Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora | Bruno Latour

A recente edição em língua portuguesa do livro Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora nos convida, a nós leitores brasileiros, à leitura de mais um trabalho de Bruno Latour. Particularmente, instiga-me saber por que, dentre tantos autores dos chamados estudos sociais da ciência, Latour tanto se destaca entre nós. Afinal este é o terceiro livro deste filósofo e professor do Centre de Sociologie de l’Innovation (CSI),1 aqui publicado.2 Muito embora, alguns haverão de retrucar, se trate de obras quase obrigatórias, uma vez presentes nas referências bibliográficas da maior parte dos trabalhos sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade.

No entanto, Ciência em ação distingue-se de grande parte da produção anterior de Latour, lembrando que sua primeira edição, em língua inglesa, é de 1987 pela Havard University Press. Distingue-se por não ser um estudo denso de uma instituição de pesquisa ou de um fato científico, a exemplo dos precedentes Laboratory life (com Woolgar, 1979) e Les microbes: guerre et paix (1984). Não, aqui seguimos um Latour entretido com uma série de estudos de caso, alguns realizados por outros pesquisadores.3 Um Latour preso à tentativa de estabelecer as recorrências e as singularidades entre as situações e os contextos relatados nesses estudos, para então pensar nas problemáticas e métodos compartilhados por seus autores. Pensar, portanto, na possibilidade de um campo de pesquisa interdisciplinar dedicado às relações entre ciência, tecnologia e sociedade. Reivindicando, sobretudo, uma forma de análise não centrada no social nem só no técnico, porém capaz de respeitar a dinâmica não hierárquica e não-linear de suas imbricadas relações.

Projeto ambicioso, conduzido pelo autor para desembocar no estabelecimento de regras (“indico as decisões que são necessárias tomar a priori na consideração de todos os fatos empíricos criados pelas disciplinas especializadas”) e princípios (“indico a minha síntese pessoal dos fatos empíricos em mãos após dez anos de trabalho nessa área”, p. 36). Porém, pensar neste projeto implica dizer algo acerca do campo com o qual Latour dialoga.4

O final da década de 1960 marca a produção de estudos que propõem um modo peculiar de tratar as tecnociências. Até então as ciências sociais, em especial a sociologia, circunscreviam sua discussão a algumas poucas temáticas, em geral presas ao processo de organização das instituições científicas, as políticas públicas, as relações com o setor produtivo e o militar e os conflitos com as formas de saber não científicas. Reunindo influências diversificadas, a sociologia dos conhecimentos científicos5 passou a entender estes conhecimentos como socialmente constituídos. Na década de 1970, dois centros dominam a produção de estudos — Bath6 e Edimburgo. Neste último, organizou-se um dos mais destacados programas de pesquisa em sociologia do conhecimento. Designado como Programa Forte (Bloor, 1976), ele distinguiu-se como uma veemente defesa da análise sociológica dos conteúdos das teorias científicas,7 resgatando as contribuições de Durkheim (1979), Mannheim (s. d.) e Kuhn (1962).

A despeito das influências nos trabalhos sistematizados por Latour em Ciência em ação, é possível discernir rupturas, em certo sentido, profundas. Dimensões, muito pouco presentes nos estudos da sociologia dos conhecimentos científicos (e tecnológicos), despontam como fundamentais nos trabalhos empíricos da década de 1980. São elas as práticas cotidianas dos laboratórios e os materiais (não-humanos) nelas envolvidos. Torna-se também saliente a influência de outras abordagens sociais, cujas ênfases recaem na perspectiva microssocial (Pickering, 1992), a exemplo do interacionismo simbólico e da etnometodologia. Ciência em ação introduz-se na discussão de um campo de estudos sociais da ciência. Trata-se de um outro programa de estudos, que compartilha referências, preocupações e a rejeição de uma perspectiva disciplinar. Porém, a exemplo dos demais programas, não pode ser entendido como um desdobramento linear e eminente.

