O livro Agua, poder urbano y metabolismo social, organizado por Rosalva Loreto López, inaugura a coleção Estudios Urbanos y Ambientales. Loreto López é membro do Instituto de Ciências Sociais e Humanidades da Benemérita Universidade Autônoma de Puebla (México) e pesquisadora responsável pelo Corpo Acadêmico Sociedad, Ciudad y Território, siglos XVI- XXI.
A obra composta por seis artigos se propõe a tratar o tema da água na cidade de Puebla e seu entorno, assim como as relações sociais estabelecidas a partir de seu uso em diversas atividades, entre os séculos XVI e XX. Como pressupostos, privilegia a história ambiental e, mais especificamente, o conceito de metabolismo social. Este conceito é sistematizado por Manuel González de Molina no capítulo que fecha a coletânea, Sociedad, naturaleza, metabolismo social: sobre el estatus teórico de la historia ambiental.O metabolismo social apresenta-se como uma analogia ao metabolismo celular, com seus processos de absorção, transformação e excreção de materiais. O autor defende que o metabolismo social engloba o conjunto de processos em que os seres humanos – organizados em sociedade, independentemente da sua formação social e momento histórico – realizam ações que transformam, consomem e excretam materiais e/ou energias provenientes do mundo natural. Molina considera que a historia ambiental é o estudo histórico da evolução e da mudança das sociedades humanas, e os processos naturais e sociais agentes ativos em permanente e mútua determinação. Ressalta também a importância de reconciliar sociedade e natureza. Entretanto, esse capítulo não se afina completamente aos outros que integram a coletânea, por ser estritamente teórico e não abordar o tema da água como acontece nos demais.
Nos outros capítulos do livro, diferentes pesquisadores descrevem situações do uso da água pela população de Puebla, em contextos históricos específicos. Apesar de esses estudos terem como objeto principal o tema água, a coletânea acaba por ter uma composição bastante diversa, com focos variados, como: a formação da bacia hidrográfica Alto Atoyac (local de onde nascem os principais cursos d’ água que banham a cidade) estudada no primeiro capítulo Topografía, geologia y clima em La Cuenca Alto Atoyac: factores determinantes del funcionamento de los sistemas de flujo de agua subterrânea por Esther Galicia Hernández; questões infraestruturais de captação, distribuição e escoamento tratadas por Mayra Gabriela Toxqui Furlong no quarto capítulo Apropiación y distribución de agua potable em la ciudad de Puebla-Siglo XIX; formas de uso da água pela população da cidade e, em alguns casos, nos setores agrícola, manufatureiro e industrial tratados por Loreto López em Agua, acéquias, heridos y molinos: Um ejemplo de dinâmica ambiental urbana. Puebla de los Ángeles, siglos XVI-XIX e Mariano Castellanos Arenas em El agua, energia y la producción têxtil em la fábrica de Metepec, Atlixco, Puebla – 1898-1908, respectivamente, segundo e quinto capítulos. Isso descortina ao leitor um diversificado panorama sobre o tema.
O autor Dirk Bühler, doutor em arquitetura, traz uma maneira diferenciada de abordar o tema, pois seu trabalho [1] se distancia das características dos estudos ambientais presentes na obra e se aproxima dos de arquitetura, por tratar de aspectos referentes à construção e estética das diversas pontes de Puebla.
Os rios São Francisco e Atoyac, oriundos do aquífero Alto Atoyac, são descritos como as principais fontes abastecedoras de água potável da cidade de Puebla e seus arredores. A partir da leitura, é possível inferir a grande importância desses cursos de água nas dinâmicas econômica e social da cidade. Com a exploração de suas potencialidades hídricas, diversas atividades econômicas foram realizadas, incluindo ampla utilização na indústria têxtil e movimentação de moinhos de trigo.
