O professor Marcos Antônio Caixeta Rassi é graduado em História pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Patos de Minas (1982), graduado em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Patos de Minas (1991) e mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (2006).
Em “De Atahualpa a Guevara: nossos ilustres desconhecidos”, o Prof. Me. Marcos Antônio Caixeta Rassi problematiza o ensino da História da América no Brasil, partindo do pressuposto de que a América (“rico, múltiplo e complexo mosaico cultural” segundo suas próprias palavras) é um lugar onde nós ainda não produzimos uma cultura de pertencimento, sendo importante romper com o silêncio e o desconhecimento da História da América em nosso país, olhando para o passado latino-americano como um meio de nos encontrarmos.
Rassi problematiza o herói como o homem que trabalha e historiciza-se no tempo, e afirma que o tempo, além de medida da história, constitui o lugar da história, concluindo que, portanto, tempo e espaço bastam à ação humana. Coloca que parte daí o interesse em estudar a América, o lugar, entendida não somente como um espaço geográfico ou geopolítico puro e simples, mas sim como a aldeia Kantiana ou “minha terra”, conforme afirmava o poeta coromandelense Gerson Coutinho. Ou seja, estudar a América Latina como nossa aldeia.
O autor deixa claro que se refere à América relatada por Cristóvão Colombo ou àquela relatada pelo Frei Bartomolé de Las Casas, ou seja, a América afro-Ibérica e com a história que se fez e se faz aqui, havendo um limite espacial que não inclui a América Anglo-Saxônica, não somente porque são ricos e imperialistas, mas sim porque o tempo histórico de formação é outro, com interesses gestados e moldados diferentemente em outro contexto.
O professor problematiza que falar da América no Brasil é tão desconcertante quanto falar da História do Brasil, já que nunca fomos capazes de registrar dentro de nossa alma a preocupação com a tradição, com a memória e, consequentemente, com a História, numa prova de que não somos tão históricos quanto juramos na sala de aula.
Rassi coloca que pretende discutir a importância da História desta América como espinha dorsal de um projeto cultural amplo de um povo, nós mesmos, afirmando que, enquanto não entendermos a trama que nos une aos guatemaltecos, jamaicanos, bolivianos, argentinos, uruguaios, não seremos capazes de entender nossos dramas sociais.
Observa ainda que se questiona muito hoje no Brasil o problema do nacionalismo, do patriotismo, do amor ao país, e afirma que, como professor de História, sabe que não existe a menor hipótese de enraizamento de uma concepção de patriotismo se o povo não for identificado com a História de seu país. O autor se pergunta, nessa direção: seremos capazes de nos orgulharmos de nossa História se nós não sabemos a raiz que a edificou? Ainda problematiza os heróis que a professora ensinava na aula, afirmando que esses não tinham um mínimo de identidade com seu povo. Portanto, o problema de memória histórica é um problema americano, mas, sobretudo, brasileiro, pois, em alguns países da América Andina e Platina, o povo conhece muito bem seus heróis, ou pelo menos os protagonistas de suas transformações mais fundamentais; cultuam seu passado e sua cultura.
Rassi coloca que é impossível conhecermos a História peruana desconhecendo, por exemplo, quem foi Atahualpa, o principal dos Incas, e que estudar sobre seus limites, seu projeto político-ideológico, a religiosidade e o misticismo que envolveu o povo inca e mesmo os mecanismos de dominação utilizados pela elite incaica nos ajuda a entender porque, num período de aproximadamente meio século, a população da América foi covardemente dizimada.
Recorrendo a Claude Lévi-Strauss, Rassi argumenta que os espanhóis poderiam ter construído um vasto império em aliança com os Incas e Astecas, caso a lógica colonial fosse outra; bastando haver respeito por parte dos europeus e uma parceria entre os impérios aqui existentes com as nações ibéricas. Ao invés de costurarmos a lógica causal da história política e factual da América, Rassi nos convida a acionar exatamente o que não emplacou, a anormalidade, a banalidade, a subversão da ordem, as constantes rebeliões e motins indígenas e de negros fazendo desta “anarquia” a lógica do entendimento da América, mostrando que precisamos envergar ainda mais o meridiano de Tordesilhas. Somente assim poderíamos romper com o pacto de silêncio que nós mesmos criamos, ou seja, devemos urgentemente nos comunicar com os irmãos de língua castelhana, enfatizando que o contorno linguístico da América latina é o mesmo e que a frase “Soy loco por ti América” é o mesmo que “sou louco por ti, América”.
Rassi conclui afirmando que é nesta perspectiva que ele se inscreve como estudioso e amante da América e convida os colegas docentes para assumirem uma autonomia enquanto profissionais para mergulharem nessa aventura desafiadora e gratificante que é estudar e conhecer mais de perto aquilo que está cravado em nossa existência e quem nem sempre damos conta, a América.
Neste artigo, portanto, vemos a problematização da “América” não enquanto apenas um espaço político, mas sim como um espaço afetivo, no qual ocorrem as nossas vivências e conquistas, ou seja, a América Afro-Ibérica, com um tempo histórico particular, diferente da América Anglo-Saxônica, com seus próprios heróis. Mas heróis, o texto coloca, entendidos enquanto sujeitos históricos, o homem que age, trabalha.
Desse modo, em “De Atauhalpa a Guevara: nossos ilustres desconhecidos”, o professor Marcos Antônio Caixeta Rassi nos propõe, com uma escrita acadêmica, mas não árida, indicada a todos os que amam o tema “América”, um exercício difícil, que é o de repensarmos a nossa concepção de História e de América, para que possamos compreendê-las sob um outro enfoque, mais amplo e democrático.
Resenhista
Gabriel dos Santos Birkhann – Licenciado em História (2016) pelo Centro Universitário de Patos de Minas (UNIPAM). E-mail: gbirkhannlegal@gmail.com
Referências desta Resenha
RASSI, Marcos Antônio Caixeta. De Atauhalpa a Guevara: nossos ilustres desconhecidos. Revista Alpha, Patos de Minas, v. 6, p. 110-117,, 2005. Resenha de: BIRKHANN, Gabriel dos Santos. Pergaminho. Patos de Minas, n.10, p. 181-182, dez. 2019. Acessar publicação original [DR]
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