Alguns poucos comentários se fazem necessários. As pesquisas sociológicas, ao buscarem o social nos conhecimentos científicos, o fazem em termos da identificação dos interesses de diferentes grupos sociais. A disputa e a associação de interesses, na definição de problemáticas e na legitimação de enunciados científicos, são privilegiadas. A análise pauta-se no contexto sociocultural, na dinâmica das redes sociais que sustentam a produção científica. Todavia, o movimento das redes de interesses sociais são insuficientes para explicar as práticas cotidianas da pesquisa (Callon, 1989b; Pickering, 1992). Autores como Latour (2000; 1979), Law (1989) e Callon (1989a) defendem que o entendimento dos processos sociais de produção da ciência deve comportar o entendimento das práticas realizadas nos laboratórios. É preciso entender as conexões entre o social e o tecnocientífico. Para tanto, salientam a simetria entre o social e a posição dos artefatos, das teorias e dos experimentos na produção da ciência ocidental. Propõem uma análise sociotécnica.

Assim, Ciência em ação pode ser interpretado como tentativa de enfrentamento de dois problemas: os limites da etnografia, respondendo se estudos locais de diferentes processos de produção de fatos tecnocientíficos podem nos dizer algo acerca do fazer científico; e o estabelecimento de um campo de pesquisa capaz de lidar com a dispersão das disciplinas e objetos das abordagens sociais das tecnociências (2000, p. 35).

O primeiro enfrentamento está diretamente associado à proposição de se analisar as práticas cotidianas da pesquisa científica. Estudar as tecnociências a partir de descrições densas dos laboratórios, a exemplo do realizado por Latour e Woolgar (1989) no Instituto Salk. Era preciso relatar o que ocorria nesses espaços, enfatizar o que produziu a diferença entre a ciência ocidental e outras formas de conhecimento, qual seja a manipulação de objetos, os experimentos, a fabricação de artifícios de deslocamento e de inscrição permitindo uma acumulação reflexiva. E aqui se inserem os trabalhos já citados de Latour, Woolgar, Law e Callon marcados pelo acentuado cunho etnográfico. Trabalhos reunidos nos chamados ‘estudos de laboratório’ (Knorr-Cetina, 1981).

Parte dessa produção aparece como material básico de pesquisa do livro em questão. Uma produção que se apóia em relatos minuciosos para levar a cabo seu objetivo de tratar a ciência do modo como ela acontece, como uma sucessão não-linear de práticas sociotécnicas. A etnografia forneceu assim os instrumentos e as formas de problematizar, que permitiram entender o modo como as táticas cotidianas de enfrentamento de problemas e de realização de atividades ocorrem. Permitiram também a discussão das relações entre grupos sociais externos ao laboratório, o “laboratório extenso” para Callon (1989b) ou a cidadela para Martin (1998); e os processos nele desenvolvidos. Um modo, enfim, de entender a forma assumida por essas práticas para a produção de conhecimentos e objetos tecnocientíficos. Os objetos e fatos são tratados como materializações de processos sociotécnicos. A atenção está voltada para o modo como esses processos são produzidos e atualizados. Porém, as análises não se restringem ao laboratório, fornecendo pistas e ferramentas conceituais para persegui-los (os processos) sociedade afora. Ao fazê-lo, supõem que esses processos jamais se esgotam no laboratório, não cessando também quando as “caixas-pretas” são fechadas. Pois os usos, tanto quanto as formas dos objetos e dos fatos, são definidos no interior das performances dos processos sociotécnicos.

O segundo enfrentamento combina a perspectiva interdisciplinar à diversidade de modos de lidar com os processos sociotécnicos — eles próprios muito diversos —, através da mistura de instrumentais e de influências teóricas. Em certo sentido, essa diversidade se revela na dificuldade de atribuir uma designação ao campo. Dificuldade que persiste até hoje, não obstante a disseminação da designação estudos sociais da ciência. Ao longo do próprio livro, há referências à antropologia da ciência, muito usada em Laboratory life e em outros trabalhos posteriores (Latour, 1985), mas também à ciência, tecnologia e sociedade. Essa oscilação parece-me interessante, porquanto nos fale da dificuldade de encontrar uma designação capaz de expressar as proposições desse campo, bem como das diferentes ênfases adotadas pelos programas de pesquisa social das tecnociências. Ênfases em tudo relacionadas à produção das ciências sociais nas décadas de 1970 e 1980 (Alexander, 1987; Machado, 1991), centrada em abordagens de cunho interpretativo, no estudo de situações locais e nos processos interacionais em lugar dos sistemas sociais.

