Decentering History: Local Stories and Cultural Crossings in a Global World | Natalie Zemon Davies

O presente trabalho é uma resenha sobre o ensaio intitulado Decentering History: Local Stories and Cultural Crossings in a Global World2, de autoria de Natalie Zemon Davis, e que foi primeiramente apresentado, no ano de 2010, durante o Ludwig Holberg Prize Sumposium, em Bergen, na Noruega.

Natalie Zemon Davis é uma historiadora estadunidense e canadense, nascida na cidade de Detroit, no estado de Michigan, Estados Unidos. Após ter realizado a sua graduação no Smith College e o seu mestrado no Radcliffe College, no ano de 1959 ela conclui seu doutoramento na Universidade de Michigan. Foi professora em diferentes universidades como a Universidade de Princeton, a Universidade Brown, a Universidade da Califórnia e a Universidade de Toronto. Suas pesquisas, enquanto historiadora, incluem trabalhos importantes como Trickster Travels3, The Gift in Sixteenth-Century France4, The Return of Martin Guerre5 e Women on the Margins: Three Seventeenth-Century Lives6. Davis recebeu diversos prêmios e reconhecimentos como o grau honorário da Universidade de St. Andrews e a National Humanities Medal. Ambas as condecorações lhe foram entregues no ano de 2013.

Neste ensaio intitulado Decentering History: Local Stories and Cultural Crossings in a Global World, Natalie Zemon Davis narra e comenta a trajetória de uma historiografia que tem por objetivo “descentralizar”. Para tal, ele apresenta as tentativas historiográficas do século XX que, segundo a sua ótica, mais contribuíram para esse processo de descentralização. Davis também apresenta parte de sua trajetória e como esta se relaciona com o conceito de história descentralizada. Ao final, ela fala de algumas possibilidades de se fazer história descentralizada dentro de uma nova perspectiva de história global, apresentando também algumas críticas a esta última.

Natalie Zemon Davis inicia sua fala citando dois dos personagens principais que tem abordado em seus muitos anos de pesquisa. O primeiro, o escritor Ibn Khaldun, nascido em Tunes e que no início do século XV, mais precisamente em 1403, concluía sua importante obra intitulada Muqaddima. Cita depois o segundo personagem, a poeta veneziana Cristina de Pisano que, apenas dois anos após Ibn Khaldun, estava concluindo seu livro The City of Ladies, que inovava ao fazer uma defesa das qualidades e dos grandes feitos das mulheres do passado. Davis lembra que embora se tratassem de dois escritores contemporâneos um do outro, tais manuscritos pouco tinham em comum em relação aos personagens e ao conteúdo que abordavam, com exceção de Aristóteles. Enquanto Cristina escrevia especialmente sobre mulheres ilustres que viviam dentro dos confins da Europa, com rara exceção como no caso de Catarina de Alexandria, e sem qualquer ligação com o Islã, na obra de Ibn Khaldun as mulheres não faziam parte do tema central, mesmo que este em algum momento elogiasse as astutas políticas da rainha berbere Zaynab.

É muito provável também que Cristina, mesmo sendo leitora de filosofia política, nunca tivesse ouvido falar da obra de Ibn Khaldun, já que este apareceu em uma publicação europeia apenas em meados do século XVI e suas publicações foram publicadas em uma língua europeia apenas no século XIX. Da mesma forma, Ibn Khaldun não deve ter tido conhecimento da obra de Cristina de Pisano, mesmo sendo ele um leitor de poesia. Cópias dos textos de Cristina foram feitas apenas depois do falecimento de Khaldun. Davis lembra que os escritos de Cristina provavelmente nunca tenham sido traduzidos para o árabe, muito embora estas leituras tenham estado presentes em cursos oferecidos em universidades do Norte da África, através de traduções em língua inglesa e francesa.

Após esta apresentação inicial dos personagens, Davis lança um questionamento importante: Dada a distância entre suas referências, seus círculos e seus leitores, qual seria o motivo dela justapor estas duas figuras? Não eram elas de mundos completamente distintos? Ao que ela mesma responde falando sobre a aparente contradição, mas também apontando para uma conexão destas figuras com o tema da história descentralizada, dentro de um contexto global. Temas que estavam em voga no simpósio para o qual Davis preparou esta sua fala/ensaio. Para Natalie Zemon Davis, descentralizar envolve tanto a postura quanto o objeto do historiador. Ao assumir esta postura de descentralizar, o historiador já não conta mais apenas a história de um determinado ponto de vista privilegiado, ou de uma determinada parte do mundo, ou das elites. “Ele amplia seu campo de visão tanto social quanto geograficamente e introduz vozes plurais ao relato”7. A autora lembra que embora existam antecedentes nesse processo de descentralização, este começa a se expandir mais fortemente através de sucessivas ondas que vieram após o fim da II Guerra Mundial.

