Análise e produção de textos | Leonor Werneck Santos e Rosa Cuba Riche
Conhecida por publicar livros de especialistas destinados a orientar e a capacitar professores de línguas e estudantes de Letras e Pedagogia nas recentes inovações de teorias e práticas linguísticas, a coleção LINGUAGEM & ENSINO lançou no ano de 2012 o livro “Análise e produção de textos”, da autoria de Leonor Werneck Santos, Rosa Cuba Riche e Claudia Souza Teixeira. A obra tem como principal objetivo instrumentalizar o professor de Língua Portuguesa (LP) do ensino fundamental (EF) a contemplar as três práticas centrais de linguagem sugeridas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): leitura, produção textual e análise linguística.
O livro foi escrito por três autoras conceituadas no âmbito da pesquisa sobre ensino de LP e Literatura no Brasil. Leonor Werneck Santos é doutora em LP pela UFRJ, onde leciona desde 1995. Rosa Cuba Riche é doutora em Teoria da Literatura pela UFRJ. É professora de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Práticas de Ensino desde o ano 2000. Claudia Souza Teixeira é doutora em Língua Portuguesa pela UFRJ. Atualmente é professora de LP, Literatura Infantil e Juvenil e de Metodologia da Pesquisa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ). Todas têm vasta experiência tanto em sala de aula como professoras de língua, quanto em cursos de formação inicial e continuada de docentes, além de publicações de livros e artigos na área de linguística aplicada ao ensino de LP.
Muito vem se estudando sobre a eficácia do trabalho com gêneros textuais no processo de ensino-aprendizagem de LP, sobretudo nas últimas duas décadas. O livro “Análise e produção de textos” visa, assim como recomendam os PCN, tomar como objeto de trabalho o texto, integrando as três práticas de linguagem: leitura, produção textual e análise linguística. Escrito de maneira clara e envolvente, a obra funciona como um manual que auxilia o professor de língua materna do segundo segmento do EF na formação de competentes leitores e produtores de textos.
O livro é dividido em cinco capítulos, nos quais são abordados os tópicos de maneira didática, com sequências de atividades seguidas de comentários que especificam detalhadamente as características e objetivos do conteúdo estudado. De modo a fundamentar seus argumentos, as pesquisadoras retomam a autores como Koch, Kleiman e Marcuschi.
No primeiro capítulo, “Práticas de linguagem e PCN: o ensino de língua portuguesa”, as autoras traçam algumas observações acerca do ensino da língua, caracterizado tradicionalmente por regras normativas e nomenclaturas. No entanto, ressaltam o consenso entre pesquisadores e especialistas sobre a importância do trabalho com o texto em sala de aula. Embora seja importante que o aluno conheça as nomenclaturas da gramática normativa, é de extrema valia que o professor mostre como usar a língua e em que contexto optar por uma ou outra construção. Essa abordagem, que considera a diversidade de textos, pode colaborar efetivamente para desenvolver as competências linguísticas dos educandos, que é o principal objetivo do ensino da língua materna. No decorrer do capítulo, de forma interessante, as autoras trabalham conceitos referentes ao texto, como coesão, coerência, tipologias, gêneros textuais e o texto como unidade de ensino. Mostrando as diversas formas de se trabalhar com gêneros escritos, as pesquisadoras escolhem os de fácil acesso aos alunos, comuns aos livros didáticos, e exploram as características linguísticas, formais e as funcionalidades desses gêneros (especificamente reportagem, crônica, tirinhas e receita). Com relação aos gêneros textuais orais, ressaltam a importância de se trabalhar tanto os gêneros espontâneos (como o bate-papo, conversa telefônica) quanto os mais regrados (como a entrevista, debate e seminário). Propõem atividades em que se parte do conhecimento de mundo dos estudantes, transcorrendo pela análise das características do texto até chegar à produção final, construída da oralidade dos alunos à escrita escolar.
O capítulo seguinte, “Prática de leitura de textos orais e escritos”, busca ampliar a concepção de leitura, que inclui qualquer texto oral ou escrito, verbal ou não verbal. As autoras dedicam o capítulo à leitura como compreensão, e não apenas como decodificação, expandindo os conceitos de alfabetização e letramento, a fim de que o aluno se torne um competente leitor, capaz de fazer inferências, levantar hipótese e construir sentidos. Sabiamente, as autoras especificam as etapas e estratégias de leituras envolvidas em atividades pré-textuais, textuais e pós-textuais, o que leva os alunos a interagir com o texto e suas estruturas, e relacioná-las ao contexto. Para atingir a compreensão, as autoras abordam a intencionalidade dos textos, levando os alunos a aumentarem seu domínio lexical, traçando relações entre o dito e o inferido.
