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Argentina y EE.UU. Fundamentos de una Nueva Alianza | Felipe A. M. de la Balze

O corrente debate entre acadêmicos e líderes políticos acerca da identificação do que Joseph S. Tulchin denomina “papel (da Argentina) nos assuntos internacionais”, assim como o realismo predominante entre os círculos intelectuais desse país no que concerne à verificação da assimetria estrutural do cenário internacional, culminaram na reelaboração dos desígnios, táticas e estratégias da política exterior argentina a partir do primeiro governo Menem. O presente trabalho, resultado da compilação das apresentações de eminentes internacionalistas argentinos em seminário promovido pela Asociación de Bancos de la República Argentina, parte da análise crítica, e comumente negativa, do posicionamento argentino face à potência regional norte-americana e aponta para a reformulação destas relações bilaterais em termos mais cooperativos como imperativa para o logro dos desígnios do “terceiro tempo” da política externa argentina: a política externa de reincorporação ao Primeiro Mundo.

“Cooperação displicente”, uma história de desencontros ou a ação do irrealismo político argentino galgado em percepções ufanistas de superioridade nacional, as relações bilaterais argentino-norte-americanas configuraram-se problemáticas e atritivas, desde o século XIX até a década de oitenta, devido à intolerância mútua dos projetos de hegemonia regional e hemisférica dos respectivos países. O voluntarismo argentino e sua ambição de protagonizar os principais acontecimentos regionais na qualidade de líder percebiam como obstáculo a presença da besta caprichosa e de imenso poder: o elefante norte-americano. A retórica antiimperialista argentina, por sua vez, deificultou a promoção do entendimento institucional, político e social entre ambos os países. Neste sentido, a colaboração de Eduardo A. Roca no segundo capítulo do trabalho consiste em demonstrar de que forma ambas as sociedades buscam se encontrar a partir do estudo de seus sistemas e ideários políticos através de importantes instituições de pesquisa desses países.

Não obstante o supracitado consenso acerca da ineficácia da política exterior argentina de rivalidade vis-à-vis dos Estados Unidos, as interpretações para essa confrontação variam: enquanto Roberto Russel a explica a partir dos antagonismos de interesse e da necessidade argentina de uma política externa de alto perfil, Carlos Escudé retoma a linha de argumentação de seu Realismo Periférico para assinalar como a arrogante “política de poder sem poder” da Argentina culminou no “enfrentamento do colosso” e, desta forma, na supressão da ajuda econômica por parte dos Estados Unidos e, conseqüentemente, de insumos para o desenvolvimento.

Igualmente controversos são os prognósticos para as relações bilaterais entre ambos os países, embora os autores, de certa forma, confluam para a aproximação e o adequacionismo. Se para Russel os Estados Unidos se configuram, a exemplo da Grã-Bretanha no século passado, meio de inserção internacional argentina; Frederico T. Storani, por sua vez, atenta para os fracos resultados que da superficialidade da agenda externa argentina podem resultar, ante a supressão de problemas internos considerados graves como a dívida externa e as conseqüências sociais do ajuste econômico liberal. De outra forma, Carlos A. Alvarez condena o “pragmatismo do vale tudo”. A aproximação não pode comprometer interesses argentinos essenciais ou se efetuar à expensa dos mesmos. Storani ainda enfatiza a coexistência entre as relações com os Estados Unidos e o regionalismo aberto do Cone Sul e a necessidade de atuação comprometida da Argentina nesses espaços sem prejuízos a sua presença em qualquer deles. A aceitação da existência da hegemonia norte-americana não pressupõe esvaziar a cooperação argentina com seus vizinhos sul-americanos.

Benjamin J. Cohen oferece dados suficientes para provar quão vantajosas são as relações econômicas entre esses países e de que forma estas têm sido favorecidas pela aproximação ampla entre os mesmos. Tal fato explica a convergência dos votos desses países no palco das Nações Unidas, conforme constata Emilio J. Cárdenas, função do compartilhamento de valores básicos, tais como a democracia e o livre mercado, acrescenta Raúl Granillo Ocampo.

O entendimento das relações internacionais sul-americanas nos anos 90 perpassa a identificação do sentido e da forma das atuais revisões de política externa constatadas nos países desta região no tocante à percepção de suas prioridades e a suas linhas de política externa. A leitura dessa obra faz-se obrigatória não apenas devido à relevância do tema para futuros exercícios de prospecção de política externa para todos os países sul-americanos, mas ainda devido ao fato de que reúne um conjunto de pensadores argentinos de vulto que, a partir de contribuições pessoais – muitas delas amadurecidas em trabalhos anteriores ao presente livro – demonstram uma grande complementaridade entre suas visões, cortes analíticos adotados e o realismo subjacente à análise, o que não impede a manifestação de alguns traços nacionalistas sutis na obra.


Resenhista

Clarita Costa Maia


Referências desta Resenha

BALZE, Felipe A. M. de la; ROCA, Eduardo A. (Orgs.). Argentina y EE.UU. Fundamentos de una Nueva Alianza. Buenos Aires: Consejo Argentino para las Relaciones Internacionales, 1997. Resenha de: MAIA, Clarita Costa. Revista Brasileira de Política Internacional, v.40, n.2, 1997. Acessar publicação original [DR]

Itamar Freitas

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