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Arqueologia | Pedro Paulo Funari

O livro de síntese e divulgação de alto nível é fundamental para o desenvolvimento científico. Por um lado, contém os recortes didáticos dos conteúdos teóricos e metodológicos mais significativos da sua época. Por outro, pode atrair novos adeptos, ajudando a ampliar a comunidade acadêmica. Também é importante para informar o público leigo, contribuindo para disseminar o conhecimento e para reduzir os mal-entendidos e as distorções corriqueiros ao senso comum.

Com a publicação de Arqueologia passamos a ter no Brasil o mais completo e atualizado manual de divulgação da disciplina. Ele preenche uma lacuna importante, pois são raros os manuais em português, sem contar com as dificuldades existentes no país para a tradução/publicação ou para importar de obras similares escritas em outros idiomas. Aliás, em meio século de profissionalização, é apenas o terceiro trabalho do gênero publicado por brasileiros, sendo precedido pelo Manual de Introdução à Arqueologia, de Pedro Augusto Mentz Ribeiro (Sulina, 1977) e pelo Arqueologia, do próprio Pedro Paulo Funari (Ática, 1988). Apesar do mesmo título de 1988, a obra em questão não é uma reedição ou simples ampliação, mas um novo livro com uma seleção de tópicos que se destacam por apontar com precisão qual é o campo mais contemporâneo de atuação do arqueólogo. O sumário, em suas oito partes, logo apresenta os propósitos da obra: 1) O que é arqueologia?; 2) Como pensa o arqueólogo; 3) Como atua o arqueólogo; 4) Formas de pesquisa; 5) A arqueologia e as outras áreas do conhecimento; 6) Arqueologia e poder; 7) Ser arqueólogo no Brasil; 8) Questões profissionais. No fim sugere leituras, filmes, sites e cds.

Com linguagem atraente e acessível aos não acadêmicos e aos calouros de graduação e iniciação científica, o livro enfatiza os aspectos mais teóricos e políticos da disciplina, fundamentais para o reconhecimento das engrenagens que operam na criação dos conteúdos da Arqueologia. A parte relacionada às técnicas e métodos de pesquisa em campo e laboratório ocupa menos espaço, mas fornece uma noção básica das práticas, de “por mão na massa”, como escreve o autor. Para os professores também é uma obra necessária, pois facilita a aplicação dos programas de Arqueologia e Pré-História, bem como ajuda no treinamento de iniciantes.

Outro aspecto digno de nota é a vocação didática do livro, acompanhada pelas perspectivas científicas e políticas mais atuais ou mais relevantes, uma das marcas memoráveis da extensa obra de Funari. Simultaneamente, ao abordar a teoria e a prática, sintetiza o desenvolvimento histórico das idéias e métodos mais importantes dos tópicos enunciados. Por exemplo, o leitor pode acompanhar o desenvolvimento das escolas teóricas, das técnicas de escavação, da contextualização, da interpretação e das relações com outras disciplinas científicas. Também pode ter uma boa iniciação a respeito da noção de patrimônio arqueológico e das lutas em prol da sua preservação; de questões em torno da luta pela democracia no meio científico, da Arqueologia humanista, das minorias, do racismo, da luta contra a manipulação científica e da necessidade de impor elevados padrões éticos e de responsabilidade social em uma época em a Arqueologia se abre para o mundo empresarial e novas opções de trabalho fora do mundo acadêmico. E mostra informações sobre os caminhos para se tornar arqueólogo no Brasil, quais os requisitos elementares para a formação acadêmica e quais os campos de atuação profissional.

Enfim, desde já, a exemplo de outros livros de Funari, Arqueologia deverá impor-se como obra de referência obrigatória para a divulgação, devido à sua excelência acadêmica e aos seus dotes literários. Ao mesmo tempo, esperamos que outros membros da comunidade de arqueólogos brasileiros (incluindo Funari!) encarem o desafio de criar mais obras deste tipo e de fazer um manual amplo e especializado dirigido ao meio acadêmico, para suprir uma lacuna tão significativa.


Resenhista

Francisco Silva Noelli – Universidade Estadual de Maringá.


Referências desta Resenha

FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. São Paulo: Contexto, 2003. Resenha de: NOELLI, Francisco Silva. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 1, n. 2, jul./dez. 2007. Acessar publicação original [DR]

Itamar Freitas

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