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De Atenas a Sidney: el cine y la televisión em los Juegos de verano | Juan Gabriel Tharrats

O registro dos Jogos Olímpicos é uma prática cultivada em todo mundo por profissionais e espectadores esportivos. As tentativas de eternizar momentos de superação dos atletas, das nações e do esporte enquanto prática cultural motiva o desenvolvimento de variadas estratégias para documentação. Neste sentido, destacam-se as formas de registros audiovisuais que acompanharam historicamente o nascimento dos Jogos Olímpicos da Era Moderna.

Inegavelmente, o cinema foi testemunho recorrente das transformações do esporte, e, apresentou registros de competições esportivas em produções desde sua origem em diversos países (Grã Bretanha, Austrália e Espanha) e com enfoque em diversas práticas esportivas (MONTIN, 2004).

Atualmente, a produção acadêmica espanhola e norte-americana tem tido destaque no debate sobre cinema e esporte, mesmo existindo esforços latentes em outros países para instigar o debate. Neste sentido, o Brasil tem construído um olhar interessante sobre essa relação, notadamente optando por recortes locais, com focos em personalidades, temáticas ou em modalidade, como já pontuamos em outros escritos (ARAÚJO, 2012).

Atualmente tanto o cinema quanto a televisão são claramente detentores de um lastro de documentação esportiva destacável, ambos merecem visibilidade para que possam ser mais bem explorados como testemunho da história do esporte. Neste sentido, gostaria de apresentar e tecer algumas considerações sobre o livro De Atenas a Sidney: el cine y la televisión em los Juegos de verano, publicado pela Fundación Andalucía Olímpica/ Consejo Superior de Deportes.

Prontamente já indico que não se trata de uma obra nova, dado que desde a sua publicação já se passa 12 anos. Contudo, este é certamente um livro pouco referendado no Brasil e é exatamente este fato que justifica a pertinência desta tardia divulgação. Outro ponto que pode ser destacado, e que julgo relevante, para justificar o comentário desta obra, mesmo após mais de 10 anos de publicação, é que este livro não se trata de um pensamento orgânico e reflexivo sobre esporte e cinema (fato que poderia estigmatizar a publicação como ultrapassada, ou de visão ingênua, para o estado da arte atual na visão de alguns leitores). Contrariando esta primeira hipótese, a publicação em foco se caracteriza por um rico catálogo de documentação audiovisual sobre os Jogos Olímpicos e, portanto, uma fértil referência para pesquisas de caráter histórico sobre os temas vinculados ao esporte no século XX, sobretudo no que se refere aos Jogos Olímpicos.

Foi o cineasta e autor Catalão Juan Gabriel Tharrats que tomou para si a responsabilidade de organizar uma catalogação panorâmica da produção audiovisual sobre os Jogos Olímpicos da era moderna, obra esta que intitulou de “De atenas a Sidney: el cine y la televisión em los juegos de verano”.

Tharrats sempre teve em seus trabalhos vestígios da relação entre o cinema e o esporte, tendo argumentado em favor do reconhecimento do cinema desportivo como um gênero cinematográfico particular, juntamente com outros autores (MONTIN, 2005). Juan Tharrats afirma o cinema como produto da cultura que depõe sobre o período de sua produção e/ou de sua representação. Tratando de forma específica sobre a filmografia dos Jogos Olímpicos, o autor categoricamente expressa que “como tantos otros géneros, el olímpico sirve de documento de uma época, de unas formas de ser y pensar, y de desarrollo de una actividad humana” (p. 07).

A obra em questão é dividida em 05 (cinco) partes, sendo a última delas a mais extensa e trata especificamente da catalogação das produções audiovisuais. A primeira parte é intitulada de “Cine y televisión Olímpicos” e é o momento em que o autor apresenta a sua forma de perceber a relação do cinema com o esporte, além de fazer sínteses interessantes de dados sobre a filmografia Olímpica que somente uma obra com preocupação de ser referência consultiva, para os interessados na produção audiovisual sobre o movimento olímpico, reuniria tantas informações. Como exemplo deste fato, citamos o realce do autor de que os indícios de registros cinematográficos nas três primeiras edições dos Jogos Olímpicos da Era Moderna (Atenas – 1896; Paris – 1900; Sant Louis – 1904) não são imagens próprias deste evento, reforçando a ideia de que a história do cinema olímpico começa nos Jogos Pan Helénicos Olímpicos (1906). O autor também assinala os Jogos Olímpicos de Los Angeles (1932) como o primeiro evento com produções audiovisuais com captação de som, bem como os Jogos Olímpicos de Londres (1948) como marcador da chegada das cores às telas, além de demarcar os Jogos Olímpicos de Roma (1960) e de Tokyo (1964) como emblemáticos para a chegada e a consolidação da transmissão televisiva dos eventos Olímpicos. Destaques que estão registrados na historiografia dos Jogos Olímpicos, mas que ganham sínteses cronológicas e articuladas na escrita de Juan Gabriel Tharrats.