A obra traz em seu terceiro capítulo, “Prática de análise linguística”, diferentes abordagens do ensino de LP, de maneira mais específica, o ensino de gramática. Assim, os professores poderão se orientar e optar, de forma eficiente, pelas abordagens mais produtivas. Em consonância com os PCN quanto à reflexão sobre os usos linguísticos, as pesquisadoras ressaltam a análise linguística como prática indissociável da leitura e da produção textual. Com o objetivo de orientar o professor na tarefa de operacionalizar, em atividades, a análise linguística, o livro traz sequências de exercícios que auxiliarão os professores a tornar mais clara essa perspectiva. Como exemplo, propõe atividades com diversos gêneros textuais (como conto, quadrinhos, reportagem, resenha e anuncio publicitário); no entanto, alertam que a inserção da analise linguística ao ensino de LP se dará gradativamente.
Visando a mudanças no paradigma pedagógico, no capítulo “Produção de textos orais e escritos”, as pesquisadoras especificam e evidenciam o caráter mediador que a linguagem carrega e seu papel no desenvolvimento cognitivo dos discentes. Pautadas nas teorias sociointeracionistas e sociodiscursivas, as autoras dissertam sobre a importância de se desenvolver a capacidade discursiva dos alunos tendo como instrumento indispensável os gêneros textuais. No decorrer do capítulo, elaboram questões com critérios de textualidade e etapas de produção textual, sendo essas preparação, pré-escrita, planejamento do texto, primeira produção, produção escrita do texto – 1º rascunho, revisão pós-escrita, avaliação da produção textual, avaliação, reescrita do texto; essas ferramentas auxiliarão na correção do professor e no processo de aprendizagem do aluno. O capítulo comporta, também, projetos de leituras e de produção textual, com sugestões de atividades interdisciplinares e, ainda, atividades extras que têm como objetivo intervir na coerência textual, o que permitirá ao aluno organizar melhor seu texto.
O último capítulo, “Propostas de atividades: integrando as práticas de linguagem”, traz uma série de propostas de atividades que integram as três práticas de linguagem já citadas, apresentadas nos PCN, focando em textos orais e escritos. As autoras orientam que os professores adaptem as questões ao nível e às necessidades de sua turma. Nesses exemplos, são explorados três gêneros escritos (noticia de jornal, conto e editorial) e um oral (conversa), visando uma abordagem sociointeracionista de leitura e produção textual, através da análise produtiva da língua. Fazendo jus ao caráter de “material pedagógico” que recebe o livro, algumas das atividades propostas nesse capítulo foram elaboradas com enunciados que podem ser repassados diretamente aos alunos e outras são orientações para auxiliar o professor. De uma forma sabiamente planejada, as autoras destacam as atividades de produção textual das demais, uma vez que essas necessitam de uma abordagem diferente de trabalho.
O livro “Análise e produção de textos” adota a perspectiva da gramática como instrumento para a reflexão sobre os usos linguísticos. O professor exerce o papel de mediador entre o aluno e o texto, sendo, assim, fundamental o seu papel. Essa obra sintetiza algumas teorias importantes para o ensino de língua materna e mostra que, através de atividades com gêneros textuais, é possível desenvolver as habilidades e os conhecimentos linguísticos dos alunos. Em suas últimas folhas, encontra-se uma lista bibliográfica que tem como objetivo orientar os professores na pesquisa de novos conceitos e aprofundar seus conhecimentos.
O livro atende com competência ao objetivo de contribuir com a prática dos professores, de forma clara, com uma leitura dinâmica e agradável. Sem dúvida, constitui-se um material rico tanto para estudantes quanto para profissionais em serviço.
Resenhista
Fernanda Cristina Ferreira – Aluna do curso de Letras da UFJF, bolsista do PIBID – PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA, vinculada ao Grupo de Pesquisa FALE. E-mail: nandacferreira@hotmail.com
Referências desta resenha
SANTOS, Leonor Werneck; RICHE, Rosa Cuba; TEIXEIRA, Claudia Souza. Análise e produção de textos. São Paulo: Contexto, 2012. Resenha de: FERREIRA, Fernanda Cristina. Revista Práticas de Linguagem. Juiz de Fora, v.2, n. 2, p.112-116, jul./ dez. 2012. Acessar publicação original [DR]