Tais possibilidades, somadas às potencialidades apresentadas por essa interação, ajudam a explicar o crescente interesse dos historiadores pelo campo e, consequentemente, o aumento no número de publicações sobre a temática. Na historiografia brasileira, de forma mais específica, uma obra recém-lançada que se coloca como mais uma contribuição para os estudos nessa área é De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinemas durante a Segunda Guerra Mundial, da historiadora Andreza Santos Cruz Maynard.
Para além da relação história-cinema, o livro também colabora para os estudos sobre a II Guerra Mundial e sua ligação com o Brasil, especialmente com Aracaju, e é resultado das pesquisas que Maynard realizou no Doutorado e no Pós-doutorado. Lançada pela Edupe, a obra está estruturada em quatro capítulos, nos quais a autora observa a relação dos aracajuanos com a guerra mundial, com os locais de exibição e com os filmes hollywoodianos, especialmente os que foram classificados como antinazistas. Seu objetivo foi analisar de que forma essas películas ajudaram a construir um sentido a respeito do conflito e dos inimigos do Brasil, os nazistas, durante os anos de guerra.
Desse modo, o capítulo nomeado Aracaju sob o impacto da Segunda Guerra Mundial fala, inicialmente, sobre a Aracaju das décadas de 1930 e 1940, apresentando alguns dos seus espaços comerciais e de lazer, meios de transporte, festas, religiões, profissões e hábitos do povo aracajuano. Em seguida, é investigado como o cotidiano da pacata capital de Sergipe foi impactado em decorrência dos torpedeamentos cometidos pelo submarino alemão U-507 aos navios brasileiros Baependy, Aníbal Benévolo, Araraquara, Itagiba e Arará, entre os dias 15 e 17 de agosto de 1942, na costa litorânea entre os estados da Bahia e de Sergipe. O episódio foi o estopim para a entrada do Brasil no conflito mundial e transformou Aracaju em um dos poucos locais do continente americano a sentir, de forma direta, os efeitos da II Guerra.
No segundo capítulo, Os cinemas em Aracaju durantes as décadas de 1930 e 1940, Maynard realiza uma análise minuciosa dos cinco espaços de exibição que funcionaram de forma regular em Aracaju ao longo do estado de beligerância: Rio Branco, Rex, Guarany, São Francisco e Vitória. A estrutura física desses ambientes, seus proprietários, os preços que cobravam pelos bilhetes, seu público frequentador, os horários em que funcionavam e os problemas que enfrentavam em sua rotina são alguns pontos investigados.
A seguir, os impactos causados pela censura e pela guerra na programação dos cinemas aracajuanos é o assunto abordado pela autora. Sendo assim, Censura e Segunda Guerra na programação dos cinemas aracajuanos aborda como o controle exercido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e pelos Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda (DEIP) influenciou na veiculação de determinados filmes ao público dos cinemas aracajuanos, que anunciavam diariamente sua programação nos jornais impressos. Quando o Estado Novo (1937-1945) rompeu, em janeiro de 1942, as relações diplomáticas e comerciais com o Eixo (Alemanha, Itália e Japão), e alinhou-se aos Aliados (EUA, Inglaterra e França), as mudanças foram sentidas também nas salas de exibição. E quem muito lucrou com isso foi Hollywood, que vinha produzindo filmes antinazistas desde 1939, e que agora poderiam ser assistidos pelo público brasileiro.
Assim, no quarto e último capítulo, intitulado “Cartaz de hoje”: filmes antinazistas em Aracaju, Maynard examina as películas antinazistas hollywoodianas exibidas nos cinemas aracajuanos em 1942, 1943, 1944 e 1945. De forma mais específica, ela faz uma análise de Confissões de um espião nazista, o primeiro filme desse tipo a estrear em Aracaju, no cinema Rio Branco. Baseado em fatos reais, o longa foi exibido pouco menos de um mês após Aracaju ser palco dos ataques nazistas aos navios brasileiros. O atraso com o qual as produções chegavam na cidade fez com que “o filme que Hitler daria tudo para destruí”, como era divulgado, fosse assistido quando os aracajuanos ainda lidavam com o choque provocado pelos torpedeamentos.
De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinemas durante a Segunda Guerra Mundial é um livro escrito com muito rigor científico. Andreza Maynard fez uso de diversas fontes para produzi-lo; dentre as quais, estão periódicos publicados no período, documentos oficiais e os próprios filmes. Ancorada teórica e metodologicamente, como exige o fazer historiográfico, a obra chega em um momento no qual os trabalhos sobre a propaganda antinazista hollywoodiana e sua atuação no Brasil durante a II Guerra ainda são escassos, o que a torna uma referência sobre o assunto.
Paralelo a esse rigor científico, há de se mencionar também o cuidado da autora em contar essa história numa linguagem simples, explorando imagens, mapas e tabelas, o que a torna acessível a diferentes públicos. Portanto, trata-se de um livro indicado tanto às/aos historiadoras/es quanto a todas e todos que se interessem pelos principais temas que o circundam: cinema e II Guerra Mundial.
Resenhista
Liliane Costa Andrade – Doutoranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PGGHC/UFRJ), sob orientação do Prof. Dr. Dilton C. S. Maynard (ProfHistória/UFS – PPGCH/UFRJ). Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente da Universidade Federal de Sergipe (GET/UFS). E-mail: liliane@getempo.org
Referências desta Resenha
MAYNARD, Andreza Santos Cruz. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021. Resenha de: ANDRADE, Liliane Costa. O antinazismo hollywoodiano nas telas dos cinemas aracajuanos. Boletim do Tempo Presente. São Cristóvão, v. 10, n. 09, p. 38-39, set. 2021.
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