Diáspora, literatura e arte / Revista Brasileira do Caribe / 2012

Como afirma Brah (1996) na diáspora múltiplas posições de sujeitos se justapõem, se questionam, se proclamam, negam e se narram. A região do grande Caribe tem na diáspora experiências fundamentais para entendermos a história de sua sociedade e sua cultura. Seja no que diz respeito às emigrações de caribenhos para a Europa, América do Norte ou do Sul no século XXI, seja no que concerne à diáspora africana, do período moderno, ou as diásporas europeias mais recentes como aquela vivenciada pela comunidade de espanhóis fugidos da queda da República. Isso sem contarmos a diáspora síria, libanesa e chinesa do começo do século XX. Outrossim, a migração de trabalhadores indianos contratados deve ser lembrada.

A diáspora tem sido pensada como intersecção da errância com a fronteira, da localização com o deslocamento; é ponto confluência de processos econômicos, sociais, políticos, culturais ocasionados no trânsito, no deslocar-se. Nesse sentido, como parte da história caribenha, ela marcou as experiências e se constituiu em contextos fundamentais de produção artística e literária caribenha, quando não tema para artistas e escritores caribenhos diaspóricos ou não. Não poucas vezes, para retomar a expressão de Hall (2003) eles foram obrigados a pensar as suas sociedades na diáspora.

Esse número da Revista Brasileira do Caribe reúne textos sobre a relação entre Diáspora, Literatura e Arte no Caribe, fruto do trabalho de cooperação em rede entre grupos de pesquisa das Universidades de Granada, Carlos III y Autônoma de Barcelona, a Filmoteca de Madri, na Espanha, a Universidade Federal do Tocantins, Universidade Federal de Goiás e Universidade Federal de Maranhão, no Brasil e a Universidade do Atlântico, na Colômbia. Abre o Dossiê o artigo “Anecdotario de una visa imaginaria. Diáspora y activismo en la obra de Jean-François Boclé,” que analisa a produção artística da diáspora caribenha a partir da trajetória e do ativismo do artística plástico Jean-François Boclé. Na sequência, Jordi Lladó, “Literatura catalana en la prensa latinoamericana: una nación en la diáspora” trata da relação estabelecida no século XX entre a literatura catalã e o mundo cultural latino-americano, mostrando, por um lado, o enriquecimento da produção cultural na América Latina e Caribe, e, por outro, como as revistas catalãs na América se constituíram como lugar de fortalecimento cultural da língua catalã quando ela era perseguida na Espanha.

O artigo “La ‘primera piedra’: José Gómez Sicre y la fundación de los museos interamericanos de arte moderno de Cartagena y Barranquilla” de Alessandro Armato, reconstrói a história do primeiro lançamento do museu interamericano de arte moderna em Cartagena de Índias e Barranquilla e o envolvimento de personagens diáporicas, como o cubano José Gómez Sicre e a Martha Traba nesse projeto, mostrando o papel de migrantes no desenvolvimento do modernismo artístico na Colômbia. Seguindo uma mesma perspectiva, Danny González Cueto en “Arte, literatura, prensa e intelectualidad en el Caribe colombiano (1917-1980)” escreve sobre a produção cultural na cidade de Barranquilla, focando, entre outros aspectos, a importância de personagens diáporicos como o judeu David Zacarías López (Penha) e o catalão Ramon Vinyes. Ainda no que diz respeito á produção cultural, Alexa Cuesta Flórez apresenta o artigo “Feminismo, género o reivindicación en el arte del Caribe colombiano: Colectivo La REDHADA” no qual se problematiza a produção artística feminina do Caribe Colombiano, fazendo ênfase nas trajetórias diaspóricas de muitas dessas artistas.

Os estudos que seguem tratam de personalidades inquietas e errantes como o crítico Juan Acha, o escritor Alejo Carpentier e o artista Jaime Suárez. No primeiro caso, aparece o artigo de Dagmary Olívar Graterol “Revisión del latinoamericanismo en la propuesta teórica y crítica de Juan Acha”, nesse propõe estudar a obra desse importante crítico de arte em torno da questão do latino-americanismo. Dernival Venâncio Ramos e Marina Haizenreder Ertzogue em “Performance biográfica e narrativa no Caribe: um estudo de La consagración de la primavera, de Alejo Carpentier” problematizam o lugar da biografia como discurso legitimador na narrativa de um dos maiores escritores cubanos. Por fim, Daniel Expósito Sánchez em “Jaime Suárez ante la crítica de arte puertorriqueña. Impresiones de una década (1975-1985)” problematiza o lugar da crítica de arte na projeção do artista porto-riquenho como um dos mais importantes criadores de seu país.

Este dossiê, tenta contribuir para o aprofundamento da discussão sobre o lugar da diáspora na experiência histórica cultural caribenha. Como se pode perceber, o trânsito de gentes do e pelo Caribe foi um contexto importantíssimo para a produção artística regional; no entanto, a experiência da diáspora tem sido também o contexto no qual muitos escritores, artísticas, críticos têm localizado sua produção artística e literária.

Na sequência aparece o artigo “En torno a la Ciénaga de García Márquez: El proyecto de adaptación de La Casa Grande de Álvaro Cepeda Samudio por Luis Alcoriza” de Javier Herrera. Neste se descreve o projeto de filmar a obra La casa grande de Álvaro Cepeda Samudio. Simultaneamente, mostra a faceta cinematográfica do autor de Cien años de soledad. Fecha essa edição o artigo “Filosofía de la Historia y Teoría de la Frontera en el Ensayo Americano” de Luiz Sérgio Duarte da Silva que, centrado na produção literária e ensaísta, chega a insights que podem ser aplicados a outros campos, como as artes plásticas. Para Silva, a arte é produção de sentido, tentativa de dar conta das demandas sociais e, por isso, tenta orientar à sociedades no modo como ela compreende seu passado e futuro.

Referencias

BRAH, Arthur. Cartographies of Diaspora: Contesting identities. New York: Routledge, 1996.

HALL, Stuart. Da diaspora: Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.


CUETO, Danny González; RAMOS, Dernival Venâncio; LLADÓ, Jordi. Diáspora, literatura e arte. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.12, n.24, jan./jun., 2012. Acessar publicação original. [IF].

Acessar dossiê

 

Itamar Freitas

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