Logo na Introdução (p. 34), Latour sustenta a necessidade de um campo ampliado, constituído pelo compartilhamento de métodos e problemas. Contrapõem-se, portanto, as “tradicionais” abordagens sociais das ciências organizadas por disciplinas e objetos. Esta organização não permitiria entender o processo sociotécnico de produção de conhecimentos tecnocientíficos. Lembrando que esta produção é concebida por Latour como um processo social, cuja análise privilegia suas práticas e, com elas, novos problemas e objetos. Assim, os instrumentais, métodos, objetos e os trabalhos espalhados, até então, por tantas disciplinas passariam a circular por um espaço de interlocução e problematização comum. A sistematização de tantos estudos, levada a cabo por Latour, encontra na constituição desse espaço sua justificativa. Era preciso extrair as regras (metodológicas) partilhadas, únicas conexões que aliam abordagens e ênfases tão dispersas (p. 36). Regras capazes de subsidiar o estudo da ciência em ação, perseguindo a intensa movimentação entre os laboratórios, com os seus especialistas, e o exterior povoado por não-especialistas. Regras, por fim, capazes de explicar como os conhecimentos produzidos nos laboratórios alteram as experiências dos não-especialistas em seus próprios mundos sociais. E, em contrapartida, como esses mundos sociais alteram o fazer nos laboratórios.

É difícil tratar da posição da etnografia sem citar a influência, muito presente em Ciência em ação, da etnometodologia.8 A certa altura, lê-se: “eles sabem que, sem reescrever e recolocar tudo, a força do texto se esvairá” (p. 94), e “eles não usam a Natureza como árbitros externos, e não temos razões para imaginar que somos mais inteligentes que eles” (p. 164). Temos aqui aproximações com a sugestão etnometodológica de tomar os atores envolvidos com o mundo social como sociólogos em estado prático. Seria possível então entender a produção de conhecimentos científicos através das práticas laboratoriais cotidianas, por essas encerrarem métodos não formalizados. Encerram, por conseguinte, modos de fazer, interpretar e usar. Da análise do conjunto de práticas se depreende os métodos usados pelos cientistas para produzir conhecimentos e objetos tecnocientíficos; cabendo ao sociólogo a sistematização desses métodos (etnométodos), enfatizando suas incoerências, ambivalências e conflitos. Etnométodos que não correspondem ao discurso da ciência pronta. Estudar essas práticas sociotécnicas equivaleria à análise dos processos interpretativos e das experiências coletivas que as conformam. Processos que produzem decisões e táticas de negociação, as quais se estendem para fora do laboratório.

Latour, simultaneamente à sistematização e à discussão dos etnométodos, toma-os para si. Um modo de tratar Ciência em ação é tomá-lo como um caso exemplar dos princípios aí sistematizados. É tomá-lo, assim, como uma proposta de reflexão acerca da própria produção de conhecimentos sociológicos, como no último capítulo.

Interessar, construir alianças, produzir provas, mobilizar o maior número de aliados e endurecer as provas são estratégias usadas para volver uma ficção em fato. No dizer de Latour, para deslocar-se da face direita de Janus à esquerda (2000, p. 16). E nosso autor segue um percurso em tudo similar. Somos envolvidos pela sucessão de estudos de caso de diferentes áreas do conhecimento, em diferentes contextos e realizados por diferentes pesquisadores. Desmontar sua argumentação, a certa altura, implicaria seguir Callon em sua análise da controvérsia entre os engenheiros da EDF e da Renault, Law e o embate dos portugueses contra o Atlântico ou ainda Hughes e a eletrificação da sociedade americana. Exigiria um enorme esforço de mobilização de outras provas, novos documentos, novas análises de discurso e realização de outras entrevistas. Teríamos que nos apoiar na produção daqueles que desestabilizaram suas influências, produzindo um novo contexto de citações. O leitor é envolvido por conexões intricadas de argumentos, citações e referências. Produzir essas conexões é produzir coerências onde elas não estão dadas. É produzir provas, coisas para serem vistas, observadas, comparadas e confrontadas.

A discussão do exercício de produção dessas cadeias conduz à noção de tradução9 e ao tratamento dos laboratórios como centros de tradução. Essa noção permite pensar sobre muitas das proposições de Latour em Ciência em ação, ou seja, pensar na proposta do campo e em suas formas de análise. A noção expressa a simetria entre os microprocessos, que ocorrem no cotidiano das equipes, e as negociações que envolvem um universo dilatado de elementos e questões, reunindo outros especialistas e não-especialistas. Expressa assim a permeabilidade entre o lugar onde se realizam as práticas tecnocientíficas (o laboratório) e o seu entorno, materializando a possibilidade de se produzir análises simétricas, análises sociotécnicas.10 Contudo, a produção contínua de conexões não implica, necessariamente, que a tradução abarque processos lineares. Eles antes envolvem rupturas, alianças, conflitos e, sobretudo, a produção de mais ou menos diferenças entre elementos diferentes — entre humanos especialistas em C&T e não-especialistas, entre humanos e não-humanos. Mesmo sendo possível pensá-la de modo mais genérico, de lhe atribuir uma definição, a tradução jamais é completamente descontextualizada, designando, a cada estudo, uma certa gama de processos e deixando de designar outros tantos.

