura
Organizadores
Carolina Martins Saporetti – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestra em História pela UFJF (2017). Graduada em Licenciatura e Bacharelado em História com ênfase em patrimônio histórico pela mesma instituição. Membra do LAPA (Laboratório de Patrimônios Culturais) da Universidade Federal de Juiz de Fora e integrante do grupo de pesquisa CNPq – Patrimônio e Relações Internacionais. Atualmente exerce a função de curadora no Centro de Conservação da Memória da Universidade Federal de Juiz de Fora (CECOM-UFJF). Áreas de interesse: patrimônio, memória, IPHAN, políticas de preservação do patrimônio, relações internacionais. E-mail: carolina.saporetti@estudante.ufjf.br
Dalila Varela Singulane – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestra (2021) em História pela UFJF. Bacharela em História (2018) pela UFJF com habilitação em Patrimônio Cultural. Conselheira suplente Conselho Municipal de Cultura na Prefeitura de Juiz de Fora (MG). Integrante do Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Ubá (MG). Vinculada ao Museu de Arqueologia e Etnologia Americana (MAEA-UFJF). Membra do LAPA (Laboratório de Patrimônios Culturais) da Universidade Federal de Juiz de Fora e integrante do grupo de pesquisa CNPq – Patrimônio e Relações Internacionais. Editora-chefe da revista acadêmica “Faces de Clio” e gerente editorial da “Locus: revista de História”, ambas vinculadas ao PPGH-UFJF. Pesquisas e trabalhos na área de Patrimônio Cultural, Racismo e Políticas Públicas de preservação. E-mail: dalilavarela.s@gmail.com
Referências desta apresentação
SAPORETTI, Carolina Martins; SINGULANE, Dalila Varela. Editorial. Faces de Clio. Juiz de Fora, v. 7, n. 14, p. 1- 4, jul./dez. 2021. Acessar publicação original [DR]