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Celso Furtado | Intellèctus | 2020

Este Dossiê, composto por nove artigos que abordam o pensamento furtadiano, insere-se no projeto Celso Furtado 100 Anos. Um projeto iniciado em 2019 pelo Núcleo de Identidade Brasileira e História Contemporânea (NIBRAHC) com a realização de uma série de seminários sobre Celso Furtado em razão do seu centenário de nascimento que viria a ser comemorado neste ano de 2020. Os seminários, chamados de “PréCelso”, foram realizados através da parceria do NIBRAHC com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com o Centro Internacional Celso Furtado (CICEF), com o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ (IFCH), com o Programa de Pós-graduação em História (PPGH) e com o Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais do Estado do Rio de Janeiro (SINTUPERJ).

A publicação do Dossiê Celso Furtado pela Revista Intellèctus se apresenta como o coroamento do centenário deste pensador, cujas justas homenagens foram realizadas com o Congresso Internacional Celso Furtado 100 Anos, organizado pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da UERJ (PR3), UERJ, NIBRAHC, IFCH, PPGH e SINTUPERJ. Foram cinco dias de conferências, abordando o pensamento furtadiano e proporcionando reflexões intelectuais sobre a atual situação econômica e social. Reflexões que prosseguirão através da leitura dos artigos deste Dossiê.

Não obstante, consideramos de extrema importância apresentar ao leitor um pouco de quem foi Celso Furtado, este intelectual que pensou o Brasil. Homem de ação, suas contribuições ao país também são percebidas em suas participações nos governos Jânio Quadros e João Goulart, como Ministro do Planejamento, e no governo Sarney, como Ministro da Cultura. Nos anos 1990 foi um dos doze membros da Mundial para a Cultura e o Desenvolvimento da ONU/Unesco, e eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 2003 foi indicado ao Prêmio Nobel de Economia.

Furtado nasceu na cidade de Pombal, no estado da Paraíba, no dia 26 de julho de 1920. Graduou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1944, sendo convocado no mesmo dia para a Força Expedicionária Brasileira. Durante sua expedição na Europa, conheceu a teoria keynesiana, percebendo como a intervenção do Estado na economia poderia reerguer um país e possibilitar seu desenvolvimento. Formado em economia pela Universidade de Sorbonne, retornou ao seu país, quando logo em seguida se mudou para o Chile, para integrar a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) com Raúl Prebish.

Criada em 1948, a CEPAL é uma das cinco Comissões Econômicas fundadas pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas. Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento econômico da América Latina e reforçar as relações dos países entre si, foi no ano seguinte, com a chegada de Furtado, que a CEPAL tornou-se uma Escola do Pensamento com debates sobre questões teóricas e históricas do desenvolvimento, em oposição à visão dominante da época.

Segundo Furtado, para superarmos o nosso subdesenvolvimento e a nossa posição de periferia do mundo era necessário um olhar para dentro. Era preciso compreender as estruturas históricas alicerçadas no período colonial que fizeram o Brasil e a América Latina terem o subdesenvolvimento como característica. As classes dominantes coloniais são a origem de um país onde aqueles que compõem as classes mais favorecidas e dominantes governam e exploram os desfavorecidos para atender às demandas dos países que fazem parte do centro da economia mundial. Essa mesma classe dominante mimetiza valores culturais e de consumo de países estrangeiros ricos, fazendo com que o Brasil mantenha uma relação de dependência econômica, política e cultural dentro da relação entre centro e periferia.

Celso Furtado foi um intelectual que acreditava em seu país e na luta por um Brasil desenvolvido e independente, em que o Estado garantiria o bem estar de seu povo e a não exploração humana. Em Diários Intermitentes (2019: p.248), ele destaca “(…) O que me preocupa é a deformação, a abjeção humana, provocadas pela organização social baseada na exploração econômica ou na dominação política de muitos por poucos”.

Para colocar em prática seu pensamento de combater o subdesenvolvimento, em 1958 ele assume a direção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) com o compromisso de que sua diretoria se dedicaria ao desenvolvimento do Nordeste. O governo Juscelino Kubitschek, então, iniciou a Meta 31 (Operação Nordeste), em 1959, que culminou na idealização e criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, a Sudene. Através da criação desta superintendência, definiu-se os territórios a serem compreendidos como Nordeste, para que o Estado interviesse na região, reduzindo as diferenças de desenvolvimento entre o Centro-sul e o Nordeste, através do planejamento estatal e de estratégias que retirassem a região e a sua população da condição de subdesenvolvida e refém das oligarquias agrárias.

Furtado, além de um pensador econômico, foi também um humanista e um homem de cultura. Apesar de ser uma faceta pouco abordada deste intelectual, ele nos deixou como legado um pensamento original, por analisar o desenvolvimento a partir de sua dimensão cultural.

O conceito de cultura por ele elaborado, a considera como um subsistema próprio com inter-relações. Dividia a cultura em dois segmentos interdependentes: material e não material. Quando a tecnologia avança e se desenvolvem as bases materiais, todos os demais elementos (não materiais) se ajustam a essas novas condições e se iniciam novos processos que afetarão também as bases materiais.

Sua compreensão de desenvolvimento extrapolava a dimensão dos modelos estatísticos e matemáticos da Economia e considerava que seria um processo multidimensional: economia, sociedade, política e cultura. Ele afirmava que o desenvolvimento deveria ser entendido como um processo cultural e histórico que atende a um sistema de dominação social e, assim, apontava a importância de compreender o processo que permite aos países difusores das inovações tecnológicas, os países centrais, influenciar os valores culturais e os padrões de consumo nos países periféricos. Dessa forma, é gerada uma dependência cultural. Essa dependência cultural é um dos fatores responsáveis pelo subdesenvolvimento da América Latina através de um modelo sociocultural imposto pelos países do centro.

No pensamento furtadiano, essa dependência cultural é responsável pelo comportamento das classes dominantes dos países periféricos em se identificar com os valores culturais do centro em detrimento da criação de uma identidade nacional. E esse seria o fator que inviabilizaria um projeto nacional de desenvolvimento que priorizasse a autonomia diante do centro. Para alcançar o desenvolvimento é necessário um projeto nacional, onde o Estado se colocaria como um dos principais pilares. O desenvolvimento seria fomentado pelo Estado através de políticas de valorização da identidade cultural para se afirmar enquanto nação.

Entre suas principais obras estão: A formação Econômica do Brasil (1959), sendo a época um dos livros mais vendidos, Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico (1967) e O Mito do Desenvolvimento Econômico (1974). Sem dúvidas, ao fim desta leitura, entendemos porque Celso Furtado é considerado mais do que um economista. Ele foi um intelectual e um pensador. Suas ideias ultrapassam as questões acadêmicas e vão de encontro à realidade do povo brasileiro, muito conhecida por Furtado.


Organizador

Oswaldo Munteal Filho

MUNTEAL FILHO Oswaldo (Org d)


Referências desta apresentação

MUNTEAL FILHO, Oswaldo. Apresentação. Intellèctus. Rio de Janeiro, v.19, n.2, 2020. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Itamar Freitas

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