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Congadas: Memória e Tradição Afro-Brasileira / Revista Mosaico / 2019

Esse volume da Revista Mosaico reúne diversos artigos que discutem a religiosidade popular, a partir de seu viés afrodescendente, tendo como palco as irmandades católicas, dentre elas as negras. Os artigos perpassam pelos diversos festejos populares nascidos ou ressignificados no Brasil-colônia e, que trazem em seus ritos vestígios da África negra, fundidos com o catolicismo lusitano dentre eles; as Congadas, os Congos as folias, suas indumentárias, seus capacetes, coroas e patuás. Para tanto, antes de apresentar os artigos que compõem esse dossiê, se faz necessário algumas reflexões sobre quem são os reis negros reverenciados durante os festejos de congada, congo e outros folguetos, apresentados neste dossiê; e sobre os resultados da diáspora africana em terras brasileiras, no que tange à religiosidade popular e seus desdobramentos para o afro-catolicismo.

Um dos muitos resultados da diáspora africana é a presença de reis negros nas Américas, representantes de grupos étnicos específicos, presentes no interior de quilombos e de irmandades católicas negras. Nessas irmandades também os reis negros se tornam referências daquilo que no Brasil, tempos depois, resulta nos festejos das Congadas. Os estudos das situações em que existiram esses reis nas Américas esclareceram como africanos e europeus interagiram no contexto da colonização americana sob um regime escravista, criando novas perspectivas para se reescrever a história desse período dando voz a outros protagonistas do processo de construção da nação brasileira.

Ao abordar o papel dos reis na diáspora brasileira, Soares (2006) afirma que, na cosmogonia Iorubá [1], a monarquia é uma instituição criada por Deus. O autor cita o exemplo de Xangô [2], que representa a figura do grande rei divinizado após sua morte. Seus atributos são: força, poder, justiça e virilidade. Nos ritos do Candomblé, a realeza é dramatizada e materializada em determinados signos distintivos como o cajado, o cetro e a coroa. A atribuição de títulos de reis e rainhas a pais e mães de santo do Candomblé e Umbanda demonstra as ressignificações pelas quais os termos reis e rainhas passaram nas novas terras. Perceptíveis são o prestígio e a relação dos reis com o sagrado, ressaltando a importância e a consideração desse termo e da relação desses reis com seus súditos reais e imaginários (SOARES, 2006). Essa relação entre rei e súditos, vivenciadas em terras brasileiras pelos primeiros africanos escravizados, é uma tentativa de os africanos reinventarem seu país nessas novas terras, buscando, mesmo de forma empírica, transpor sua cultura para aquela realidade subalternizada (SOUZA, 2002).

Esses reis que vieram durante o período escravocrata contribuíram para uma transposição cultural vivenciada dentro dos Quilombos e das irmandades negras. Nesses espaços, esses reis buscavam exercer sua liderança e reconstruir sua identidade, mesmo que de forma simbólica. A transposição simbólica é comunicada por meio da cultura, entendida como um sistema simbólico orientador das ações humanas. Segundo alguns pesquisadores como Mauss (2003), Brandão (1985), Geertz (1989), Laraia (2006), dentre outros, é a capacidade de o ser humano simbolizar a experiência vivida que diferenciou o homem das outras espécies. Os objetos empíricos, sons, gestos, rituais, instrumentos de trabalho e alimentos não são apenas respostas às necessidades básicas do ser humano, eles comunicam mensagens e possibilitam interações entre pessoas (GEERTZ, 1989). A cultura funciona em uma comunidade de maneira análoga ao sistema linguístico. Como conjunto de expressões sonoras, vocalizadas, a língua é decodificável apenas pela comunidade de fala. Da mesma forma, as ações humanas orientam-se pelos códigos informados pela cultura (GEERTZ, 1989 apud SIMONI, 2017).

Nesse contexto, a cultura afro-brasileira, eixo deste dossiê é tributária da concepção de cultura como linguagem simbólica. Dessa maneira, concebe-se a cultura afro-brasileira como um sistema simbólico orientador das práticas sociais referenciadas em princípios ancestrais africanos. Esses princípios, conforme esclarecem Mintz e Price (1992), funcionaram na diáspora como elementos de uma sintaxe. Os referenciais simbólicos são acionados de maneira seletiva e contextual, em um ambiente mutável. As práticas culturais afro-americanas, embora orientadas pelos referenciais africanos, não são, portanto, reproduções ou cópias da África nas Américas, mas reelaborações de caráter dinâmico, flexível, plástico e em constante mutação, a exemplo dos cortejos e batuques introduzidos nas Américas pelos africanos. Há outras manifestações culturais e religiosas nascidas nas Américas que possuem origem africana como, por exemplo, a música, a dança, a língua, além dos saberes e fazeres perceptíveis nos comportamentos recriados de acordo com cada região das Américas (MINTZ; PRICE, 1992).

