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Argentinos e brasileiros: encontros, imagens e estereótipos | Alejandro Frigerio e Gustavo Ribeiro Lins

Revista Brasileira de Política Internacional tem informado seus leitores, nos últimos anos, acerca da volumosa literatura lançada pelo mercado editorial do Mercosul sob a forma de estudos coletivos empreendidos, sobretudo, por brasileiros e argentinos. Esses estudos fizeram avançar o conhecimento do outro, constituindo contribuição importante da academia aos tomadores de decisão no âmbito das relações bilaterais e do processo de integração.

Dois renomados acadêmicos, um argentino, Alejandro Frigerio, e outro brasileiro, Gustavo Lins Ribeiro, inscrevem-se nessa linhagem de lideranças intelectuais capazes de compor grupos mercosulinos de estudo e nos brindam com uma análise original de interações concretas, revelando aspectos antropológicos da convivência dos povos do Cone Sul.

O livro apresenta três categorias de trabalhos, descrevendo interações resultantes seja de contatos ocasionais, seja de grupos organizados em função de interesses próprios, seja, enfim, de contatos entre populações fronteiriças.

No primeiro grupo aparecem os trabalhos de Alejandro Frigerio e Eugenia Dominguez sobre a receptividade aos imigrantes brasileiros em Buenos Aires, a seus equipamentos culturais e às possibilidades de trabalho. Por sua vez, Lílian Schmeil inclina-se sobre os argentinos nas praias de Florianópolis. Em ambos os casos, interpretam-se as reações dos locais à acomodação dos recém-chegados em termos de convivência, aceitação ou rejeição dos equipamentos culturais, como também em termos de nutrição ou demolição de estereótipos. Por suposto, esses autores também se perguntam acerca do modo como se portam os estrangeiros diante do comportamento dos locais.

A segunda categoria de estudos que Argentinos e brasileiros inclui refere-se à cooperação entre grupos organizados. Amado Luiz Cervo evoca a origem e a intensa cooperação entre especialistas da Universidade de Brasília e da Universidade de Buenos Aires no tema das relações internacionais. “Encaminha – como afirmam os organizadores da obra – uma reflexão sobre a formação de redes acadêmicas e sobre o papel que elas exercem na produção de imagens do outro, tomadas estas como elemento ao mesmo tempo condicionante e elucidativo das relações internacionais”. Ari Pedro Oro centra-se no movimento de transnacionalização das religiões afro-brasileiras, do Rio Grande do Sul para a Argentina. Gabriel Alvarez analisa, por sua vez, a “comunidade de comunicação”, uma elite política e administrativa empenhada em colocar face à face argentinos e brasileiros com o intuito de ampliar as facilidades de entrosamento social, porquanto no entender dessa elite tal entrosamento condiciona o êxito da integração.

Finalmente, a terceira categoria de análises orienta-se para as experiências da zona de fronteira. Alejandro Grimson observa, entre outros aspectos, as formas de travessia e os problemas de alfândega na zona entre Uruguaiana e Paso de los Libres. Marcia Anita Sprandel descreve as experiências de agricultores brasileiros que vivem no Paraguai e na Argentina. Luciana Mendonça conduz o leitor à observação comparada dos parques nacionais contíguos à Foz do Iguaçu.

Esses estudos permitiram a Gustavo Lins Ribeiro tirar suas conclusões acerca dos conceitos de tropicalismo e europeísmo que temperam as interpretações dos autores e lhes permitem elaborar as representações das duas sociedades. Contudo, o livro leva adiante a reflexão dos leitores acerca do conhecimento do outro, dos estereótipos construídos historicamente, das possibilidades de sua depuração, das condicionalidades que estes elementos impõem às relações bilaterais e regionais. A construção de imagens do outro, da auto-imagem, o jogo de afirmação da identidade face à alteridade e outros aspectos da convivência inevitável alimentam ainda mais a curiosidade do leitor, além de criar conhecimento para compreender e, quiçá, administrar as interações entre brasileiros e argentinos.


Resenhista

Ricardo Mendes Pereira


Referências desta Resenha

FRIGERIO, Alejandro; RIBEIRO, Gustavo Lins (Orgs.). Argentinos e brasileiros: encontros, imagens e estereótipos. Petrópolis: Vozes, 2002. Resenha de: PEREIRA, Ricardo Mendes. Revista Brasileira de Política Internacional, v.45, n.2, 2002. Acessar publicação original [DR]

Itamar Freitas

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