Desenvolvimento, inovação e sustentabilidade: contribuições de Ignacy Sachs atualiza sobre o pensamento do economista e situa o leitor quanto às políticas públicas de promoção do desenvolvimento sustentável elaboradas por bancos de desenvolvimento como o BNDES-Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Por meio da exposição das obras e experiência de Ignacy Sachs, os autores argumentam a respeito da ação do Estado na distribuição equitativa de recursos e na geração de emprego e renda frente a um cenário de reflexão acerca da indústria no Brasil. Questões indispensáveis para os historiadores e historiadoras que problematizam as relações entre homem, sociedade e natureza neste início de século.
Ignacy Sachs é exemplo de uma geração de intelectuais que formaram a comunidade técnico-científica do mundo pós-segunda guerra. Polonês, formado em economia no Brasil, doutorado na Índia, integrante do Ministério das Relações Exteriores na Polônia socialista, acolhido pela EHESS- École des Hautes Études en Sciences Sociales após exílio -instituição na qual criou o Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, interlocutor das questões ambientais perante as Nações Unidas. Seu cosmopolitismo contribuiu para a formulação do conceito de ecodesenvolvimento em um período que gestou o debate acerca da manutenção dos recursos naturais e a decorrente inflexão da teoria do desenvolvimento.
O livro, publicado pela editora Garamond Universitária em parceria com o SENAI –Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, foi organizado por CarlosLopes, Subsecretário Geral da ONU e encarregado do UNITAR – United Nations Institute for Training and Research. Os artigos, organizados em onze capítulos, foram elaborados no âmbito do seminário Industrialização, inovação e sustentabilidade, realizado no Rio de Janeiro, em 20 de agosto de 2013, com patrocínio da Confederação Nacional da Indústria, o BNDES e a Secretaria Geral da Cúpula Iberoamericana. Dentre os autores encontramos Cristovam Buarque, Elimar Pinheiro do Nascimento, Jorge Wilheim, Ladislau Dowbor, Luciano Coutinho, Marcel Bursztyn e Ignacy Sachs. Cujos textos são prefaciados por Enrique V. Iglesias, economista uruguaio com relevante papel na discussão sobre meio ambiente e desenvolvimento na América Latina.
Nos capítulos um e dois somos convidados a conhecer o pensamento ético e teórico de Sachs e suas lições aos bancos de desenvolvimento perante o desafio da sustentabilidade, em particular ao BNDES. No terceiro capítulo o leitor é apresentado à necessidade dos Estados em transformar crises em políticas de investimento que levem à distribuição de renda. Sob esta perspectiva, o quinto capítulo, apresenta as contribuições do economista ao BNDES na a formulação de políticas de desenvolvimento produtivo. A partir do sexto capítulo, o organizador do livro elenca análises e depoimentos sobre a obra de Sachs e sua trajetória prática pelo caminho do desenvolvimento sustentável, com destaque para a geração de trabalho digno e o papel do planejamento na economia. Sua relação com os países em desenvolvimento, em particular com o Brasil e a Índia, são apresentadas quanto à oportunidade de cooperação regional e as práticas de consumo.
Ao acompanhar a leitura, vemos que os capítulos abordam a trajetória do pensamento de Sachs sobre a sociedade, a economia e o meio ambiente situando o leitor desde o processo de formulação da ideia de ecodesenvolvimento, decorrente da preparação da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em 1972, até o pensamento contemporâneo de Sachs sobre a sustentabilidade. No ecodesenvolvimento se idealiza um reordenamento econômico dos espaços de produção e, principalmente, rejeita-se a ideia de que os modelos de industrialização dos países industrializados possam ser reproduzidos nos países do Sul. Coloca-se a necessidade da construção de novos valores e outros estilos de vida, produção e consumo.
Hoje o pensamento sobre as bases do ecodesenvolvimento se mantém, mas se atualizam a partir de metas às quais Sachs denomina de “cinco dedos da mão invisível do desenvolvimento sustentável”. Sendo eles (1) novo contrato social em função do tempo livre, (2) segurança alimentar, (3) segurança energética com redução no uso de fontes fósseis, (4) planejamento participativo de longo prazo, (5) cooperação internacional com ênfase nos países do Sul. Sobre tais metas, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, comenta que a crise iniciada em 2008 abre oportunidades para os países em desenvolvimento e os bancos de desenvolvimento regional, com destaque para o BRICS e o próprio BNDES. Cabendo aos bancos de desenvolvimentos negociar e articular interesses públicos e privados que enfatizem o desenvolvimento regional e local de longo prazo.
