Cultura e Poder | Em Perspectiva | 2017
As práticas culturais do social se constituem nas relações de poder, no sentido que a cultura é construída em um jogo de tensão a partir do modo de viver e de sentir dos sujeitos situados em suas múltiplas temporalidade e espacialidades.
Neste número, a revista Em Perspectiva reuniu trabalhos que têm como foco as experiências dos sujeitos como campo de conflito, marcadas pelas inúmeras táticas e estratégias de poder, enfatizando o desenvolvimento de reflexões acerca da escrita, da oralidade e da imagem.
Nos interessou acolher trabalhos que problematizam a história das identidades (nacionais, regionais, locais, institucionais, profissionais, étnicas, de gênero); da construção simbólica e imaginária das memórias dos ou da formação de monumentos, festas e comemorações; das representações nos discursos literários, musical e cinematográfico.
Reunimos trabalhos sobre as ideias e ideologias políticas levando em consideração o lugar social que são produzidos, ressaltando a diversidade das estruturas de saberes não somente nas instituições oficiais, mas na multiplicidade de conhecimento amarrados pelos interesses, anseios e necessidades da vida cotidiana.
É o caso do artigo Terno de Reis de “ouro Verde”, Abaíra, Chapada Diamantina (BA):um estudo sobre cultura popular, de Ildimar França, que analisa as festas de reisado atentando para as suas características lúdicas e religiosas. Com outro escopo de análise, recorte temporal e temático, José Airton de Farias, em (Re)invenções de presos políticos num presídio da ditadura militar, investiga as ressignificações dos presídios, as quais foram realizadas pelos presos políticos no período da ditadura civil militar brasileira.
Fernanda Capri Raposo, em Apresentação e metodologia de análise referente à pesquisa documental do fundo institucional Centro Israelita de Nilópolis custodiado pelo Arquivo Histórico Judaico, reflete sobre as estruturas organizativas (teóricas e metodológicas) da documentação presente o Fundo Institucional Centro Israelita de Nilópolis, custodiado pelo Arquivo Histórico Judaico Brasileiro.
Em De acordo aos “usos e costumes”: relações de trabalho nos garimpos de brejinho das ametistas, Carla Gabriela Chaves de Castro Cotrim perscruta relações de trabalho a partir dos “usos e costumes” constituídos pelos garimpeiros e donos de garimpos através do processo de ação ordinária movido no ano de 1945 pelo garimpeiro Antônio Borges Sobrinho contra o alemão Kurt Walter Dreher, em Brejinho das Ametistas, na Bahia.
Sônia Meneses e Fátima Pinho, em Imprensa, anticomunismo e fé: a destruição do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto nas representações da imprensa brasileira (1936-1937), como os discurso sobre a comunidade Caldeirão da Santa Cruz do Deserto foram disseminados através da imprensa brasileira, principalmente nos jornais. Já Abimael Esdras Carvalho de Moura Lira, em A crise política de 1720: conflitos jurisdicionais e cultura política do Antigo Regime na administração da Capitania do Rio Grande do Norte, investiga os conflitos que ocorreram na Capitania do Rio Grande, ao longo da década de 1720, envolvendo o escrivão da câmara da cidade do Natal, Bento Ferreira Mousinho, e o capitão-mor daquela capitania, José Pereira da Fonseca.
Em Mulheres armadas: uma reflexão sobre as representações de gênero na participação das mulheres na Guerrilha do Araguaia, Bruno Sanches Mariante da Silva e Ingred Satomi Carvalho analisam a partir do contexto social das mulheres em guerrilha os jogos de representações de gênero que incidiam sobre as mulheres que ingressavam nos movimentos guerrilheiros, uma vez que elas distanciavam-se dos modelos sociais concebidos e esperados para as mulheres dos anos 1960/1970.
Já Bruno de Brito Damasceno, em Os homens pobres e a terra amazônica na produção literária de Euclides da Cunha, investiga interpretações construídas por Euclides da Cunha (1867-1909) sobre a presença humana na Amazônia no início do século XX.
Raquel Alves da Silva, em A minha, a tua e a nossa pátria: livros escolares para o ensino de história na década de 1920, realiza uma primorosa investigação sobre escrita da história e da história nacional e local, destinada às crianças, presentes Minha Pátria, de João Pinto e Silva (1889-1950) e Nossa Pátria, de Rocha Pombo (1857-1933), os quais foram utilizados como materiais didáticos no ensino de História Pátria nas escolas primárias cearenses nas décadas de 1920 e 1930.
Em Lavando almas, lavando corpos: a prática do batismo na freguesia da cidade do Natal, século XVIII e XIX, Thiago do Nascimento Torres de Paula estuda a prática do batismo na formação social da Freguesia da Cidade do Natal, entre os anos setecentistas e oitocentistas, estabelecendo conexões com outras figurações sociais da América portuguesa e castelhana, demonstrando como o ato de batizar era sobretudo um fato social total.
Ainda na temporalidade dos oitocentos e novecentos, Patrícia Marciano de Assis, em Juízes de órfãos na Capitania do Ceará: definições da ideia de órfão e práticas jurídicas (1799- 1822), discutir as definições de órfão a partir da documentação das Ordenações Filipinas e das práticas dos juízes de órfãos, situando o aparecimento desses juízes na Capitania do Ceará, no período colonial, especificamente entre os anos de 1799 a 1822.
Maiara Silva Araújo e Helder Alexandre Medeiros de Macedo, no artigo Homens da justiça e das ordenanças: mestiços na administração colonial nos sertões da Capitania do Rio Grande (Séculos XVIII e XIX), examinar o perfil de sujeitos mestiços que, no decurso do século XVIII e nos primeiros anos do XIX, ocuparam ofícios administrativos no âmbito judicial e militar dos sertões da Capitania do Rio Grande a partir do estudo de caso do Juiz de Órfãos Manuel de Souza Forte.
Em A relação entre a imprensa soteropolitana com o golpe de 1889: uma análise dos discursos jornalísticos sobre a proclamação da república, Matheus Berlink analisa discursos jornalísticos utilizados pelos jornais que circulavam da cidade de Salvador, durante a primeira quinzena após a Proclamação da República do Brasil. Andreia Rodrigues de Andrade, em Normas e transgressões: as tentativas de disciplinar o viver na Teresina oitocentista, analisa o viver em Teresina na segunda metade do século XIX como foi alvo do olhar disciplinador do poder público, o qual buscou estratégias disciplinadoras, como as posturas para reprimir as condutas desviantes no espaço citadino.
Neste número você pode apreciar a resenha de Tyrone Apollo Pontes Cândido sobre o livro A dominação e a arte da resistência: discursos ocultos, de James C. Scott, publicado em 2013 pela Livraria Letra Livre/Plebeu Gabinete de Leitura, com tradução de Pedro Serras Pereira.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Organizadores
Os editores
Referências desta apresentação
Os editores. Apresentação. Em Perspectiva. Fortaleza, v. 3, n. 1, p.4-6, 2017. Acessar publicação original [DR]