Já vimos que as resenhas são construídas a partir de um padrão retórico estabelecido no cotidiano de cada domínio acadêmico. Qual seria, então, o padrão retórico da área da Educação?
Genericamente falando, não haveria um padrão para a área da Educação porque a própria expressão já sugere o encontro de diferentes domínios acadêmicos, tais como: Psicologia, Sociologia, História, Medicina e várias das Neurociências. Podemos, entretanto, adquirir alguma noção de como os profissionais com formação inicial e pós-graduada em Educação operam quando querem atribuir valor a uma obra.
Vejamos o exemplo o caso da Revista Brasileira de Educação. Em resenhas publicadas nesse periódico, as unidades de informação mais frequentes são coincidentes com outros modelos retóricos: nome do autor, título da obra, objeto do conhecimento, questões centrais, objetivo do autor, trajetória acadêmica do autor, contexto de produção, plano da obra, resumo de parte, resumo do todo, teses, virtudes, vícios e eventuais benificiários da leitura da obra resenhada.
Observe que essa sequência de unidades de informação já é um modelo triádico:
É necessário advertir, contudo, que os modos de distribuir tais unidades variam de autor para autor. Em 100 resenhas publicadas, é possível identificar aproximadamente 80 modos de disposição dessas mesmas unidades de informação.
Em muitos casos, a criatividade e a intrusão do resenhista motivam a criação de uma nova forma de composição. Por ora, reiteramos apenas que uma boa forma de garantir essa qualidade é cumprir três movimentos, respondendo: o que disse o autor, o que ele quis dizer com aquelas ideias e qual o valor dessas ideias.
Para além dos modos de organizar essas unidades de informação, somos impelidos a observar as regras da língua portuguesa: a ordem das palavras na construção da frase (sujeito, verbo e complemento), o emprego de palavras e expressões que relacionam ideias (indicadores de coordenação e de subordinação), a necessidade de iniciar o parágrafo com uma declaração principal (o tópico frasal), de construir significados coesos e coerentes (indicadores de ordenação por tempo e espaço, indicadores de causa e consequência, diferença e semelhança, início e fim) (Garcia, 2011). Por isso, não tenham pudor em reabrir os livros do ensino médio.
Revisadas estas regras da norma culta e de posse das unidades de informação e de uma estrutura retórica ideal para gênero, vocês podem começar refletindo sobre os dois primeiros parágrafos. O que devem conter?
Os parágrafos 1 e 2 de uma resenha são fundamentais para o engajamento do leitor. Resenhista que não informa imediatamente do que trata a obra está fadado a não ser lido ou ser lido com má vontade e às pressas.
Por isso, fujam das intrusões que declarem obviedades e/ou que não contribuam diretamente para a compreensão do texto e do valor da obra resenhada. Evitem iniciar a resenha com citação direta à obra resenhada, com epígrafes do seu filósofo favorito, com generalizações do senso comum (“Em um mundo globalizado, todo cidadão deve…”) e, principalmente, as intrusões autobiográficas: “O que me levou a ler esta obra foi…”; “Evidentemente, não é possível comentar toda a obra nesta resenha…”; “Após a leitura desta obra, me senti completamente…”; “Quando entrei em sala de aula, pela primeira vez…”. Para efeito de exercício, neste curso, habituem-se a distribuir de quatro a oito unidades informações (referidas acima) entre o primeiro e o segundo parágrafo.
Observem essas três maneiras de combiná-las. Se quiserem, criem uma quarta combinação e escrevam os seus primeiros parágrafos.
Se o livro já está lido (evidentemente), vocês já têm uma noção da sua qualidade, ou seja, podem estimar a sua utilidade para a formação de determinado aluno, a empregabilidade para determinado profissional, o seu grau de inovação para determinado domínio acadêmico.
Mesmo que desconheçam em grande parte as teses do assunto lido, é muito provável que consigam julgar se o autor cumpriu os objetivos anunciados (se foi eficiente), se os cumpriu com os melhores meios, isto é, se facilitou a vida do leitor em termos retóricos, oferecendo exemplos, glossário, notas (se foi eficaz) e se procedeu com ética (indicando as fontes e a bibliografia e citando princípios e autores representativos no assunto ou domínio).
Se esse valor geral que povoa a mente de vocês já lhes possibilitam sugerir a apropriação das ideias do livro por um leitor potencial, por que não esboçar, agora, o final da resenha?
Sugerimos, então, que construam, provisoriamente, os dois parágrafos finais, lembrando-se de evitar as intrusões. Mas elas podem confundir mais que ajudar. O que deve ficar em suas mentes (segundo a meta inicial perseguida pelo resenhista), repetimos, são as informações sobre o que disse o autor, o que quis dizer com aquelas proposições e qual o valor das coisas que disse para certo leitor potencial.
Observem essas três maneiras de combinar as unidades de informação mais frequentes nas resenhas da RBE. Como já anunciamos, vocês também podem criar uma quarta ou quinta combinação com os mesmos elementos.
Com início e fim esboçados, seus fragmentos de resenha já podem ganhar a forma de uma narrativa. Leiam os quatro parágrafos sem interrupção e façam, autoavaliações: “Os parágrafos fazem sentido? Eles são coerentes e coesos?”
Se a resposta pessoal for sim, provavelmente, o seu texto inicial conterá o seguinte enunciado: “Fulano escreveu tal livro, que trata de tal assunto, de tal maneira e possui tais e tais vícios e virtudes, podendo ser lido, principalmente, por tal ou tal interessado neste objeto.”
Reconhecemos que escrever o fim, antes do chamado desenvolvimento, não é um procedimento usual. Se vocês não se adaptarem à proposta, poderão escolher entre outras orientações disponíveis na bibliografia sobre resenhas acadêmicas. Mais importante que cumprir a tarefa é fazê-lo, descobrindo a forma como melhor cumpre o objetivo do curso.
Em qualquer estratégia, contudo, o texto intermediário (entre os parágrafos iniciais e finais), como descrito na estrutura retórica acima, poderá progredir de maneira vária e ganhar extensão também variável. Na experiência que colhemos da RBE, as combinações mais frequentes estão dispostas no quadro 3.
Atentem para a idealidade das estruturas. Entendam que o número de quatro parágrafos não é regra. A extensão das resenhas é determinada pelos projetos editoriais de cada periódico. Para no nosso curso, aceitamos resenhas que possuam entre 800 e 1200 palavras (inclusos o título da resenha, informações sobre o resenhista e referências da obra resenhada). Isso significa que o número de parágrafos intermediários pode chegar a dez.
Agora que vocês conhecem minimamente as unidades de informação e a estrutura retórica de resenha extraídas de um periódico educacional, sugiro que apliquem tais conhecimentos na elaboração da resenha do livro escolhido sobre Avaliação da Aprendizagem.
Com a replicação de três ou quatro exercícios deste tipo, a combinação aplicada ficará tediosa. Para evitar o enfado e o desprazer, experimentem novas estruturas retóricas. Em anexo, apresentamos três possibilidades de cruzamentos, mas elas podem chegar a nove, apenas com o emprego das unidades de informação apresentadas neste texto.
Bom trabalho!
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna: aprendendo a escrever. 27ed. Rio de Janeiro: FGV, 2020.
FREITAS, Itamar. Compondo resenhas para educadores. Resenha Crítica. São Cristóvão, 23 ago. 2021. Disponível em <https://www.resenhacritica.com.br/todas-as-categorias/compondo-resenhas-para-educadores/>
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