A primeira onda deste processo de descentralização da história teria sido a dos estudos marxistas. Estes privilegiaram as “classes subalternas”, os trabalhadores, a classe baixa, os explorados, ou as classes oprimidas. Esta última forma que Davis utilizou em seus estudos de doutorado nos anos 1950. A segunda onda do processo de descentralização teria vindo com os estudos relacionados ao gênero e a mulher. “Uma vez que a mulher fazia parte integral da narrativa histórica, rígidas noções de estruturas centrais de poder foram abaladas”8, seja pelos estudos sobre a vida privada, sobre a família e sobre sexualidade. Todas estas áreas onde as relações de dominação são preocupantes. “Até mesmo as governantes mulheres têm uma relação paradoxal com o poder”9. A autora cita que a história é sempre relacional, isto pelo fato de que a história das mulheres envolve homens, a história de trabalhadores envolve os empregadores, a história dos camponeses envolve os proprietários de terras etc. Porém, o historiador que busca descentralizar pode fazer com que as práticas e as crenças dos subalternos conduzam a sua narrativa histórica. Seja através de processos de resistência, de colaboração, de seu trabalho, sua arte e outros fatores que podem fazer com que eles próprios influenciem os seus destinos.

A terceira onda do processo de descentralização da história foi geográfica. Esta cresceu de questões que vieram à tona através dos estudos sobre os trabalhadores e sobre as mulheres, assim como veio junto com os movimentos pós-coloniais da segunda metade do século XX. Estudiosos da escravidão nas Américas, por exemplo, insistiram na importância do racismo na experiência da escravidão moderna. Assim como também insistiram na importância da África em todo este processo, que também envolvia estudos sobre as crenças de matriz africana. Estudiosos sobre os emigrantes judeus, e das mulheres de diferentes grupos étnicos também insistiram na relevância e no caráter específico de cada uma dessas diferentes experiências. Os estudos pós-coloniais estavam colocando com isto a história sobre a expansão e sobre os impérios de cabeça para baixo. Subvertendo valores que até então haviam predominado. Nesta nova perspectiva da história não era mais suficiente descrever as políticas de conquista e as nações imperiais: as ações de governantes, soldados, missionários e colonizadores. Nesta nova perspectiva seria necessário que se “desse voz”10 e ação aos próprios povos, através de suas reações aos europeus, seus sofrimentos, suas resistências e suas trocas. Contudo, a autora faz duas advertências sobre este tipo de empreendimento histórico. A primeira advertência seria no sentido de que ao se descrever o encontro de outras culturas com a cultura europeia, não se deve encarar as culturas destes povos como uma versão anterior da cultura europeia. A segunda advertência é sobre a consciência que se deve ter de que o Ocidente é apenas uma das vias de existência. Não se deve encarar o padrão europeu como um padrão a ser alcançado, superado etc.

Houve também uma segunda onda geográfica, e que está atualmente em voga, a chamada “história global” ou do mundo. Esta surge entre o fim do século XX e o início do século XXI, com o fim da Guerra Fria e a ascensão do capitalismo multinacional. Neste momento surgem reconfigurações das políticas internacionais, da paisagem religiosa, as novas tecnologias de comunicação; mudanças no clima, espécies e recursos. Com o advento da história global as análises acabaram sendo feitas em larga escala geográfica. Davis faz referência a alguns questionamentos feitos sobre a história global: Suas categorias e pontos de estudo seguem sendo predominantemente ocidentais e eurocêntricos; não estão sendo levados em conta pontos importantes da história social e de gênero, por exemplo, quando analisadas as interações em larga escala. Ela, então, questiona: “Seria a história global a única forma aceitável de se narrar o passado em um mundo globalizado?”11

Para responder ao questionamento acima e ilustrar como a narração de relatos locais pode ser de utilidade para um programa global, Davis se utiliza de sua própria trajetória e movimento em relação ao processo de se fazer uma história voltada para a descentralização. Ela relata que a primeira vez que leu The City of Ladies foi em 1951, quando cursava a graduação na Universidade de Michigan. Leitura que foi realizada após ter sido sugerida por um professor. Até então, ela nunca havia lido um texto medieval ou do início da modernidade escrito por uma mulher. O texto lhe chamou muito a atenção por este fato e também por seu tema. Após a leitura ela, então, escreveu um artigo intitulado Christine de Pisan as Phototype of the Professional Literary Woman, mas, acabou não optando por este tema para a sua tese doutoral, já que a proximidade de Cristina com a corte real fazia com que Davis a percebesse como “pouco descentralizada”.