A cultura afro-brasileira é rica em música e dança que se estruturam a partir de duas matrizes básicas africanas, Congolesa e iorubana. A primeira (Congolesa) sustenta a espinha dorsal dessa música, que tem no samba sua face mais exposta. A segunda (iorubana) molda, principalmente, a música religiosa afro-brasileira e os estilos dela são decorrentes de folguedos, a exemplo de Congadas, Folias, Afoxés e também dos Candomblés, Umbanda e suas diversas ramificações religiosas. Alguns desses estilos são marcados por cortejos de rua, como Afoxés, Congadas, Folias, Folguedos que preservam, em seus instrumentos, a musicalidade e a dança desses dois grupos africanos (LOPES, 2004 apud SIMONI, 2017).

Os Folguedos são festas de caráter popular cuja principal característica é a presença de música, dança e representação teatral. Grande parte dos folguedos possui origem religiosa e raízes culturais dos povos que formaram nossa cultura (africanos, portugueses, indígenas). Contudo, muitos folguedos foram, com o passar dos anos, incorporando mudanças culturais e adicionando às festas novas coreografias e vestimentas, máscaras, colares, turbantes, fitas e roupas coloridas (REIS, 1996). Quanto as Folias se destacam as do Divino Espírito Santo e a dos Reis Magos, ainda assim a mais popular é a dos três reis magos, que consiste na dramatização de rua em que é representada a viagem bíblica dos três reis magos, que ocorre entre o natal e o dia 6 de janeiro (Dia de Reis).

Quanto aos Afoxés, consistem em um cortejo de rua criado para homenagear os Orixás [3] femininos e está diretamente ligado aos rituais do candomblé (SOUZA, 2006). O candomblé é uma religião dos orixás formada na Bahia, no século XIX, a partir de tradições de povos Iorubá também chamados de Nagô, com influências de costumes trazidos por grupos Fons, aqui denominados Jejes, e residualmente por grupos africanos minoritários. O candomblé Iorubá ou Jeje-nagô agregou, desde o início, aspectos culturais originários de diferentes cidades iorubanas, originando-se diferentes ritos ou nações de candomblé, predominando em cada nação tradições e nomes das cidades ou região: Queto, Ijexá, Efã (LIMA, 1984, apud SILVEIRA, 2003). A história escrita em nosso território registrou a presença e a fecundidade desses ritos, e a preponderância das crenças de origem Iorubá. Como assegura Souza;

Outro conjunto importante de práticas e crenças mágico-religiosas de matrizes africanas que germinou no Brasil foram os candomblés, sendo do século XIX as primeiras referências a eles. Apesar de o termo candomblé pertencer à língua banto, no Brasil se refere a cultos religiosos de origem iorubá e daomana. Neles, as principais entidades sobrenaturais são os orixás, quando a influência iorubá, também chamados de voduns, quando na casa de santo a influência maior é daomeana. Na Bahia, os iorubás também ficaram conhecidos como nagôs, e os daomeanos como jejês (SOUZA, 2006, p. 115).

Os cortejos de rua ligados à religiosidade de matriz africana apresentam algumas caraterísticas que se difundem, mesmo quando os mesmos têm como base os santos católicos, um destes são os Afoxés ou candomblés de rua, termo usado para designar cortejos religiosos que saem as ruas em devoção aos Orixás quase sempre femininos. Esses cortejos são ressignificados, por vezes, nos cortejos de folias e congados. O Cortejo / afoxés sempre ligados às casas de santo, enquanto as folias e Congadas estão ligadas diretamente às irmandades e aos santos devocionais e à igreja católica, ainda assim ambos se difundem em partes dos ritos indumentárias.

