O futebol tem ocupado, cada vez mais, um espaço como objeto de estudo dos vários pesquisadores, cuja formação se liga à História, à sociologia, à antropologia e demais áreas correlatas. Isso significa que o esforço de análise acerca desta temática vem deixando de ser algo restrito a uma prática diletante, para também ser analisada no âmbito das universidades. Neste aspecto, não tenho dúvidas quanto ao pioneirismo e ao brilhantismo do Professor Maurício Murad, quando nos reportamos à reflexão sobre a temática apontada, sobretudo no que diz respeito a um dos principais problemas que habita o universo do futebol: a violência. O livro é parte de amplas pesquisas que o autor já vem realizando há algum tempo, o que o coloca como indispensável para aqueles que estudam ou venham a estudar e/ou conhecer questões relacionadas ao futebol, também numa perspectiva da pesquisa acadêmica.
Desde já, creio ser necessário concordar com uma das principais teses do autor em questão, quando ele nos sugere em seu livro, que não se deve comparar a violência no futebol com a violência do futebol. A partir desta premissa, provavelmente o autor queira nos alertar quanto às ocasionais conclusões que poderiam naturalizar o futebol como algo estruturalmente violento, tal como muitas vezes alguns jornais impressos, programas de rádios e/ou de televisão, enfim, os diferentes veículos de comunicação poderiam nos levar a crer, quando noticiam os jogos de futebol. Não se trata de rejeitar a existência de absurdos ligados à violência absolutamente condenáveis que, de fato, estão presentes no esporte.
Ao contrário, o Professor Maurício Murad apresenta consistentes dados empíricos relativos à violência nos estádios de futebol (mas também fora dele) que são assustadores tanto em âmbito nacional, quanto em âmbito internacional. Provavelmente a violência está relacionada, também, aos inúmeros problemas sociais que estão presentes em nosso cotidiano, como altos índices de pobreza, de analfabetismo, de miséria, e tantos outros. O autor analisa esta questão para além do seu viés esportivo (e especificamente futebolístico), justamente para nos mostrar que, de um lado, é necessário um esforço conjunto no sentido de enfrentar a problemática da violência a partir de ações igualmente conjuntas, e de outro lado, relativizar a perspectiva de que a violência no futebol seria algo natural.
Nesse sentido, a interpretação do futebol como violento em si mesmo, configura-se como sério equívoco, e que poderia ser compreendido como verdadeiro, se absorvido e analisado de modo precipitado. Para tanto, encontra-se no livro uma análise dos dados comparativos entre a violência no futebol e a violência no universo circunscrito a outros espaços sociais. Os resultados apresentados se mostram bastante elucidativos quanto aos pressupostos do autor, os quais foram brevemente apontados em parágrafo anterior. Suponho que um dos principais “recados” que o autor nos quer direcionar, reside justamente na idéia de que para a compreensão do universo do futebol, e especificamente para o entendimento da violência no futebol, é necessário verificar a dinâmica da violência para além do âmbito esportivo, isto é, compreendê-la como elemento que se circunscreve no cotidiano da própria humanidade nos seus diferentes tempos e espaços, e decorrente dos mais diferentes fenômenos.
Em suma, não é possível propor interpretações reducionistas nas quais se imagina o universo do futebol como algo naturalmente violento, tal como alguns veículos de comunicação, de forma sensacionalista o fazem, tão somente com o propósito de “vender notícia”. De maneira bastante articulada, e com esforço empírico adequado e fundamentado, o Professor Maurício Murad nos fornece pistas de que a violência como fenômeno universal e histórico, é impulsionada e resultante de aspectos inerentes à história da humanidade, e está circunscrita aos mais diferentes espaços e tempos, inclusive, e ocasionalmente, também no futebol.
Com acumulada experiência no estudo da problemática futebol & violência, o autor sugere que justamente a partir do amplo alcance popular da prática futebolística, pudessem ser estimuladas algumas ações que visassem à diminuição da violência em grandes eventos coletivos, tendo-se o universo do futebol como espécie de “laboratório”, para que houvesse a experimentação de determinadas medidas que pudessem atenuar o problemático cenário atual de violência no próprio conjunto da sociedade.
Creio que a publicação do livro do Professor Maurício Murad é bastante oportuna, e certamente conduzirá para novas perspectivas interpretativas acerca não apenas da violência no futebol, mas também à reflexão sobre um esporte que integra um dos principais elementos simbólicos da identidade nacional. A leitura do texto é agradável, fluente e bem fundamentada empiricamente, o que situa o livro como importante e necessário texto para todos aqueles que se dedicam (ou venham a se dedicar) às temáticas relacionadas aos esportes de modo geral, e ao futebol de modo particular, quer seja no seu viés sociológico, histórico e/ou antropológico.
Resenhista
Eliazar João da Silva – Professor da Universidade Federal da Grande Dourados.
Referências desta Resenha
MURAD, Maurício. A violência e o futebol: dos estudos clássicos aos dias de hoje. Rio de Janeiro: FGV, 2007. Resenha de: SILVA, Eliazar João da. Fronteira: Revista de História. Dourados, v.9, n.16, p.129-130, jan./jul. 2007. Acessar publicação original [DR]
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