Dados e arquivos/Acervo/2021
O advento das novas tecnologias de informação e comunicação, associado a um cenário de movimentos sociais, políticos e econômicos, proporcionou um ambiente de intensas transformações no contexto da produção e circulação de objetos informacionais digitais nas últimas décadas. Considerando dados, informações e documentos como partes desses objetos informacionais digitais, grandes volumes são criados diariamente e podem ser tidos como resultado do uso intensivo da tecnologia em diversas áreas do conhecimento e da sociedade. Nesse contexto, inúmeras reflexões são necessárias e urgentes para entender as implicações, barreiras e potencialidades do uso desses objetos digitais para diferentes fins.
Como exemplo, cita-se o campo científico, no qual há alguns anos vêm se observando projetos de pesquisa nos quais o compartilhamento de dados é a base para geração de novos conhecimentos. A e-Science, ou uma ciência com uso intensivo de dados, como preconizada na obra de Jim Gray, ganha força e se expande para diferentes áreas do saber. Assim, a discussão sobre padrões, métodos e ferramentas utilizadas na gestão, no compartilhamento e na abertura dos dados de pesquisa ganha novos contornos, considerando-se os dados como fonte e ativos valiosos para novas descobertas e respostas, que vão das ciências exatas às humanidades e às artes.
Além da ciência, outros setores da sociedade também demonstram a importância de enfrentar o desafio da transformação digital, inclusive com programas governamentais específicos para o tema, ampliando os desafios técnicos e tecnológicos para os chamados profissionais da informação, seja na esfera pública ou privada.
Associados a essa discussão também estão temas que já vêm sendo debatidos no campo dos arquivos e da arquivologia há anos, como a governança, a gestão e o tratamento dos objetos arquivísticos digitais, além da preservação digital e outros temas. Inúmeras questões se colocam para a arquivística nesse cenário.
Qual é a relação entre o tema dos dados, conforme discutido na atualidade, e os arquivos? Como os arquivos e a arquivologia estão se posicionando nas experiências, práticas e teorias relacionadas aos dados, incluindo os dados de pesquisa disponibilizados a partir do movimento da ciência aberta? Como essas discussões podem fortalecer a arquivologia em termos de serviços, interoperabilidade, acesso e importância social e científica a partir dessas novas tendências? O que a arquivologia tem a acrescentar e oferecer em termos práticos, teóricos e de padronização, por exemplo, na preservação, na confiabilidade e proveniência, ou seja, qual o papel desse arcabouço para a e-Science?
Assim, a proposta deste dossiê foi abrir espaços para essa discussão e fomentar a divulgação de pesquisas que têm se debruçado sobre tais relações, buscando mostrar a posição dos arquivos diante dessa realidade. Além dos artigos, a entrevista, a resenha de livro e a seção Documento configuram uma vasta coleção de estudos atuais e experiências em curso, na qual é possível verificar inúmeros pesquisadores e profissionais dedicados a participar do debate proposto, a partir de diferentes perspectivas e áreas. Sob a ótica dos arquivos, o dossiê traz contribuições sobre as temáticas da transformação digital, dos Records in Contexts (RiC), da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), do gerenciamento de dados pessoais, da identificação de tipos de dados de pesquisa, das contribuições e desafios para a gestão de documentos e dados no contexto da ciência e laboratórios, dos dados arquivísticos escolares como fonte de pesquisa, dos dados abertos em universidades federais brasileiras e do gerencialismo e justiça aberta.
Os artigos submetidos a este dossiê mostram a diversidade de abordagens para discussão das temáticas dos dados e de suas relações com os arquivos, que envolvem o desenvolvimento de arcabouços conceituais e tecnológicos voltados para apoiar a gestão, o compartilhamento e o reúso dos objetos informacionais. Observa-se que a ótica multidisciplinar possibilitará o direcionamento das questões práticas e teóricas que abrangem o diversificado ciclo de produção de conhecimento sobre determinados temas. Será necessária uma convergência de experiências de diversas áreas, tecnologias e ações sociais e políticas. Destaca-se a importância de um diálogo a ser desenvolvido e ocupado pelos teóricos e profissionais dos arquivos, que, a partir das experimentações já acumuladas pela arquivologia, podem contribuir para qualificação do debate e busca de respostas a questões complexas observadas nesse contexto.
Desejamos uma ótima leitura do dossiê, servindo de inspiração para novas reflexões e ações!
Organizadores
Vanessa Jorge – Fiocruz.
Luís Fernando Sayão – CNEN/Ibict/UFRJ.
Referências desta apresentação
JORGE, Vanessa; SAYÃO, Luís Fernando. Apresentação. Acervo. Rio de Janeiro, v. 34, n. 3, p. 1-2, set./dez. 2021. Acessar publicação original [DR/JF]