Sobre tais aspectos é relevante ressaltar o capítulo Crises e oportunidades em tempos de mudança. Ignacy Sachs, Carlos Lopes e Ladislau Dowbor trazem dados sobre a distribuição da renda no mundo e no Brasil que auxiliam em pesquisas sobre o tema. Pautados no Relatório do Desenvolvimento Humano de 2005, os gráficos e a análise dos mesmos nos desnudam a concentração de renda na atualidade e os problemas éticos e econômicos inclusos nesta má distribuição, especificamente as questões de justiça ambiental e exclusão social. Para os autores, em uma realidade econômica na qual desigualdade e sustentabilidade estão diretamente ligadas, o desequilíbrio na inclusão da população nos processos produtivos traz à tona o problema da crise de governança. Crise cuja solução estaria no resgate da dimensão pública do Estado e em sua democratização. Medidas que viabilizariam a alocação racional de recursos e a gestão local, fundamentais para a obtenção de um desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável. Bases do pensamento de Sachs sobre o desenvolvimento.
Ao pontuarmos estes aspectos, podemos observar que se tratam de medidas em diálogo com o mercado. Sachs defende a harmonia entre meio ambiente e desenvolvimento por meio da proposta de um modelo de estratégia de crescimento econômico pautado em um desenvolvimento local autônomo. Ou seja, incentivada por projetos planificados que considerem os valores de uso dos recursos naturais e a concepção de tempo partilhada pelos trabalhadores. No entanto aponta que desenvolvimento local não equivale a desenvolvimento autossuficiente, pois para o economista as práticas econômicas pautadas nos estilos de vida locais não devem desconsiderar a necessidade de se articular ao espaço nacional e à economia global. O capítulo Desenvolvimento como prática, elaborado por Elimar Pinheiro do Nascimento, elucida tal abordagem ao oferecer amplo panorama sobre os principais aspectos históricos atuantes na elaboração da obra de Sachs.
Ao longo do livro, o leitor poderá encontrar variadas indicações bibliográficas sobre a trajetória de Ignacy. Os capítulos Olhares interessantes sobre tempos interessantes, de Marcel e Maria Augusta Bursztyn, Dez questões a partir de Ignacy Sachs, de Vinícius Lages, e Mil projetos e uma nova ciência, de Renato Caporali são ricos em informações para o pesquisador sobre desenvolvimento sustentável.
A variação no formato e proposta dos artigos não impede o leitor de aprofundar-se nas questões sobre a sustentabilidade em Sachs. Mesmos os depoimentos de Emílio Lèbre La Rovere e Jorge Wilheim, compostos por referências ao convívio com Sachs como professor e amigo, refletem parcela da formação do economista, pois é por meio de vivências em debates políticos sobre as relações da economia com a sociedade e sua estadia em países distintos que Sachs elabora seu pensamento. Um exemplo está na estimulante leitura de Riquezas da Índia para a evolução humana, de Maurício Andrés Ribeiro, que oferece ao leitor uma breve descrição dos valores da cultura indiana, de baixa pegada ecológica e agregado senso de comunidade, que influenciaram o pensamento de Sachs.
As contribuições de Sachs elencadas em Desenvolvimento, inovação e sustentabilidade, podem ser complementadas com a leitura de A terceira margem: em busca do ecodesenvolvimento (Companhia das Letras, 2009), Dilemas e Desafios do desenvolvimento sustentável no Brasil (Garamond, 2007) e Caminhos para o desenvolvimento sustentável (Garamond, 2002).
Resenhista
Cássia Natanie Peguim – Faculdade de Ciências e Letras / UNESP –Assis. Mestranda pelo Programa de Pós Graduação “História e Sociedade”. Bolsista FAPESP. E-mail: cassianatanie@hotmail.com
Referências desta Resenha
LOPES, Carlos [Org]. Desenvolvimento, inovação e sustentabilidade: contribuições de Ignacy Sachs. Rio de Janeiro: Garamond, 2014. Resenha de: PEGUIM, Cássia Natanie. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 9, n. 17, jan./jun. 2015. Acessar publicação original [DR]
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