Das Leituras ao Letramento Literário | Graça Paulino
Graça Paulino é uma intelectual mineira dedicada à formação de professores e à reflexão sobre leitura literária em sua dimensão social. Em seu novo livro, Das leituras ao letramento Literário (1979-1999), concepções sobre a leitura e a literatura – inicialmente – e o letramento literário, logo depois, indicam sua atualização e ineditismo como pesquisadora.
A obra é uma coletânea de artigos que Graça Paulino publicou entre duas datas importantes em sua trajetória intelectual: 1979, ano em que se tornou mestre em Teoria Literária (FALE/UFMG) e 1999, ano em que a expressão “letramento literário” foi apresentada à ANPED – Associação Nacional de Pesquisa em Pós Graduação.
O tema abordado – letramento literário – é conceituado como um “processo ativo de apropriação da literatura enquanto construção literária de sentidos”. Para Graça, “o letramento literário configura a existência de um repertório textual, a posse de habilidades de trabalho linguístico-formal, o conhecimento de estratégias de construção de texto e de mundo que permitem a emersão do imaginário no campo simbólico”.
Composta por 20 artigos, a obra inicia com a publicação de um dos capítulos da dissertação e passa por diferentes ensaios sobre o livro e o leitor, práticas de seleção de leitura e a função da literatura para crianças. Em seus artigos, Graça discute a questão da falta de leitura do ponto de vista da teoria da leitura literária, questiona as funções da literatura infantil, indaga sobre como e por que lemos poesia agora e analisa criticamente a formação de professores, a iniciação e a construção do leitor. Como se pode observar, questões pertinentes ao universo da leitura e da formação do leitor em suas relações com a escola e a sociedade.
Em suas referências Graça Paulino dialoga com estudiosos, pesquisadores da teoria literária, filósofos, críticos literários, intelectuais brasileiros e escritores, entre eles, Antonio Candido, Mikhail Bakhtin, Bachelard, Italo Calvino, Cecília Meireles, Chartier, Walter Benjamin, Chomsky, Foucault, Bourdieu, Freud, Habermas, Harold Bloom, Lígia Chiappini, Lukacs, Barthes, Marisa Lajolo, Marx, Piaget, Magda Soares, Valentin Voloshinov, Regina Zilberman e Umberto Eco. É um passeio pelo que há de melhor na crítica literária e uma aula para a formação de um intelectual.
Um dos mais curiosos artigos publicados se intitula “Sapos e bodes no apartamento”. Neste, Paulino lista, em um período específico, a coincidente escolha de autores por títulos que remetem a temas rurais na literatura infantil. Paulino (2010, p.87-91) demanda a inclusão de temáticas urbanas e concernentes a “maioria dos leitores” que “vivem num mesmo contexto urbano, em médias ou grandes cidades brasileiras, cheias de apartamentos e casas onde não cabem de fato sapos, bodes, raposas, vacas ou jiboias”.
No artigo “Funções e disfunções do livro para crianças”, a tarefa de Paulino é indagar “quais as funções da literatura ou da arte em geral” e no artigo intitulado “No silêncio do quarto ou no burburinho da escola”, publicado entre as páginas 119 e 127, discute as condições que nos fazem leitores.
Ao questionar e responder “Para que serve a literatura infantil?”, a autora aborda, com coragem, uma instigante questão que envolve a produção e a circulação de um formato específico de arte: a literatura para crianças no Brasil. E afirma: “Não há e nunca houve uma verdadeira arte que valesse o mesmo para todos no mundo, em todas as épocas, porque as pessoas têm expectativas, preferências e repertórios diferentes. Além do mais, há as diferenças de critérios de valor que dependem fundamentalmente de cada época histórica” (PAULINO, 2010, p.129). Nos dois últimos artigos, Paulino aborda mais aprofundadamente o letramento literário. São eles: “A formação de professores leitores literários: uma ligação entre infância e idade adulta?” e “Letramento literário: cânones estéticos e cânones escolares”.
Resenhar é convidar a ler, deixar o leitor curioso interessado, desconfiado, no instante mesmo de mover-se para ler mais, saber mais, perguntar mais. Desejo ter alcançado esse intento. Boa Leitura!
Resenhista
Cristina Maria Rosa – Graduada em Pedagogia (UFSM), Mestre e Doutora em Educação (UFRGS). E-mail: cris@ufpel.tche.br
Referências desta resenha
PAULINO, Graça. Das Leituras ao Letramento Literário. Belo Horizonte: FaE; UFMG. Pelotas: EDGUFPel, 2010. Resenha de: ROSA, Cristina Maria. Revista Práticas de Linguagem. Juiz de Fora, v.1, n. 2, p.114-116, jul./dez. 2011. Acessar publicação original [DR]