Neste trabalho, o historiador marxista Osvaldo Coggiola enfatiza a importância do historiador econômico para a interpretação de fenômenos econômicos e suas consequências na sociedade e na política ao longo da história. Na análise do período 1918-1924 da história econômica alemã, Osvaldo Coggiola se utiliza de um referencial teórico rico, como algumas das teorias socialistas, Marxistas e Keynesianas, inserindo a importância de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht para o partido comunista alemão em sua criação e desenvolvimento.
Em seu livro, Alemanha 1918-1924: Hiperinflação e Revolução, Coggiola aborda a questão alemã com minúcia de informação e amplitude interpretativa. Mais do que somente contar a história inflacionária do período e como esta interferiu na condução dos movimentos políticos e econômicos, o autor permite uma leitura do contexto dos políticos e personagens envolvidos. Com isso, numa primeira linha de análise, aquela que considera como o grande responsável pela inflação alemã as enormes quantias a serem pagas pela Alemanha aos países vencedores da Primeira Guerra, o autor esmiúça de que maneira as tensões do pós Guerra entre os vencedores e os derrotados, entre eles o grupo de Estados que formavam o território alemão, influenciou na hiperdesvalorização do marco papel até o ponto em que se tornou insustentável a manutenção da situação econômica como, até ali, se seguia. Com tal contextualização nas mãos, o autor desmascara a argumentação “técnica” da crise inflacionária alemã, que defendia ser a causa da inflação o contraste entre câmbio e balanço de pagamentos.
É interessante notar a ressalva feita pelo autor que, até 1923, com exceção da revolução de 1917, não havia se desenhado na Europa Continental um cenário tão propício a superação do Capitalismo em favor do Socialismo como a ocorrida em novembro daquele mesmo ano na Alemanha. O método de análise e a perspectiva marxista certamente tornam tal ressalva diferenciada das interpretações “tecnicistas” de cunho elogiador do capital financeiro.
Em língua portuguesa, poucos são os textos que tratam do assunto, e mais raros ainda os que tratam com a propriedade necessária. Dito isso, o autor tem o mérito de expor, de maneira didática, conceitos econômicos devidamente contextualizados e historicizados. As fontes são apresentadas com a devida lisura. A tarefa de expor as linhas de interpretação do tema é realizado com louvor. O trabalho é rico em dados, imagens e exemplos que auxiliam ao leitor a não pecar por anacronismo.
Assim sendo, o livro constitui um apanhado de informações que permitem ao leitor conhecer, de maneira concisa, o que foi o fenômeno inflacionário e como ele se deu na Alemanha especificamente. Sua leitura e a reflexão sobre o tema são mais do que pertinentes à atualidade.
Resenhista
Tallyta Rosane Bezerra de Gusmão – Bacharel em Ciências Econômicas pela UFAL. Mestranda em História Econômica pela USP.
Referências desta Resenha
COGGIOLA, Osvaldo. Alemanha 1918-1924: Hiperinflação e Revolução. São Paulo: LCTE, 2010. Resenha de: GUSMÃO, Tallyta Rosane Bezerra de. Revista de Economia política e História Econômica. São Paulo, ano 10, n. 33, p. 313-314, janeiro, 2015. Acessar publicação original [DR]
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