Ao pensar em termos de tradução, penso também em como usá-la para lidar com o fazer tecnocientífico nacional. Como usá-la para tratar as relações entre as tecnociências e a sociedade, caso se pondere o quanto as redes sociotécnicas estão dilatadas nos estudos apresentados por Latour. Esse é um problema pertinente ao reconduzir à possibilidade de deslocar os produtos das análises antropológicas de seu contexto de produção. Assim, as traduções são extensas e diversas tanto quanto as situações estudadas o permitem. As traduções não são formadas desde o princípio por elementos de diferentes mundos sociais, conquanto não existam como realidades dadas esperando para serem mobilizadas. As conexões entre parlamentares, legisladores, grupos sociais e cientistas ocorrem ou não sempre de distintos modos. São sempre possíveis nunca absolutamente prováveis. Logo, elas podem vir a ser formadas por elementos muito diversos ou não. Cabe-nos, a cada estudo, a tarefa de procurar esses elementos, seus elos, as aproximações, as ligações transversais e as rupturas próprias a cada local. Cabe-nos também pensar em seus limites frente ao nosso próprio universo de relações.

Ao acentuar a diversidade de elementos reunidos nos processos de tradução, pondo a produção de conhecimento como uma ação eminentemente coletiva, torna-se inevitável dizer algo acerca dos humanos e não-humanos (materiais, equipamentos e artefatos de inscrição e armazenamento de dados).

A possibilidade de conceder igual tratamento aos humanos e não-humanos apóia-se na rediscussão do princípio da simetria propalado pelo Programa Forte (Bloor, 1976). Originalmente, colocava-se a necessidade de dar tratamento equivalente ao verdadeiro e ao falso, ao científico e ao social. Gradualmente houve uma ampliação. Influenciadas pela semiótica (Latour e Woolgar, 1989, Callon, 1989a, Callon e Law, 1995), as análises passam a se basear na equivalência entre humanos e não-humanos nos processos sociotécnicos. Essa equivalência apóia-se em três pontos: a inexistência de hierarquias a priori entre os humanos, os organismos biológicos de qualquer ordem e as coisas materiais; na impossibilidade de se apontar a priori diferenças entre os agenciamentos humanos e não-humanos; e na tecnificação da ciência e do próprio cotidiano das sociedades ocidentais (Woolgar, 1996; Callon e Law, 1995).11

No entanto, era preciso dispor de uma categoria capaz de comportar essa proposição (lidar com humanos e não-humanos de forma simétrica). Da interlocução com a semiótica se produziu a possibilidade de utilizar a de ‘actantes’, objetos discursivos e equivalentes entre si, capazes de designar uma pessoa, um animal ou máquina (Greimas, 1976, p. 84). Os actantes são definidos por Latour como qualquer coisa ou pessoa capaz de ser representada (op. cit., p. 138). É possível se recorrer a um dos exemplos dados por Latour.

O actante polônio é desconhecido, de início representado por reações aos ensaios experimentais. Ele é o conjunto de respostas produzidas ao longo das provas e contra provas mobilizadas no laboratório. Ele é as suas diferentes performances no interior do conjunto de práticas experimentais. Suas delimitações são-lhes atribuídas no interior das operações de tradução (experimentos e suas análises). Os actantes (fatos e objetos tecnocientíficos) são tomados como entidades não delimitadas a priori. Suas formas, seus sentidos, atributos e possíveis usos são sempre definidos no interior das redes sociotécnicas. Reafirma-se, por conseguinte, a impossibilidade de tratar contexto e conteúdo de modo autônomo, bem como de tomar as delimitações como substantivas (Cassirer, 1997).

