Em capítulos curtos, de forma poética, o geógrafo Franco Farinelli discorre sobre os principais conceitos da ciência geográfica: a forma da Terra, suas medidas, sua representação cartográfica, a paisagem, a economia, a globalização dos territórios e das nacionalidades, o espaço e as redes. O que mais chama a atenção é a forma como realiza essa construção, acompanhando as diversas aproximações humanas e seus discursos a respeito da realidade: mitos, narrativas, literatura de viagens vão sucedendo-se nos diversos momentos da História da Humanidade e, em cada um deles, o conhecimento do real suplanta a necessidade de metáforas para justificar o que não se sabe, chegando-se, com Kant, ao conhecimento científico.
E então, poeticamente, retorna ao início da narrativa: a ciranda, cirandinha e as cantigas de roda de nossa infância, “que se sucedem ao infinito”, metaforicamente são apresentadas como a mimese perfeita e consciente do mundo e de seu funcionamento: o chão, onde a brincadeira termina, como uma tabula plana, lisa e contínua que garante a estabilidade e identidade dos que giram, refletindo o mecanismo do mundo e levando-nos de volta ao primeiro mito da terra plana e da definição da linha do horizonte: da Cosmogonia babilônica das origens, o Enuma Elish à Genesis hebraica, a organização do Caos permite estabelecer a hierarquia entre as esferas e o plano da Terra, base topográfica do mapa. Apresenta-nos a discussão objeto de seu discurso: o mundo, enquanto plano tinha um único centro, mas como globo, gira e o centro fica plural e móvel e, em consequência, a proximidade das coisas não implica em sua homogeneidade e isotropismo, eliminando dele, mundo, o espaço e o tempo, surgindo algo funcionalmente descontínuo, não homogêneo, não um Universo.
Apesar das teorias globalizantes dizerem o contrário, para ele, mais do que nunca, hoje, a comunicação continua sendo um processo sequencial, lógico e linear, como uma função matemática, não podendo a estrutura material desta comunicação acompanhar a fluidez dos contatos, pois estes passam por estradas reais e vão sendo distribuídos de acordo com interesses econômicos determinados, exigindo, dos geógrafos, novos olhares para poderem continuar atribuindo sentido às suas feições e não se iludirem com o discurso da globalização.
Uma crítica possível a este interessante relato parece-nos concretizada na insistência de determinar inícios e nacionalidades aos conhecimentos produzidos durante o extenso espaço de tempo explorado pelo escritor em seu curto e denso texto.
Resenhista
Magali Gomes Nogueira – Doutora em Geografia Humana/USP.
Referências desta resenha
FARINELLI, Franco. A invenção da terra. Trad. Francisco Degani. São Paulo: Editora Phoebus, 2013. Resenha de: NOGUEIRA, Magali Gomes. A Invenção da Terra de Franco Farinelli. Terra Brasilis (Nova Série), 4, 2015. Acessar publicação original
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