Em se tratando de irmandades, essas constituíram-se no período escravagista, tendo sido mantidas por escravos e libertos. Tinham como característica a realização de ajuda mútua de empréstimos e adiantamento para as alforrias de escravizados. Essas irmandades tinham a particularidade de escolher os seus “reis e rainhas Congos” durante as festas em homenagem aos seus santos de devoção (VASCONCELOS, 1996). Dentre as irmandades negras, as que mais se destacaram foram aquelas em devoção a Santa Efigênia, Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, São Elesbão, São Bento. Não há um registro exato do início dessas devoções, mas alguns registros informam que, desde 1639, as devoções a Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito são vivenciadas no Rio de Janeiro (SOARES, 2000 apud SIMONI, 2017).

Pertencer a uma irmandade de pretos era para os negros escravizados a fomentação dos cerimoniais de Congada que, hoje, são vistos por pesquisadores como redutos de fusionismo afro-cristão (SOUZA, 2012). Nesses cerimoniais os negros atualizavam crenças africanas por intermédio de uma codificação cristã, e continuam usando tal codificação para, agora, tirar da marginalidade social essa manifestação de fé e cultura afros.

Nos bastidores das irmandades, sob a barroca expressão católica, essas pessoas encontravam um espaço alternativo para a perpetuação de valores, disposições emocionais, orientações existenciais, concepções sobre a pessoa, formas de expressão, gestualidade etc., próprias das culturas africanas, aspectos esses que se imbricavam indissociavelmente à sua religiosidade. Desse modo, com muita frequência, as irmandades encobriram práticas que não se ajustavam aos cânones e regras da teologia católica: os calundus, os congados, dentre outros (PARÉS, 2007, p. 111).

Era durante os festejos que os negros introduziam parte de suas práticas religiosas. Algumas manifestações afro-religiosas surgiram e se consolidaram resguardadas pelas condecorações (a exemplo dos brasões, patuás, alguns conhecidos como Bentinhos) e fé cristã imposta pelos dominadores, em um misto de catolicismo popular e cultos afro, aqui concebidos como afrocatolicismos. Esse catolicismo popular faz parte do que os cientistas da religião como Azzi (1977) chamam de religiosidade popular. A esse respeito Brandão (1986) discorre que as religiões descritas como populares são o catolicismo rústico do campesinato, o pentecostalismo tradicional, as modalidades arcaicas e atuais de cultos afro-brasileiros e os cultos messiânicos.

Burke (1989), por sua vez, afirma que os africanos contribuíram para o surgimento das religiões populares, entre elas, o catolicismo popular, nascidas do processo de aculturação vivenciado por africanos, indígenas e europeus em terras brasileiras; o autor em seu estudo acerca da cultura popular na modernidade discute sobre os conceitos de popular e elite, separadamente, mas recusa uma concepção polarizada entre eles: A fronteira entre as várias culturas do povo e as culturas das elites (e estas eram tão variadas quanto aquelas) é vaga e por isso a atenção dos estudiosos do assunto deveria concentrar-se na interação e não na divisão entre elas

[…] bi-culturalidade das elites, suas tentativas de ‘reformar’ a cultura popular, sua ‘retirada’ delas e finalmente sua ‘descoberta’, ou mais exatamente ‘redescoberta’ da cultura do povo (BURKE, 1989, p. 21).

Diante deste enunciado, e com ênfase nas diversas formas da religiosidade popular nascida como resultado do processo diaspórico dos africanos no Brasil, concebemos e apresentamos este importante dossiê que se propõem a discutir temas como este em uma perspectiva histórica cultural discorrendo sobre memórias, tradições e religiosidades afrobrasileiras. O mesmo está dividido em duas partes: a primeira gira em torno das formas e expressões das religiosidades populares; a segunda parte aborda a questão das religiosidades afro descendentes, envolvendo as irmandades, as congadas e os reinados no Brasil.

Os artigos da primeira parte abordam a formação das festividades católicas praticadas no Brasil desde o período colonial, salientando a importância desses festejos para formação identitária nacional, assim o artigo A religiosidade nos distritos de souzânia e interlândia: estudo de caso das folias do divino de autoria de Luan Felipe Coelho e Poliene Soares Bicalho, parte dos festejos em homenagem ao Divino Espírito Santo para compreender a formação sociocultural dos distritos de Souzânia e Interlândia, para tanto, trabalham com observação in loco e entrevistas. Partem de autores que abordam o conceito de cultura, a exemplo de Larraia (1986) e Santos (1994), perpassando pelo conceito de sagrado, profano e espaços sacralizados de Eliade (1992), de identidades de Stuart Hall (1986) e, de religiosidade popular, folias e romarias tendo como base Brandão (2004), além da história de Goiás e memórias goianas trabalhadas por Chaúl (2011). O artigo também expõe, a partir das representações, as estratégias e negociações cotidianas que permitiram a “existência simbólica” de elementos da cultura africana e seus descendentes nas festividades, isso fica implícito nas descrições do ritual. O artigo, por fim, apresenta originalidade, é fluido e coeso, o que torna a leitura, além de instrutiva, prazerosa.

