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Cidades e Bens Culturais / Tempo e Argumento / 2011

Para o italiano Ítalo Calvino, cada cidade tem a forma e o sentido que lhe atribui quem lança sobre ela seu olhar. Os olhares sobre a cidade deveriam, então, não apenas observar suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas as respostas possíveis que elas podem fornecer às nossas perguntas.1

Os artigos do Dossiê Cidades e Bens Culturais, apresentado neste terceiro ano da revista Tempo e Argumento, do Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), trazem olhares distintos sobre as cidades e os bens culturais evidenciando que ainda que as cidades e as narrativas produzidas sobre elas não sejam idênticas, apresentam inúmeros pontos de contato, possibilidades de leituras e de reflexões.

O artigo que abre o Dossiê é assinado por Artur Simões Rozestraten, intitulado Belém do Pará, Maceió e a sobrevivência dos “Portadores do Modelo de Arquitetura”. O autor trata das interações das expressões dos promesseiros do Círio de Nazaré em Belém do Pará, dos “brincantes” do auto-natalino do Guerreiro Alagoano e o universo dos modelos arquitetônicos, com o motivo artístico do “portador do modelo de arquitetura”, figuração característica da arte medieval, que apresenta um personagem tendo nas mãos um objeto de tamanho reduzido e formas arquitetônicas, como uma maquete.

Educação e Patrimônio Cultural: diálogos entre cidade e campo como lugar de identidades ressonantes de Elizabete Tamanini e Zilma Isabel Peixer é apresentado na sequência. Nesse artigo, as autoras procuram delinear as interfaces entre educação popular, patrimônio cultural, campo e cidade tecendo um quadro ainda novo na construção de conhecimento e nos debates na área de Educação e patrimônio cultural.

Marcos Sorrilha Pinheiro traz o artigo Lima, uma cidade entre a aristocracia e a plebe (1950-1980) onde problematiza as transformações ocorridas na cidade de Lima ao longo dos últimos sessenta anos. Mais do que alterações em seu plano urbanístico, sustenta o autor, Lima teria passado por uma reconfiguração étnica e social que dariam novas cores e novos padrões comportamentais e culturais à capital peruana. A chegada do migrante à cidade provocou a reação conservadora da elite local e evidenciou a separação existente entre a aristocracia e a plebe da cidade.

A historiadora Ilanil Coelho em Embarques e desembarques na estação da memória em Joinville interpreta, a partir da historiografia, os embates travados no processo de patrimonialização de uma antiga estação ferroviária na cidade de Joinville, Santa Catarina.

O artigo Florianópolis: espaço urbano, Poder público e disciplinarização (Décadas 1910 e 1920) de Sandro da Silveira Costa discute o aprimoramento do aparato legislativo implantado em Santa Catarina e em sua Capital, especialmente durante as décadas de 1910 e 1920, que pretendeu melhor organizar e controlar o deslocamento dos veículos – motorizados e / ou operados por força motriz animal – pelas vias intermunicipais e pelas ruas do perímetro urbano da cidade de Florianópolis. Para o autor essas ações disciplinadoras objetivaram adequar esse espaço às posturas civilizatórias propagadas pelas elites locais, observadas naquelas facções ligadas ao viés republicano que almejavam – pelo menos em teoria – o progresso material e moral da sociedade brasileira da época.

O Bar Palácio, fundado na cidade de Curitiba da década de 1930, é objeto de estudo de Mariana Corção. No artigo De espaço de inovação a lugar de tradição, bar Palácio como espectador e ator da dinâmica urbana de Curitiba (1930-2006) a autora explora fontes impressas que defendem a tradicionalidade do Bar Palácio diante das intensas transformações ocorridas em seu entorno (somadas a algumas mudanças internas). Desta forma, a relativa imutabilidade do Palácio, em relação às transformações urbanas de Curitiba ao longo do século XX, valoriza-o enquanto espaço de rememoração.

Fechando o Dossiê, temos o artigo Entre o campo e a cidade: memória e preservação na Fazenda do Quilombo em Minas Gerais assinado por Elizabeth Aparecida Duque Seabra. O artigo discute como se elaboram reflexões sobre a história, a memória e a preservação de bens culturais a partir do contato com o patrimônio cultural em visitas educativas. A autora toma como suposto que os sujeitos em situações educativas de visita se tornam parte constitutiva do movimento de produção e disponibilização de novos sentidos para o patrimônio cultural.

Na seção Artigos apresentamos Do Rio de Janeiro para a Sibéria tropical: prisões e desterros para o Acre nos anos de 1904 e 1910 de Francisco Bento da Silva. No artigo se observa a discussão de aspectos de dois acontecimentos que marcaram a nascente República brasileira no alvorecer do século XX: a Revolta da Vacina (1904) e a Revolta dos Marinheiros (1910). Para o autor há obscuridades na história desses acontecimentos, sobretudo no que concerne o envio de homens e mulheres do período, condenados ao desterro, para o Território do Acre, na Amazônia.

O artigo Família, modernização capitalista e democracia: retomando alguns marcos do antigo debate sobre as transformações da família no Brasil de Maria de Fátima Araújo analisa as transformações da família no Brasil ocorridas sob a influência da modernização capitalista e dos movimentos sociais libertários em defesa da democracia, da liberdade e igualdade, reconhecimento das diferenças e dos direitos humanos e individuais.

Felipe Augusto dos Santos Ribeiro, no artigo Pronta para ajudar os operários que a elegeram: vereadora Ilza Gouvêa e a militância das tecelãs de Magé / RJ, analisa a militância política das tecelãs mageenses, com destaque para a operária Ilza Gouvêa, eleita vereadora em 1950.

E, por fim, Soraia Carolina de Mello no artigo Um trabalho naturalmente feminino? Discussões feministas no Cone Sul (1970-1990) discute a história sobre a naturalização do trabalho doméstico nos feminismos de Segunda Onda do Cone Sul, utilizando como fonte as produções impressas desses feminismos, com ênfase em periódicos, mas não somente.

Na seção Resenhas Tânia Regina Zimmermann apresenta o livro de Ivone Gebara Vulnerabilidade, Justiça e Feminismos: antologia de textos, publicado em 2010, e Rogério Duarte Fernandes dos Passos resenha o livro de organizado por José Camilo dos Santos Filho e Silvia E. Moraes Escola e Universidade na Pós-Modernidade, também de 2010.

Fechando este número da revista, temos a seção Entrevistas, com a entrevista feita com o Prof. Dr. Daniel Aarão Reis Filho, assinada por Mariana Joffily e Sergio Luis Schlatter.

Nota

1 CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. 2. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

Os Editores


Comitê editorial. Editorial. Tempo e Argumento, Florianópolis, v.3, n.1, 2011. Acessar publicação original [DR]

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Itamar Freitas

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