A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é um tema bastante explorado pelas produções cinematográficas. Filmes sobre as batalhas contra o nazismo, os horrores dos campos de concentração e histórias de sobreviventes e personagens importantes do período são lançados, constantemente, conquistando o público e premiações como o Oscar e o Globo de Ouro. II O fato é que o cinema tem a capacidade de transportar os telespectadores para diferentes tempos e espaços, servindo como divertimento, fonte de informação e despertando a curiosidade e os sentidos.
Tais características estiveram presentes ao longo da história do cinema, destacadamente, durante a Segunda Guerra Mundial, quando inúmeras películas foram produzidas para retratar o horror da guerra e combater o nazismo. E é justamente disso que trata o livro De Hollywood a Aracaju (2021) da historiadora Andreza Maynard. III Fruto da sua tese de doutorado, a obra analisa a recepção dos filmes antinazistas em Aracaju durante a Segunda Guerra, discutindo “o processo de construção de sentido a respeito do conflito e dos inimigos do Brasil, os nazistas, durante os anos da Guerra” IV
Professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Sergipe (CODAP/UFS), Andreza Maynard é graduada, mestra e doutora em História, com vasta produção sobre cinema e Segunda Guerra. Autora de A Caserna em Polvorosa (2012) e organizadora de diversas obras como a Segunda Guerra Mundial: apontamentos para o tempo presente (2020), com este novo livro, Andreza se consolida como principal pesquisadora sobre história do cinema em Sergipe. Além disso, contribui com a produção nacional a respeito da relação entre Hollywood e a Segunda Guerra Mundial e o papel dos cinemas antinazistas na aproximação entre Brasil e Estados Unidos neste período.
Divido em quatro capítulos, a obra começa apresentando ao leitor o cotidiano de Aracaju no início dos anos 1940, o processo de aproximação entre Brasil e Estados Unidos e o posicionamento do país em relação ao conflito. Destaca-se, ainda, os impactos da guerra na cidade após os torpedeamentos de navios na costa sergipana. A partir de notícias de jornais, a autora evidencia o choque dos aracajuanos com os corpos que chegavam nas praias.
Já no segundo capítulo, Maynard apresenta os cinemas aracajuanos, dando informações sobre sua capacidade, espaço físico, entre outras informações. O cotidiano cultural da cidade se expressa a partir de fontes como jornais e obras de memórias. Este é, sem dúvida, um dos pontos fortes da obra, a capacidade da autora de transportar o leitor, a partir das descrições, aos cinemas aracajuanos, trazendo detalhes acerca da convivência nestes espaços de sociabilidade.
A censura e o impacto dela nos cinemas é o tema da terceira parte que aborda as ações dos órgãos de censura como o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda de Sergipe (DEIP/SE), responsáveis pela censura e mudanças nas programações dos cinemas. Aqui, Maynard procura conectar a realidade nacional e local, de maneira a apresentar as proximidades e particularidades de cada um. Destaca-se, a aproximação entre o DEIP e o Comitê da Coordenação de Negócios Interamericanos que propiciou a exibição gratuita de filmes em Aracaju em 1944, revelando a importância dos agentes locais nos processos de negociação para reprodução de películas estadunidenses que tinham como objetivo aproximar Brasil e EUA no contexto da guerra.
Por fim, no quarto capítulo, a autora se debruça sobre os filmes antinazistas exibidos em Aracaju e sua recepção na imprensa e junto ao público. A partir dos jornais, ela procura discutir como a população sergipana acolheu estes filmes, no período de entrada do Brasil na guerra, e como isso se refletiu nas exibições nos cinemas de Aracaju, servindo para aproximar e informar os aracajuanos sobre o conflito que ocorria na Europa.
De maneira geral, a obra de Andreza Maynard é acessível, usa uma linguagem clara e objetiva, o que a torna bastante atrativa não só ao meio acadêmicos, como ao público em geral. Sem rodeios, a autora consegue informar o leitor ao mesmo tempo em que os transporta para os cinemas aracajuanos dos anos 1940. Tudo isso, sem perder de vista o rigor historiográfico, indicando todas as fontes utilizadas, analisando e questionando-as, discutindo e contextualizando as informações coletadas. No que se refere ao acervo utilizado, destacam-se os jornais e revistas sobre cinema, publicados no período analisado, incluindo, ainda, documentos oficiais, obras de memórias e filmes.
Outro ponto a ser destacado é uso de tabelas confeccionadas pela autora e de mapas e fotografias, apresentadas ao longo de todo o livro. Assim, o leitor consegue localizar os cinemas, os espaços culturais, as instituições e ruas mencionadas nos capítulos. Estes recursos enriquecem a obra e ajudam a compreender melhor sobre o cotidiano de Aracaju antes e durante a guerra.
Por tudo isso, o livro de Andreza Maynard se torna uma leitura valiosa para quem estuda cinema, imprescindível para os pesquisadores da Segunda Guerra em Sergipe e prazeroso para todos que desejam conhecer um pouco mais sobre a história de Aracaju, do cinema e da Segunda Guerra Mundial.
Notas
II A título de informação, cito alguns títulos lançados nos últimos anos: Retratos de uma guerra (2018); Operação final (2018); O fotógrafo de Mauthausen (2018); Sobibor (2018); Midway (2019); As espiãs de Churchill (2019); Jojo Rabbit (2019); O caso Collini (2019); Munique (2021); Perdoai as nossas ofensas (2022).
III MAYNARD, Andreza S.C. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinemas durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
IV MAYNARD, Andreza S.C. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinemas durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021, p.16.
Referência
MAYNARD, Andreza S. C. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021.
Resenhista
Adriana Mendonça Cunha – Doutoranda em História pelo PPGHCS/COC/Fiocruz. Mestra em Educação e Graduada em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq). E-mail: adriana@getempo.org
Referências desta Resenha
MAYNARD, Andreza S. C. De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial. Recife: EDUPE, 2021. Resenha de: CUNHA, Adriana Mendonça. O antinazismo hollywoodiano nos cinemas de Aracaju durante a Segunda Guerra Mundial. Boletim do Tempo Presente, v. 11, n. 02, p. 53-54, fev. 2022. Acessar publicação original [DR]
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