Ainda, seguindo as Folias, o segundo artigo sob o título A materialidade da fé: sacralização dos objetos nas folias de reis de Itaguari – Go, do autor Igor Junqueira lança um olhar sobre a materialidade do sagrado nas Folias de Reis de Itaguari no estado de Goiás, o autor apresenta a permanência deste festejo local como forma de resistência cultural frente aos processos modernizadores que adentram o município reconhecido como polo têxtil. O festejo é apresentado nesse artigo através das crenças, costumes e tradições que acontecem no município durante os festejos da folia de Reis. O autor percebe uma dicotomia na representação dos objetos, de um lado os retrata como demarcadores das colonialidades “do poder” e “do saber”, e os evidencia como materialidades ativas, marcadoras de identidade cultural, em oposição ao pensamento colonial em expansão relacionando-os a um saber popular muito distinto, repleto de particularidades que denotam uma tradição pautada no catolicismo popular, onde a materialidade é eleita pelo autor como chave para compreensão desses festejos.

A segunda parte do dossiê versa sobre religiosidades afrodescendentes: irmandades, congadas e reinados no Brasil. Os artigos que compõem esse tópico expõem, a partir de algumas das diversas expressões afro-católicas nascidas no país, representações, estratégias, e negociações que permitiram a permanência física e simbólica das religiões de matriz africana nos festejos e rituais católicos. Expõem, assim, o “fracasso” dos colonizadores em excluir as heranças históricas cultural dos povos africanos na formação da identidade brasileira com ênfase na religiosidade. No primeiro artigo sob o título: Congadas e reinados celebrações de um catolicismo popular, africano e brasileiro; o autor Marcos Antônio Fontes de Sá apresenta uma análise das origens dos festejos de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, apontado algumas das variações estruturais e ritualísticas dessa devoção em vários estados, o autor tem como eixo central de análise seus dez anos de pesquisa e documentação fotográfica; suas pesquisas ressaltam, nesses festejos, a relevante presença da cultura dos povos conhecidos como Bantu desde a origem, até os ritos atuais.

O diferencial deste artigo está na riqueza das imagens apresentadas e na análise do autor sob a presença da cultura Bantu nos festejos; através das imagens o autor apresenta as variações das vestimentas adornos e rituais vivenciados em cada cidade / estado apresentado; o autor, em primeira instância, nos convida a conhecer a cosmovisão dos povos Bantu, sua relação e devoção com os “mortos” chamados ancestrais; as riquezas dos cultos, a visão do processo de” travessia” do atlântico vivenciada pelos escravizados, tanto a simbólica quanto real. O autor surpreende com a análise através de um gráfico da “Kalunga” e sua relação com os espelhos usados como adorno pelos devotos dos santos pretos, relacionando-os a um portal que liga os dois mundos vivos / mortos. O texto, como todos os outros deste dossiê, merece uma leitura minuciosa pela riqueza das pesquisas apresentadas e pelos diálogos apresentados pelos autores.

O segundo artigo desse tópico sob o título de Fé e festividades nas irmandades negras no interior do Brasil (Re) afirmação identitária afrodiaspórica de autoria de Rosinalda Côrrea da Silva Simoni e Noeci Carvalho Messias, parte das pesquisas de doutorado das autoras realizadas em tempos e estados diferentes. Apresenta as reflexões e o entrelaçamento do contexto histórico de nascimento e perpetuação das irmandades negras e seus festejos nos espaços estudados. As autoras apontam em suas reflexões a importância das irmandades e festejos para seus praticantes, como uma manifestação de fé e de (re) afirmação identitária no processo diásporico. Na reflexão sob as influências africanas na formação das irmandades negras as autoras partem da obra de Mary Karasch (2000) para salientar que estas associações eram as instituições socioreligiosas mais relevantes do início do século XIX; seguindo o diálogo para o contexto regional elas citam Moraes (2006), e sua reflexão sobre religiosidade como fator de profundo enraizamento social entre os habitantes dos Guayazes.