Nos primeiros séculos da ocupação espanhola, os rios serviram como separação natural entre as diferentes partes da cidade, situação aproveitada pelos moradores de origem hispânica para se distanciarem dos indígenas. Em boa parte do período colonial até o início do século XX, os habitantes de Puebla enfrentaram acesso desigual à água, visto que certas regiões da cidade, onde residiam os administradores do período colonial, por exemplo, foram privilegiadas com maior quantidade do recurso natural nas fontes públicas. Por outro lado, durante esse mesmo período, obras como canalizações, represamentos e construção de pontes e chafarizes foram realizadas com o intuito melhorar a distribuição da água, a locomoção e as condições de vida da população.
Tanto por parte dos administradores locais quanto da população em geral não houve, ao longo dos séculos, muita preocupação com a preservação dos cursos d’água. Os rios foram locais de aglomeração de lixo. Receberam resíduos sem tratamento, a exemplo do despejo de substâncias altamente contaminantes provenientes da indústria têxtil, resultantes dos processos de produção de estampas e coloração dos tecidos. Em virtude disso, vários cursos d’água da cidade foram contaminados, acarretando graves danos ao ecossistema e à agricultura.
O livro, além de demonstrar as ações humanas estabelecidas em relação ao uso da água na região de Puebla, procura conscientizar o leitor sobre os impactos negativos das ações humanas em relação ao uso incorreto dos recursos naturais e ressalta a necessidade de proteção dos mesmos. Alguns dos autores argumentam a necessidade de uma boa interação entre os sistemas naturais e sociais.
A obra atende, em grande parte, aos objetivos propostos inicialmente, mostrando a importância da água como recurso natural essencial para os ecossistemas e principalmente para os seres humanos, através de seus usos e como objeto de poder social. O metabolismo social, apesar de compor o título do livro e proposto no capítulo inicial, é pouco abordado pelos outros autores. A estrutura do livro carece ainda de uma interligação mais clara entre os capítulos, pois cada autor analisou seu problema sem construir conexões com os outros textos.
O formato dos capítulos foi suficiente para que os pesquisadores expressassem suas idéias e pudessem fazer o uso de importantes recursos como cartografia e fotografias. Para a realização de seus estudos, os autores se valeram de fontes diversificadas, tais como: documentos oficiais, literatura, crônicas, plantas arquitetônicas, cartografia, fotografias e extensa bibliografia. Essas fontes são utilizadas, na maioria das vezes, a partir dos preceitos da história ambiental.
O livro traz importantes contribuições para a história ambiental. Aponta, através dos problemas de Puebla, questões que podem ser encontradas em diversas cidades da América Latina. Inova, pelo uso do conceito de metabolismo social. Reúne diferentes olhares históricos sobre o tema da água.
A leitura da obra é válida não apenas para historiadores, mas para o público em geral, por mostrar algumas possíveis consequências sobre problemas socioambientais originados pelo mau uso da água. Tais problemas devem ser objeto de preocupação dos leitores brasileiros, que possuem em seu território importantes concentrações de água potável em aquíferos e rios como o São Francisco e o Amazonas, evidenciando a grave ausência de políticas efetivas de preservação para a maioria de suas bacias hidrográficas.
Nota
1. BÜHLER, Dirk. Los puentes de la ciudad de Puebla. In: LÓPEZ, Rosalva Loreto (coord). Agua, poder urbano y metabolismo social. Puebla: Editora de la Benemerita Universidad Autónoma de Puebla, 2009. (Coleção Estudios Urbanos y Ambientales, v. 1).
Resenhista
Alexis Nascimento Araújo – Graduado em História pela UFMG, E-mail: lefilks@gmail.com
Referências desta resenha
LÓPEZ, Rosalva Loreto (Coord.). Água, poder urbano y metabolismo social. Puebla: Editora de La Benemerita Universidad Autónoma de Puebla, 2009. Coleção Estudios Urbanos y Ambientales, v. 1. Resenha de: ARAÚJO, Alexis Nascimento. Temporalidades. Belo Horizonte, v.4, n.1, p.319-322, jan./jul. 2012. Acessar publicação original [DR]
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