Davis relata que queria mudar sua perspectiva sobre a Reforma Protestante. Não queria mais abordá-la através das visões de teólogos e príncipes, mas através de artesãos e pintores de Lyon, com suas “greves”, suas procissões entoando salmos, e seu orgulho em imprimir a Bíblia. Mais ou menos na mesma época, leu um livro que continha fragmentos escolhidos de Muqaddima, de Ibn Khaldun. Lhe cativou a maneira como Khaldun mesclava geografia, economia, sociedade e estado, assim como suas análises das formas de conhecimento e organização social. Todavia, não pensou em imergir no mundo de Khaldun, mas colocá-lo no mesmo pacote em que estavam os autores ocidentais.

Apenas 20 anos mais tarde, Davies introduziu as mulheres como centro de análise em seus estudos. Em 1970, participou do movimento feminista da Universidade de Toronto. Começou a perceber como a perspectiva de gênero poderia ser tão importante quanto a social na hora de examinar as estruturas francesas de poder e de mudança religiosa no século XVI, por exemplo. Teve contato com intelectuais importantes que a influenciaram. Em 1971, lecionou um curso sobre “a sociedade e os sexos no início da Europa Moderna”, cujo texto principal era The City of Ladies de Cristina de Pisano. As mulheres já ocupavam um lugar central em seus trabalhos como historiadora. A questão feminina também teve um papel principal para empurrá-la para outra descentralização: rechaçar uma única via ou localização geográfica para avaliar mudanças históricas. Em 1968, Shmuel Eisenstadt, já havia concebido o conceito de “modernidades múltiplas” ao comparar a religião europeia com a japonesa. Para Davis, a sua mudança consistiu em estabelecer comparações dentro da própria Europa. Examinar as relações das mulheres com a Reforma Protestante e com a Contra-Reforma. Essas diferenças foram entendidas pela autora como alternadas e às vezes equivalentes caminhos para a “modernidade”. Com esta ideia em mente, na década de 1990, Davis decidiu escrever “Women on the margins”, uma “reflexão sobre as possibilidades criativas de vidas transcorridas fora dos centros de autoridade e de ensino superior”12. Através da comerciante judia-alemã Glikl Hamel, da missionária católica francesa Marie de I’Incarnation e da artista protestante germano-holandesa Maria Sybylla Merian, a autora quis retratar três visões de vida de mulheres urbanas do século XVII europeu. Foi através dos estudos destas mulheres que Davis se descentralizou da Europa, já que estas em parte escreviam sobre assuntos referentes às Américas. “A experiência de escrever este livro mudou o sentido de mim mesma como historiadora”13, ela disse. Davis nunca mais iria se considerar “europeísta”, mas sim uma historiadora capaz de “mudar de lugar”. Então, nesta nova empreitada, ela se dirigiu primeiramente ao Norte da África, lugar de residência de Ibn Khaldun. Decidiu escrever um livro sobre a figura que os europeus denominavam como “Leo Africanus” e “recuperá-lo como o muçulmano de língua árabe Hasán al-Wazzan, que viveu aparentemente como cristão durante um tempo na Itália14”. Ele teria sido um devoto leitor dos manuscritos de Ibn Khaldun.

Após estas considerações, Natalie Zemon Davis volta-se para a sua busca sobre as formas de escrever história em um mundo globalizado. Para tal, ela oferece dois exemplos. O primeiro exemplo seria a comparação direta entre Ibn Khaldun e Cristina de Pisano. Ambos viveram em lados opostos do Mediterrâneo nos séculos XV e XVI. Suas diferenças eram especialmente de gênero e de tradições literárias e filosóficas. Ambos foram filhos de pais ilustres. Ambos mudaram de seu lugar de nascimento, ela para Paris e ele para Fez. Suas vias de aprendizagem foram diferentes, mas, ambos estiveram vinculados a uma corte real. Khaldun foi secretário, assessor, diplomata e jurista nas cortes de Fez, Granada e Cairo. Cristina foi esposa de um notário real e posteriormente uma figura literária que se tornou viúva nas cortes da França e da Borgonha, encarregando-se em uma ocasião de escrever a biografia do falecido rei Carlos V. Devido as suas atividades diferentes, ambos seguiram ritmos de escrita distintos.