Em seguida as autoras apontam as irmandades como espaço de resistência sócio cultural ao sistema de opressão vigente no período respaldadas em pesquisas de alguns africanistas a exemplo de Páres (2007), Munanga (2012), e Souza (2012). No tópico seguinte dialoga-se com os conceitos de sincretismo religioso no Brasil apresentando o mesmo como elemento primordial para se compreender a construção cultural identitária dos afrodescendentes, dentre elas as identidades religiosas. Assim, o artigo apresenta um passeio sobre o Brasil setecentista e o nascimento dos festejos dentro das irmandades, com ênfases nos conflitos e perseguições sofridas pelos adeptos. Neste contexto é apresentado também as estruturas das festas e os cortejos que a compõem, além da reflexão sob os reinados africanos e suas representações nos festejos comemorativos. O artigo, que teve como uma das bases as memórias e as oralidades, tem nas entrevistas transcritas e diálogos um de seus diferenciais, partindo das narrativas coletadas as autoras discorrem sobre a importância das memórias familiares para consolidação dessa manifestação de fé que perpassa a identidade cultural dos grupos envolvidos.

E por fim, o último artigo deste dossiê, Memória e Identidade na festa em Louvor a nossa senhora do Rosário de Cleber de Souza, retrata os processos de evocação das memórias e suas relações na constituição da identidade cultural dos (as) congadeiros (as) na festa de Nossa senhora do Rosário e São Benedito da João Vaz. Tendo como eixo norteador a memória de um dos mestres desse grupo o autor navega pelas memórias do grupo buscando refletir sob a importância da memória desse indivíduo para construção e manutenção de memória coletiva do grupo, tendo como foco as práticas corporais e os cânticos o texto apresenta a “criação” e manutenção das danças toques e sua influência nos rituais festivos dos santos negros. Em suma a partir das narrativas e nas reflexões apresentadas por esse artigo podemos perceber que para esse grupo as memórias e identidades são negociadas e tensionadas no cotidiano das adversidades materiais durante a produção da Festa da João Vaz, ao mesmo tempo em que a sobrevivência se dá pelas redes de solidariedade que reforçam os laços afetivos entre eles.

Ressalta-se apenas que os dois últimos artigos se debruçam sobre o mesmo grupo de congada e em ambos o que ficou em evidência foi que aos olhos da história local (Goiânia) as Congadas aparecem como coisa do passado, deslocadas do tempo, para os congadeiros a prática do congado é local de construção e fortalecimento de laços socioculturais, com memória e tradição disseminadas pelo fundador e por seus discípulos que todos os anos reverenciam seus ancestrais africanos e afrodescendentes através de seus rituais onde os cânticos entoam palavras de origem Bantu e suas batidas fazem alusão aos cortejos ainda vivenciados por grupos africanos até a atualidade.

Ao compartilhar esta publicação com a sociedade as organizadoras e autores / colaboradores acreditam poder contribuir para o processo continuado do debate sobre a religiosidade popular com ênfase nos festejos ligados ao afro catolicismo dentre eles e de forma especial as Congadas.

Boa Leitura!

Notas

1. Um dos grupos étnicos trazidos para a América brasileira no período escravocrata (MUNANGA; NILMA, 2004).

2. Segundo a mitologia, Xangô teria sido o quarto rei da cidade de Oió, que foi o mais poderoso dos impérios iorubás. Depois de sua morte, Xangô foi divinizado, como era comum acontecer com os grandes reis e heróis daquele tempo e lugar, e seu culto passou a ser o mais importante da sua cidade, a ponto de o rei de Oió, a partir daí, ser o seu primeiro sacerdote (PRANDI, 2001).

3. Etimologicamente, Orixá ou Orisá origina do iorubá “orí”=cabeça, “sá”=deus. O Orixá seria a princípio um anscestral divinizado que em vida estabelecia vínculos que lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza como trovão (Xangô) e o vento (Iansã) (VERGER, 2002).

Rosinalda C. da Silva Simoni – Aluna do pós-doutorado em História da PUC Goiás. Consultora Educacional / Arqueóloga.


SIMONI, Rosinalda C. da Silva. Apresentação. Revista Mosaico. Goiânia, v.12, n.2, jul. / dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Itamar Freitas

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