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Bibliografia Libertária – O Anarquismo em Língua Portuguesa | Adelaide Gonçalves e Jorge E. Silva

Em edição revista e ampliada, a editora Imaginário lança A Bibliografia Libertária – O Anarquismo em Língua Portuguesa, de Adelaide Gonçalves e Jorge E. Silva, trabalho que sintetiza informações acerca da atividade editorial voltada para o pensamento e prática anarquistas em Portugal e no Brasil, constituindo um importante guia para leituras e estudos sobre o tema.

Buscando contemplar a atividade editorial libertária lusófona desde a década final do século XIX, a catalogação corrige e amplia consideravelmente àquela da primeira edição, que incluía apenas livros publicados em Portugal após 1974 e, no Brasil, a partir de 1980, datas que marcaram o ocaso das ditaduras que assolaram os dois países. A listagem, desta forma, inclui também as edições feitas no período de maior visibilidade do movimento anarquista, a fase de seu surgimento e propagação como movimento socialmente representativo, que vai da última metade do século XIX até meados dos anos 30 do século XX.

Os vários títulos reunidos nesse período de mais de 100 anos refletem, em si, a longevidade do ideal ácrata, ao passo que as obras posteriores à década de 60 atestam o ressurgimento do interesse pelo pensamento libertário, ocorrido em nível mundial e marcado, entre outros acontecimentos, pela emergência das críticas aos regimes despóticos que advogavam-se a alcunha de socialistas e pelo aparecimento dos movimentos contra-culturais nas décadas de 50 e 60. Desta forma, é possível verificar, nesta bibliografia libertária, não apenas a obstinação dos primeiros tempos da atividade editorial anarquista, como também o impulso editorial que receberam alguns clássicos teóricos da Anarquia nas décadas mais recentes (como, por exemplo, a obra de Bakunin), o aparecimento de trabalhos de caráter acadêmico sobre o movimento operário influenciado pelo sindicalismo revolucionário e pelo anarco-sindicalismo das primeiras décadas do século XX, bem como o aparecimento de obras críticas de viés libertário à chamada modernidade.

Estão presentes, ainda, diversos livros de memórias de militantes anarquistas e anarco-sindicalistas portugueses, editados após a derrubada da ditadura portuguesa em 1974, e obras publicadas por editoras que se mantém à margem da cultura massificante que apregoa a morte das ideologias, como a Achiamé e a própria Imaginário. Em anexo, o livro traz uma listagem de temas afins ao anarquismo, tais como as idéias anti-clericais, o cooperativismo e o anti-autoritarismo, que como afirmam os autores, são “bastante presentes na propaganda libertária e que contribuíram para a formação da visão de mundo dos anarquistas.”

O leitor, no entanto, não será simplesmente levado a conhecer esta variedade de edições acerca do anarquismo e temas afins. Os autores enriquecem o trabalho com uma bela introdução à bibliografia libertária na qual encontram-se informações que incluem o aparecimento das primeiras idéias socialistas nos dois países, o intercâmbio de publicações entre portugueses e brasileiros durante o século XX, a efervescência das idéias na busca da formação de uma cultura genuinamente popular e libertária e, por fim, os obstáculos e transformações conjunturais enfrentadas por aqueles que se dedicaram à divulgação das idéias socialistas.

Mas o que de mais importante se sobressai no conhecimento desta atividade editorial libertária, que em meio a tantas adversidades se manteve firme propagando ideais de elevação humana, é que ela foi fruto da espontaneidade e do voluntarismo de militantes livres, que não cessaram de acreditar na grandeza de seus propósitos, na pluralidade e no anti-dogmatismo. A determinação e a perseverança com que as adversidades foram enfrentadas e superadas por todos aqueles que lutaram pela divulgação das idéias ácratas devem, acima de tudo, servir de exemplo aos que, nos dias de hoje, nesse contexto social tão hostil dominado pelos “mass media”, continuam acreditando e trabalhando pela liberdade e pela emancipação humana.

Desta forma, a “Bibliografia Libertária” é não apenas um guia capaz de instrumentalizar pesquisas sobre o vasto e importante legado da Anarquia, mas também um convite para que mergulhemos nessa grande herança das lutas sociais, de cujo conhecimento depende não só a compreensão da nossa sociedade atual, mas também os caminhos para sua transformação.


Resenhista

Allyson Bruno Viana – Universidade Federal do Ceará.


Referências desta Resenha

GONÇALVES, Adelaide; SILVA, Jorge E. Bibliografia Libertária – O Anarquismo em Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Imaginário, 2001. Resenha de: VIANA, Allyson Bruno. Trajetos. Fortaleza, v.1, n. 1, 2001. Acessar publicação original [DR]

Itamar Freitas

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