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Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do Sul | Gilson Rodolfo Martins

A década de 1990 testemunhou o florescimento de obras de divulgação sobre povos indígenas no Brasil, feitas por antropólogos, historiadores e arqueólogos profissionais. Em grande medida, esses livros levaram ao grande público informações básicas e corretas, suplantando uma série de erros e má interpretações perpetradas e reproduzidas pela maioria dos livros didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Outra contribuição importante desses trabalhos é a difusão de conteúdos politicamente orientados, visando levar ao público conhecimentos que auxiliem na formação de opiniões humanitárias e democráticas baseadas na ética e na justiça social, tanto para reduzir o preconceito e etnocentrismo arraigados contra os povos indígenas, quanto para que se possa ponderar adequadamente sobre os diversos conflitos interétnicos, especialmente em relação à luta pela manutenção e/ou reconquista de territórios tradicionais.

De forma simpática e concisa, porém crítica e cientificamente consistente, Gilson Rodolfo Martins traça um completo painel sobre as populações indígenas situadas no território do Estado do Mato Grosso do Sul. Trata-se de uma segunda edição, revista e ampliada, que resume com clareza a Pré-História das populações que ocuparam a região a partir de, pelo menos, 10 mil anos atrás, conforme as inúmeras evidências e pesquisas arqueológicas realizadas nas últimas duas décadas. Na seqüência apresenta as populações da região desde os primeiros contatos com os europeus até o presente, destacando alguns aspectos marcantes das suas sociedades, das suas culturas materiais e dos seus imaginários, destacando a composição multiétnica dos povos indígenas.

O autor também procura mostrar as mudanças ocorridas ao longo do contato com os europeus, dos impactos que esses contatos causaram e de uma série de problemas decorrentes das pressões demográficas e econômicas da expansão da sociedade brasileira sobre os territórios dos Guarani, Kadiwéu, Terena, Guató, Ofayé, Payaguá e Kayapó Meridional. Também é apresentado um pequeno resumo sobre a história dos contatos entre indígenas e os europeus, desde a viagem de Aleixo Garcia no começo da década de 1520, passando pelas explorações dos espanhóis a paritr de 1536, pela ação dos missionários e fundação de missões religiosas no século XVII. Por fim, Martins trata das populações atuais e de seus vários problemas e busca de soluções, enfrentados bravamente para manter suas tradições, terras e dignidade.

O livro contém uma série de ilustrações sobre o ambiente do Mato Grosso do Sul, sobre as áreas onde estão localizadas as diversas evidências arqueológicas e sobre a distribuição atual de 40 terras indígenas. Também contém uma lista atualizada do tamanho da população, com cerca de 50 mil pessoas, e da área de cada uma das terras indígenas. Outro destaque são as 88 fotografias coloriadas e diversas iconografias de pessoas, objetos e cenas que representam a vida cotidiana, incluindo algumas reproduções de desenhos de Hércule Florence, que esteve no Pantanal na década de 1820, e uma xilogravura da primeira metade do século XVI, do livro de Ulrich Schmidl, que esteve entre os primeiros europeus a pisar no que hoje é o Mato Grosso do Sul. No final, o livro ainda sugere uma lista de leituras, gerais e sobre temas específicos, dos mais importantes trabalhos arqueológicos, históricos, etnológicos e lingüísticos sobre as populações apresentadas.

Finalmente, é necessário destacar a importância de trabalhos de divulgação como este que Gilson Martins republica, que precisam chegar até às salas de aula do ensino médio, tanto para os professores, como para os alunos. A forma objetiva e direta com que os conteúdos são apresentados, certamente levará os leitores ao conhecimento elementar sobre as populações indígenas do Mato Grosso do Sul e à reflexão crítica sobre os diversos problemas que elas enfrentaram ao longo da História, contribuindo para a formação de um novo senso comum sobre os povos indígenas, com características mais humanitárias e socialmente justas.


Resenhista

Francisco Silva Noelli – Universidade Estadual de Maringá.


Referências desta Resenha

MARTINS, Gilson Rodolfo. Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do Sul. 2 ed. Campo Grande: Editora UFMS, 2002. Resenha de: NOELLI, Francisco Silva. Fronteira: Revista de História. Dourados, v.6, n.11, p.187-189, jan./jun. 2002. Acessar publicação original [DR]

Itamar Freitas

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