No entanto, a categoria não redunda na solução dos problemas advindos com a proposição de lidar simetricamente com os não-humanos nos processos sociotécnicos. Muito depois da publicação de Ciência em ação, o desafio permanece sendo como operar essa proposta (Woolgar, 1996), como efetuar análises descentradas dos humanos. Seguindo Cassirer, o desafio é responder se seria possível pensar em algo ou de forma não antropocêntrica (Teixeira, 1997).

A discussão dos não-humanos pode conduzir a outras indagações pertinentes à análise local das tecnociências. Por exemplo, à acessibilidade dos laboratórios aos não-humanos, em sua ampla maioria importados. E, de algum modo, os equipamentos e materiais estão imbricados à agenda de pesquisa e essa aos interlocutores internos e externos ao laboratório. Interlocutores capazes de viabilizar a organização dos laboratórios, em torno do como e do que deve ser adquirido. Qual a identidade desses interlocutores (agências de fomento, pares, gestores) e como se relacionam com os laboratórios? Como são definidas as agendas de pesquisa e com elas as provas, os ensaios, os equipamentos necessários? Partindo-se dos não-humanos é possível perseguir a constituição e dinâmica das operações de tradução no interior dos laboratórios.

Como último ponto, acredito ser interessante indagar para quem Latour escreveu esse livro. Pois, se seus aliados e alguns interlocutores podem ser rastreados com relativa facilidade, o mesmo não se aplica a quem Ciência em ação se dirige. Outra singularidade desse livro, caso se tome outros trabalhos como referência, é a linguagem adotada — não esquecendo, todavia, que sua produção se deu em um período de efervescência e mutação da produção discursiva das ciências sociais em geral. Por vezes, ele adquire um tom de divulgação científica, como se seu propósito fosse sistematizar e discutir os métodos observados em diversos estudos, tornando-os acessíveis ao público, aos leigos. Não só seguir engenheiros sociedade afora, mas ir além, levando adiante a discussão de suas práticas. Afinal o público leigo, com o qual Latour insiste em se identificar ao longo do texto, também não é ator dos processos sociotécnicos?

Notas

1 O CSI está ligado à École Supérieure des Mines de Paris.

2 Jamais fomos modernos, Rio de Janeiro, editora 34, 1994; A vida de laboratório: a construção dos fatos científicos (com Steve Woolgar), Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1997.

3 Encontramos, por exemplo, referências ao estudo de Callon (1989a) sobre o veículo elétrico e ao de Law (1989), em torno das navegações portuguesas.

4 Não se deve esquecer o funcionário público antenado e preocupado com a produção tecnocientífica francesa diante de seus pares ingleses, alemães, mas, sobretudo, americanos e japoneses. Sobre isso, ver Callon e Latour (1986).

5 Em inglês é comum a utilização da sigla SSK. Já na década de 1980, a extensão “e tecnológico” é incorporada, indicando a ampliação dos programas de pesquisa.

6 A universidade de Bath abrigou, entre outros autores, Harry Collins, cuja ênfase dada à perspectiva microssocial também influenciará a produção posterior de Latour, Callon e Law.

7 Cabe observar que Latour foi o mentor, na década de 1980, da Coleção Pandore editada pela La Découverte, cujo objetivo era tornar a produção destes centros acessível na França.

8 Ver textos reunidos em Pickering (1992), para ter uma visão da influência da etnometodologia e da semiótica francesa nos estudos, bem como de sua crítica.

9 E não translação. Provavelmente o maior pecado dessa tradução, sobretudo quando já se dispunha de uma edição de Jamais fomos modernos onde a categoria aparece corretamente traduzida, além de outros trabalhos nacionais que a discutem e utilizam.

10 A tradução a princípio pode ser tomada como ato de produção das redes sociotécnicas. Porém, no geral, passou a ser empregada como equivalente a rede (Latour, 1994).

11 Há uma infinidade de estudos desse processo, mas sabemos pouco de sua dinâmica entre nós: onde estão e como são as nossas diferenças?

Referências

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Resenhista

Márcia de Oliveira Teixeira – Socióloga, mestre em ciências, pesquisadora-visitante do convênio Fiocruz/Faperj. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. E-mail:marciat@fiocruz.br; marciat23@hotmail.com


Referências desta Resenha

LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: UNESP, 2000. Resenha de: TEIXEIRA, Márcia de Oliveira. A ciência em ação: seguindo Bruno Latour. História, Ciência, Saúde-Manguinhos. Rio de Janeiro, v.8, n.1, mar./jun. 2001. Acessar publicação original [DR]

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