Cristina, posteriormente, precisava escrever para manter-se e a seus filhos, já que não possuía uma herança e nem cargo importantes. Seus leitores eram homens e mulheres da corte e clérigos instruídos, mas, por se tratar de uma mulher, sua posição era precária. Foi descrita até como “masculinamente feminina”. Já Ibn Khaldun buscava leitores entre os sultões e seu entorno, assim como entre eruditos e estudantes, que recebiam em massa suas conferências. Não existem indícios claros de que ele imaginasse mulheres entre suas leitoras. Recebeu algumas críticas sobre o que ele denominava “uma nova ciência”, mas nunca foi impedido de publicar. Sempre se assegurou de que seus copistas utilizassem uma caligrafia árabe adequada para a região em que esperava receber leitores.

Ao se deter ao mesmo momento em duas vidas inovadoras situadas em ambos os lados do Mediterrâneo, Davis tratou de “ampliar o marco geográfico e cultural em que os historiadores usualmente refletem sobre a produção e circulação de conhecimento” 15. Ela tentou não priorizar o cristão europeu e nem o muçulmano africano. Assim como apresentou as experiências das mulheres como alternativas em vez de situá-las atrás das dos homens.

O segundo exemplo dado por Davis e que ela descreve como “uma segunda maneira de ampliar a consciência global do historiador sem que este perca o seu apreço por relatos concretos” consiste em focar em casos de cruzamentos culturais. Para ilustrá-lo ela faz alusão ao mundo da escravidão no Atlântico e Caribe do século XVIII, objeto de suas  pesquisas atuais16. Práticas africanas de adivinhação, detecção e curandeirismo, como elas cruzaram o oceano Atlântico e foram usadas ou transformadas nas comunidades mistas de escravos nas Américas. Especialmente na colônia holandesa do Suriname. A primeiras fontes que Davis diz ter utilizado em sua pesquisa são os relatos e as memórias dos escravos e ex-escravos, como Olaudah Equiano e as crônicas publicadas por alguns observadores europeus dos séculos XVII e XVIII.

A autora lembra que ao longo de toda a costa da Guiné sempre se clamava aos deuses para a adivinhação, detecção e cura. Por exemplo, curandeiros eram chamados para rituais de cura e adivinhadores para as primeiras fases de investigação de assassinatos. O adivinhador era quem fornecia as provas para a sentença. Uma vez estabelecida a culpabilidade, o rei e seu conselho de grandes homens ditavam a sentença. Se podia aplicar a pena de morte em caso de assassinato e outras atrocidades, mas não era algo habitual. As penas mais frequentes eram multas, devolução de bens etc. Porém, a pena preferida, durante o século XVIII, consistia em vender o culpado para um intermediador europeu que o levava para ser escravo na América. Estas eram recordações que os africanos traziam consigo em sua vida como escravos. Sendo que esses escravos eram maioria nas plantações caribenhas do século XVIII.

Tais africanos eram introduzidos em uma sociedade com outras regras e colocados em contato com os europeus e africanos de outras etnias. A comunicação neste cenário foi possível graças a criação da língua crioula, que foi denominada como Neger Engelsche e na atualidade como sranan. Uma mistura linguística que incorporava o vocabulário dos emigrantes de diferentes etnias. Este idioma se difundiu pelo Suriname até ser utilizado em atividades vitais, tais como a adivinhação, a detecção e o curandeirismo. Apareceram, então, curandeiros e adivinhadores por todas as plantações do Suriname. Uns nascidos na África e outros já no Suriname. E mesmo com médicos com técnicas europeias fornecendo atendimento no Suriname, ainda assim o curandeirismo era comum entre os escravos.

A farmacopeia dos curandeiros do Suriname se trasladou desde a África, mas também foi enriquecida pelo intercâmbio com os indígenas do Caribe e mediante os descobrimentos realizados na flora local. Os tratamentos vinham acompanhados de “invocações dos deuses”. Davis cita exemplos de casos em que esses curandeiros eram ridicularizados pelos europeus, mas, também cita relatos de alguns europeus elogiando o trabalho dos curandeiros.

No que tange a transmissão e a transformação das práticas de detecção criminal, Davis lembra que estas resultavam mais difíceis do que as de cura devido ao fato de que, em princípio, os delitos cometidos pelos escravos eram investigados, julgados e castigados por seus amos ou capatazes nas plantações e nos tribunais coloniais. Mesmo assim os escravos deram um jeito de estabelecer sua própria justiça penal. Os adivinhadores eram centrais neste processo, assim como os “caporais negros”. Junto com os adivinhadores esses homens e mulheres arbitravam disputas e estabeleciam a justiça entre os escravos. Segundo o que a autora constatou, uma comunidade de escravos e ex-escravos africanos primeiro tratava de seus próprios delinquentes e só depois decidia se os entregava aos amos brancos e aos tribunais.