A segunda parte do livro, que recebe o nome de “Films sobre los juegos de verano: reporteros y artistas”, tem por intenção defender a ideia de que a produção de filmes sobre os Jogos olímpicos é mais do que um processo documental. Na compreensão do autor, o cinema, como dispositivo técnico de contar histórias, contém em sua linguagem uma potência criativa que aproxima seu produto final a uma obra de arte, em contraponto a função puramente documental.

Em “Un imagen (Olímpica) vale mil palabras”, Tharrts argumenta em favor das produções audiovisuais Olímpicas no que se refere às críticas sobre o roteiro óbvio centrado nas competições. A despeito das críticas eivadas de preconceito do esporte como argumento das produções, destaca-se que a lógica esportiva não permite obviedades e repetição dado que faz parte da lógica esportiva a superação do evento posto. Para tanto, o autor faz uma descrição da produção fílmica oficial de cada edição dos Jogos Olímpicos, enaltecendo suas especificidades distintas ênfases na abordagem das competições esportivas para montagem do argumento central da produção.

Na quarta parte do livro, chamada de “Las técnicas también juegan”, o autor faz um relato de como é possível perceber o desenvolvimento da técnica esportiva e cinematográfica ao mapear as produções a cerca dos Jogos Olímpicos. Na perspectiva de Tharrats, é possível reconhecer os filmes tanto como testemunhos das mudanças técnicas e táticas no esporte para melhoria do desempenho quanto às alterações da técnica cinematográfica, seja na forma de captação de imagem ou mesmo na forma de edição das mesmas.

A quinta e última parte desta obra trata da “Filmografía catalogada”, espaço em que o autor se dedica a descreve a presença (ou ausência) de documento audiovisual em 25 eventos esportivos, sendo 24 Jogos Olímpicos (1896 – 2000) e um referente aos Jogos Pan Helénicos Olímpicos (1906). Este último evento que ocorreu em Athenas foi destacado por Tharrats por dois motivos: o primeiro deles é que este evento se deu em comemoração aos 10 anos da retomada dos Jogos Olímpicos na Era Moderna e, como já foi destacado anteriormente, porque é neste evento que existiram as primeiras documentações cinematográficas verídicas de jogos Olímpicos.

Todas as produções catalogadas, sejam elas cinematográficas ou televisivas, estão organizadas de forma cronológica após uma curta apresentação contextualizada da edição dos Jogos Olímpicos ao qual a produção faz referência. Em todas as produções o autor tem o cuidado de destacar dados como: responsável pela produção, gênero, duração, cromatismo, diretor de fotografia, assunto e descrição do conteúdo (geralmente por evento ou modalidade esportiva).

Centrando nossas atenções a esta última parte do escrito de Juan Gabriel Tharrats, observa-se que a contribuição maior desta obra reside na catalogação e sistematização de um acervo que, mesmo não estando disponível em um repositório próprio para consulta, pode servir como indicador para pesquisas nos mais variados temas sobre movimento olímpico e/ou esporte. Como se a catalogação não estivesse como atrativo principal, Tharrats ainda nos brinda com comentários próprios sobre as produções mais emblemáticas para o tema dos Jogos Olímpicos, além de recortes de críticas e reportagens sobre a produção em jornais do período. Destaques como estes demonstram o cuidado e a seriedade que o autor teve ao catalogar todo o material que teve acesso.

Penso que “De atenas a Sidney: el cine y la televisión en los juegos de verano” é um livro de consulta indispensável aos historiadores do esporte que se sentem seduzidos pelo audiovisual como material de estudo. Com ele é possível realizar uma seleção de material visual que possibilite pesquisas com novos olhares sobre fatos já conhecidos, mas que podem potencializar os debates históricos.

Ter acesso ao livro de Juan Gabriel Tharrats é estar em contato com uma ótima síntese dos testemunhos audiovisuais sobre os Jogos Olímpicos da Era moderna e, consequentemente, também é estar de posse de uma larga agenda de pesquisa na perspectiva da história do esporte, razão pela qual vale a pena debruçar-se na sua leitura.

Referências

ARAÚJO, Allyson Carvalho. Elementos do Pós-Moderno na representação do esporte no cinema contemporâneo. Tese de doutorado (Doutorado em Comunicação). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012.

MONTIN, Joaquín Marin. El Deporte en el cine. Disponível em https://educomunicacion.es/cineyeducacion/deporte.htm . Acesso em 14 jan. 2013.

______. Valores educativos del deporte en el cine. Comunicar, n. 23, p. 109-113, 2004.


Resenhista

Allyson Carvalho de Araújo – Doutor em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor adjunto na Universidade Federal do Rio Grande do Norte junto ao Departamento de Educação física. E-mail: allyssoncarvalho@hotmail.com


Referências desta Resenha

THARRATS, Juan Gabriel. De Atenas a Sidney: el cine y la televisión em los Juegos de verano. Fundación Andalucía Olímpica; Consejo Superior de Deportes, 2001. Resenha de: ARAÚJO, Allyson Carvalho de. De Atenas a Sidney: registros audiovisuais dos Jogos Olímpicos. Recorde: Revista de História do Esporte, v.6, n.1, jun. 2013. Acessar publicação original [DR]

Itamar Freitas

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