De acordo com Davis, os procedimentos de detecção e determinação de culpa no Suriname foram variações daqueles realizados na África. O julgamento era realizado pelo caporal negro junto com outros homens e mulheres destacados, quase que como uma réplica do conselho de chefes com seus conselheiros da costa da Guiné, ainda que no Suriname com maior protagonismo para a mulher. O envenenamento poderia ser castigado com a morte e o acusado poderia ser entregue as autoridades brancas para que fosse castigado.

Ao final do ensaio, Davis lembra de sua tentativa de ampliar “The City of Scholars”, ao incluir Cristina de Pisano e Ibn Khaldun, e que tem buscado refletir sobre o uso das plantas medicinais, os procedimentos de detecção e a forma como estes atravessaram o Atlântico. Ela conclui o ensaio dizendo que “o intercâmbio direto entre eruditos cruzando fronteiras constitui uma das melhores formas de descobrimento em nossos atuais tempos globalizados” 17. Algo que ela mesma pôde observar em um congresso sobre a escravidão, que reuniu estudiosos da África, da Europa e da América do Norte.

Acredito que este ensaio certamente contribui para os debates historiográficos atuais, na medida que Davis apresenta a trajetória e as diferentes projeções de uma história que pensa de forma descentralizadora, mas, que também questiona alguns novos paradigmas dados pela história global. É importante, mesmo que se alterem algumas configurações geográficas e temporais, que os historiadores continuem avançando neste processo descentralizador da história, preocupando-se em conferir visibilidade para grupos e sociedades outrora marginais, sempre com o cuidado de não criar novas exclusões. O trabalho de Natalie Zemon Davis também nos mostra que é possível enfatizar trajetórias individuais e ao mesmo tempo revelar dimensões maiores, sem a necessidade de que o indivíduo seja apresentado como modelo para um todo, uma classe ou um grupo.

Notas

2 Ensaio publicado originalmente em língua inglesa, no volume 50 da revista History and Theory (2011). Todos os trechos citados de forma direta, indireta ou em paráfrases são traduções do próprio autor desta resenha. Algumas informações adicionais sobre a vida e a obra de Natalie Zemon Davis estão referenciadas ao final deste trabalho.

3 Hill & Wang, 2006.

4 University of Wisconsin Press, 2000.

5 Harvard University Press, 1983.

6 Harvard University Press, 1995.

7 DAVIS, 2011, p. 190.

8 DAVIS, 2011, p. 190.

9 DAVIS, 2011, p. 190.

10 Coloquei esta expressão entre aspas, já que acredito que não podemos “dar voz”. As pessoas já têm suas próprias vozes. O que o historiador pode fazer é apenas contribuir proporcionando “visibilidade” para estas “vozes” que já existem.

11 DAVIS, 2011, p. 192.

12 DAVIS, 2011, p. 194.

13 DAVIS, 2011, p. 194.

14 DAVIS, 2011, p. 194.

15 DAVIS, 2011, p. 197.

16 Na época em que foi escrito o ensaio.

17 DAVIS, 2011, p. 202

Referências

ACLS. Haskins Lecturers: Natalie Zemon Davis. Disponível em: https://www.acls.org/programs/Default.aspx?id=1152. Acesso em: 23 jul. 2016.

DAVIS, Natalie Zemon. Decentering History: Local Stories and Cultural Crossings in a Global World. History and Theory, v. 50, mai. 2011, pp. 188-202.

_______. A Life of Learning: Charles Homer Haskins Lecture for 1997. New York: American Council of Learned Societies (ACLS) occasional paper, n. 39, 1997.

WENGER, Beth. Natalie Zemon Davis. Jewish Women’s Archive. Disponível em: https://jwa.org/encyclopedia/article/davis-natalie-zemon. Acesso em: 23 jul. 2016.


Resenhista

Ismael Wolf – Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio. Especialista em História Antiga e Medieval pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e em Saberes e Práticas na Educação Básica, com ênfase em Ensino de História, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Graduado em História pela Faculdade Porto-Alegrense – FAPA (Licenciatura Plena) e pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO (Bacharelado). Professor de História na Rede Municipal de Educação de Gravataí – RS e na Rede Municipal de Educação de Sapucaia do Sul – RS. E-mail: wolf_ismael@yahoo.co.uk


Referências desta Resenha

DAVIS, Natalie Zemon. Decentering History: Local Stories and Cultural Crossings in a Global World. History and Theory, v. 50, mai. 2011, pp. 188-202. Resenha de: WOLF, Ismael. Revista Historiador. Porto Alegre, n.13, p. 168- 176, dez. 2020. Acessar publicação original [DR]

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